18 de fevereiro de 2011
Amiúde não é pedofilia/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 18-2-2011
Amiudadas vezes tenho muitas divergências com o Carlos Pacheco, mas acompanho com interesse a sua colaboração regular em jornais, revistas ou artigos avulsos publicados na blogosfera.
Reconheço mérito a Carlos Pacheco, e se eventualmente algum dia conseguir despir o seu anti-MPLA ao nível do obsessivo, penso que estamos perante um valoroso historiador de uma história contemporânea de Angola que precisa de muitos autores para explicar poucos actores e cenários políticos, económicos e ideológicos tão diversificados.
O seu último livro, já saído no finar de 2010, “Angola, um gigante com pés de barro”, e que só agora tive oportunidade de ler, é uma desilusão principalmente para quem lê o “Publico” diariamente como é o caso desde o número um, aguentando mesmo alguns dislates de alguma orientação jornalística em determinados momentos. O livro, editado pela Nova Vega, do Assírio Bacelar, fundador da Assírio e Alvim e proprietário da saudosa “Compendium”, a primeira editora dedicada inteiramente à educação física e desporto na segunda metade dos anos 70 em Portugal, que muito me valorizou.
Correndo o risco de me repetir tenho a convicção que o Carlos Pacheco tem uma verve criativa, sincera e a sua abordagem da realidade angolana não tem cinismo nem procura agradar a clientelas. Parece-me inseguro nalgumas convicções, mas isso não invalida que lhe demos o mérito que alguns teimam em tentar tirar-lhe. O livro também não merece os hossanas que em Luanda certos sectores lhe fazem nalguns casos à saciedade.
Talvez nem tenha nada a ver com o assunto mas como a vida por vezes é chata, vem-me à lembrança uma anedota de Woody Allen, num daqueles livros do antigamente, editados pela Bertrand, “Para acabar de vez com a cultura”. «Duas senhoras estão num restaurante, uma diz “ A comida aqui é péssima”, e vai a outra: “pois e ainda por cima as doses são pequenas”». Uma frase deliciosa da sua lavra: “Não sei se há vida depois da morte, mas sei uma coisa: Há morte depois da vida”
Esta semana comemoraram-se os cinquenta anos da Renault 4, mostrada ao mundo pela primeira vez no Salão Automóvel de Paris em 1961, muito antes de lá ter sido rodado”Trafic”, penúltimo filme de Jacques Tati (1907-1982), incontornável figura do cinema de humor francês do pós-guerra.
A R4 começou a ser montada em Angola no dealbar da década de setenta em Viana, num acordo com o representante Alfredo F. Matos, que tinha o stand e oficinas na Av. Rainha Ginga. Com a independência do País e o confisco da firma a Renault mandou alguns dos técnicos da empresa a estagiar na Guarda, Portugal. A verdade é que essa linha de montagem em Viana contribuiu com algumas das 8.135.424 que foram montadas no mundo, que são um ícone dos anos sessenta e setenta, e ainda hoje automóveis confiáveis.
Eu fui beneficiado com uma, numa daquelas distribuições habituais, que entretanto se começaram a tornar demasiado inabituais, e o que posso dizer é que nunca me deixou apeado em atalhos, veredas, lamaçais, zonas de ocupação da UNITA, poeirais, buracos urbanos ou alcatrão doce.
Na Secretaria de Estado dos Desportos houve uma distribuição de viaturas, mas como era responsável e dirigente (confesso que nunca percebi se alguém podia só ser uma coisa, porque as duas era responsabilidade a mais para certa gente!) já tinha um LADA, que volta e meia me deixava apeado apesar de não partilhar o anti-sovietismo primário de muitos camaradas meus. Tinha o LADA, que me dava estatuto e deixava-me apeado, e um colega meu neófito no organismo teve direito a uma R4 nova.
Como tinha um perfil mais adaptado a dirigente, propôs-me a troca e eu prontamente acedi sabendo antecipadamente que iria descer de estatuto, mas iria ficar muito menos vezes apeado.
Passados uns tempos numa reunião de um conselho consultivo restrito do ministério, o tema das insuficiências de transportes voltou à mesa, e o meu colega diz que” precisava de um carro porque tinha ficado com um que o camarada Fernando Pereira tinha já estragado”; Eu, sentindo-me despeitado informei que “ o camarada IK tinha querido um carro de dirigente e teve-o, nem que fosse para o empurrar!”; Burburinho na sala e o Rui Mingas teve que pacientemente pedir alguma contenção, e lá satisfizeram o dirigente pelos vistos não responsável no caso com uma R4 onde não brilhava tanto, mas sempre era mais confiável.
Uma boa companheira a Renault 4, que boas companhias transportou e muitas mais outras gostaria de ter transportado.
Como foi semana de dia de namorados, S. V. (Valentim ou Viagra) há uma frase lapidar que gostava de deixar a fechar o texto: “Deitar cedo e tarde erguer boa companhia há-de ter”!
Fernando Pereira
15/2/2011
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1 comentário:
Fernando Pereira
de vez em quando lá vais fazendo,sem querer,apologia do estado fascista,colonialista ou lá como o queiras denominar.
Com que então,os colonos tacanhos tinham uma grande linha de produção de automóveis em Angola?
O meu pai também teve uma 4L,aquilo é que era um carro de guerra,da Gabela aos quatro cantos de Angola não havia pai para ela.
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