Fernando Pereira 2/1/2011
No dealbar dos anos cinquenta, com a alteração do léxico oficial de colónia para ultramar, iniciou-se por todo o território de Angola, um ritmo diferente de construção de equipamentos públicos que salvaguardariam as necessidades de novas grupos de colonos, que pudessem ajudar a perpetuar a presença de Portugal em África.
A construção acelerada de algumas escolas primárias, fez com que o então ministério do Ultramar recorresse ao modelo padronizado das escolas do “Centenário”. Esse modelo, foi uma adaptação da habitação portuguesa, essa criação peregrina do arquitecto Raul Lino (1879-1974), passando para o que vulgarmente se designa de desenho português-suave. Portugal inteiro tem polvilhadas escolas com estas características, pois começaram a ser construídas para comemorar um conjunto de três centenários glorificados pelo corporativismo salazarista (1140- data da fundação de Portugal, 1640-data da recuperação da independência de Portugal e 1940 – data da Exposição do Mundo Português).
Em Angola importaram-se estes modelos, e em Luanda ainda existem algumas nomeadamente a do Município e a da Av. do Hospital (1º Congresso), com essas características, que realmente se adequavam ao rigor dos invernos europeus, mas que nada tem a ver com a canícula tropical.
Já que se fala nos “centenários”, não deixa de ser bizarro o “enorme esforço de reconstrução de todos os castelos e fortalezas de Minho a Timor” feito por Salazar para enfatizar as comemorações dos 800 anos da fundação de Portugal.
Mandou esculpir milhares de pedras de granito em que dizia: “Este monumento foi restaurado em 1940” e mandou-o colocar em todas as fortificações. Em Massangano, Cambambe, Luanda e Namibe, lá está a pedra que “unia o Império”.Na maioria dos monumentos não se fez rigorosamente mais nada, e assim pôde dizer que foi feita uma intervenção em todo o lado.
Já que se fala em esculpir, soube que faleceu em Curitiba onde se instalou em 1979 Octávio Nascimento Canhão Bernardes (1919-2010), que deixou obra escultórica de grande qualidade particularmente no Lobito onde vivia, havendo registo de trabalhos em Benguela, Sumbe, Huambo e Bié. Economistas de formação, a qualidade das suas peças escultóricas não deixavam transparecer a sua aprendizagem autodidacta. “Caminhante” e o “Poeta”na Restinga, a “Sereia” na baía e “Cavalo Esvoaçante”, em frente ao aeroporto, perpetuam um trabalho muito rico de um homem que nunca recebeu nada em troca.
Vou ouvindo, vendo e lendo que já anda aí na forja mais uns estudos para novos planos gerais de reabilitação urbana da nossa cidade capital. Talvez seja mais um pagar um balúrdio a umas empresas, e no fim os resultados da grande maioria dos estudos em Angola em diversas áreas volatilizam-se e encomendam-se outros!
No final dos anos sessenta, foi feito um Plano Geral de Urbanização da cidade de Luanda por uma empresa francesa, que ao tempo levou ao governo provincial cento e cinquenta mil dólares, para além de outros gastos como alojamento, transportes, seguros e outras alcavalas. Era muito dinheiro para a época, mas na realidade era um plano muito sério, e que previa que Luanda tivesse 2.000.000 de habitantes no ano 2000, o que de facto veio a acontecer. Esse plano foi rejeitado pela pressão imobiliária, e logo apareceram uns arquitectos portugueses a alterar o plano em benefício naturalmente da pressão dos proprietários dos terrenos, muitos deles subtraídos de forma ilícita a famílias angolanas prestigiadas.
Não sou arquitecto mas para Taveiras e quejandos rejeitarem esse projecto parto do princípio que era capaz de não ser um mau trabalho, e poderia servir de base para alguma coisa que ainda fosse possível salvaguardar numa planificação assertiva de edificação de uma Luanda minimamente aceitável para se viver.
Bom Ano de 2011 para todos vós!
Fernando Pereira 2/1/2011
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