12 de abril de 2012
Requiem por tudo e também por nada!
Requiem por tudo e também por nada!
Passámos do que estava para o que está. O que estará pode vir a ser aquilo que esteve. Se continuar o estar em vez do ser.
Já agora, Zweig no seu belíssimo O Mundo em que Vivi, que “é mil vezes mais fácil reconstruir os factos de uma época do que a sua atmosfera emocional”.
Vivemos simultaneamente o entediante espetáculo da politiquice serôdia e a desesperança num amanhã que a maioria acreditava ser diferentemente melhorado, nem que fosse apenas nas nossas férteis imaginações coloridas por telenovelas e anúncios que nos transportariam para quimeras de planuras sem obstáculos de tomo.
Por convicções políticas fui um dos que aderi às célebres e tão maltratadas campanhas de dinamização cultural do MFA, no distante ano de 1975. Fi-lo com a afirmação plena que o que estava a fazer era correto e mais razão me foi dada quando me embrenhei num interior de um Portugal que era tudo exatamente igual ao que no exterior era mostrado à saciedade.
Quando vi gente empenhada em aprender, pessoas que viram teatro, cinema, e outras manifestações culturais a primeira vez na vida ficávamos com a sensação que tudo viria a ser diferente. Muitos portugueses viram um médico pela primeira vez e acima de tudo sentiram que todos tentámos partilhar a ternura de um futuro que se queria definitivamente rompido com o passado.
Não o quiserem certas forças, apoiadas pela sordidez de alguns arautos de instituições milenares que se diziam donas da consciência dos cidadãos. A forma soez como foi tratada tanta gente de caracter, solidária e coerente na sua prática política sentir-se-ia hoje “desforrada”. A realidade que se vive no presente era o que nesse tempo se combatia, e as angustias de alguns são hoje partilhadas pela maioria da população.
Infelizmente, hoje estão no poder os filhos dos que armadilharam e boicotaram esses tempos de liberdade plena, onde se discutia quem devia deter as empresas produtivas, a banca, os seguros, as autoestradas, as gasolineiras, as terras e outras estruturas desmanteladas e desmazeladas pelos muitos que hoje se arrogam patrimónios da democracia. Hoje discute-se mais ou menos isso, mas com o aparelho produtivo quase aniquilado, uma agricultura que só residualmente produz para abastecer o mercado interno, umas pescas que desapareceram no País que tem a segunda maior área marítima exclusiva da Europa, em suma discute-se vamos vender uma empresa estratégica a Alemães, Franceses, Angolanos, Chineses ou aos habitantes permanentes da Disneylândia.
Sinceramente hoje já pouca coisa me indigna, porque na realidade por mais que o baralho mude de mão o jogo é o mesmo, e é-me completamente indiferente que acabem com freguesias, concelhos ou outras estruturas desconcentradas da administração central nas capitais de distrito, porque bem vistas as coisas a sociedade está moldada para que cresça o individualismo, construído meticulosamente pelos que destruíram o 25 de Abril de 1974.O poder foi legado aos seus herdeiros, que aparecem tipos “Grilo Falante” nos areópagos onde supostamente o cidadão julga que se decide tudo, e que não são mais que serventuários dos que sempre tiveram mão no pote.
Para termos ideia do que é a estratificação de uma sociedade e os seus códigos pego no exemplo do exército suíço, só o padeiro sabe que fardado, o universitário lhe é superior, à paisana é seu cliente.
“Se o homem nasceu livre, deve governar-se; se ele tem tiranos, deve destroná-los.” Voltaire
Por: Fernando Pereira
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