15 de junho de 2018

Nem prós nem contras / O interior/ Guarda 15-6-2018




Há cerca de quinze dias aceitei “violentar-me” e eis-me a ver o “Prós e Contras”.
Em relação ao programa deixei há muito de ter reservas, ultrapassei a fase pueril e deixei pura e simplesmente de ver. A jornalista que conduz o programa tenta dar uma imagem de moderadora, até ao momento em que os intervenientes estão em desacordo com o que ela julga que pensa, e vai daí entra num estado de “mordedora”, não conseguindo disfarçar a sua opção de classe, no caso falta dela!
Como estava de sobreaviso, a falta de qualidade do programa acabou por nem me surpreender e, sinceramente, se o “movimento pelo interior” estivesse à espera que este espaço sensibilizasse uma ou outra pessoa para algum problema do interior desengane-se. A pobreza da quase generalidade dos argumentos colocados num espaço de “prós e prós” deixaram grande maioria dos poucos que o viram defraudados, por mais baixas que fossem as expectativas sobre o programa.
Desvou repetir a ladainha que ocasionalmente vou debitando nas intervenções publicadas, acho que nem assumem foros de pública, mas o interior está enterrado há décadas e por isso assumido no quadro mental do português embora ninguém goste de o partilhar publicamente.
Pode haver muito boa vontade, sucessivas reuniões, discursos e cerimónias de circunstância, porventura uma ou outra medida avulsa, o essencial é o que cá vivemos e a única visibilidade que temos são fruto de tragédias como o fogo ou, no Inverno, quando aparecem uns jornalistas a perguntarem às pessoas se está frio, ou como é a sua vida com neve! Acresce a isto os estafados discursos de governantes, autarcas e “comentadeiros” de serviço sobre uma causa que rapidamente desabraçam!
Para se ter uma ideia da contínua degradação a que isto está a chegar dou este exemplo vivido a cores e em direto: estou a escrever este artigo num Intercidades que invariavelmente sai atrasado da Guarda, sem água nas casas de banho imundas, e outros pormenores com que a CP brinda quem paga! Este serviço quando começou há vinte anos demorava ao tempo vinte minutos menos que hoje, no mesmo percurso entra a Guarda e Lisboa!
Portugal é um interior profundo, salvo o Porto (estendido a Aveiro e Braga) e a macrocéfala Lisboa, capital do “Impériosinho” (inclui Setúbal, uma parte do distrito de Santarém e um pouco acima das emblemáticas Linhas de Torres das Invasões Francesas).
O interior precisa de gente pois, mas só uma indesejada desgraça com a comunidade portuguesa na Venezuela ou África do Sul pode dar uma ténue esperança ao repovoamento deste vasto território, fora de Lisboa onde até as decisões mais comezinhas acontecem, excetuando o título de campeão nacional de futebol que o meu Futebol Clube do Porto resgata para dar algum valor ao resto do país.
Um movimento de africanos ou do Médio Oriente seria uma solução, mas os locais olham-nos com relutância, esquecendo as suas convicções cristãs e a herança de povos ancestrais que deixaram saber nas terras que hoje habitamos, e que ainda vai fazendo parte do nosso quotidiano de ruralidade.
Era bom que se deixasse o folclore politiqueiro e deixemo-nos de pedir centros de decisão no interior. São importantes boas decisões sobre o interior, mas isso é algo que nos fomos desabituando há muito e mesmo os eleitos, melhor elegidos, por cá fazem o jogo dos que são sufragados pelos de lá e no fim demagogisa-se tudo!
Quando na emblemática Serra da Estrela, concessionada sem critério a privados, em fins de semana de enchente julgando estarmos em plena 2ª circular em Lisboa, vemos à venda pantufas de Alcanena, queijo de Sever do Vouga, pólen da China, varas de Loures, entre outras bizarrias, tudo com o pomposo nome de “produto regional”, estaremos mesmo à espera que mude alguma coisa?
Voltando ao programa, não queria deixar de perguntar que estava lá a fazer aquela plateia de eleitos (o Bispo é nomeado) tipo “feira de vaidades”, com nula ou irrelevante intervenção no debate!
Até ver, tudo de pouco que tem mudado é para ficar tudo rigorosamente na mesma!

 Fernando Pereira
10/6/2018

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