5 de dezembro de 2008

Morreu Michel Laban – importante estudioso da literatura lusófona/ Novo Jornal/ Luanda 5/12/08






Há algum tempo que se aguardava este infeliz desenlace, pois Michel Laban já se encontrava doente há uns tempos, pelo que o seu falecimento em 25 de Novembro, não foi surpresa para ninguém.
Aos 62 anos, Michel Laban deixa a literatura africana de expressão oficial portuguesa mais pobre, com a sua morte em Paris.
Nascido na Argélia, em Constantine, formado pela universidade de Argel em literatura geral, e em Paris em espanhol e português. Foi professor de francês em Lima no Peru, de espanhol no Norte de França e a partir de 1974 é professor de português num liceu de Paris. A partir daí, começa a dar aulas de tradução na escola onde faz todo o seu percurso académico como professor de literatura africana de Expressão Portuguesa, na Universidade de Paris III.
Numa equipa da UNESCO, desloca-se a Angola inserido num programa de formação de professores do ensino secundário em Luanda e no Huambo, em 1977 e 1978.
Foi através de Luandino Vieira, que Michel Laban se começou a interessar e a divulgar a literatura africana de expressão portuguesa, pois em 1979 apresentou na Universidade de Paris IV, uma tese sobre “A obra literária de Luandino Vieira”, tendo traduzido para francês algumas das suas obras, iniciando-se com o “No Antigamente na Vida”, para a reputada editora Gallimard.
A primeira vez que tive contacto com ML, foi através de um trabalho das edições 70, de Maio de 1980, com o título “Luandino- José Luandino Vieira e a sua obra”, em que faz uma entrevista excelente, e que dá a conhecer facetas do Luandino que pouca gente conhecia, e através dele percursos de pessoas, que não aparecendo na primeira fila da historiografia presente de Angola, foram determinantes no êxito da sua luta, e irão certamente ter o lugar merecido, num contexto histórico futuro da independência do País.
Numa iniciativa notável, a Fundação Engº António Almeida, com a colaboração da Elf, da embaixada angolana na UNESCO, ao tempo como embaixador, o saudoso Domingos Van-Dunem e da UEA, sairam dois volumes com o título “Angola, Encontro com Escritores” (1991), em que Michel Laban faz uma entrevista ao conjunto dos mais importantes escritores angolanos, nascidos em toda a primeira metade do século XX.
Esta obra, há muito esgotada, é indispensavelmente uma das melhores fontes para todos os que se interessem pela literatura e história contemporânea de Angola, feita com uma seriedade partilhada entre Laban e os seus entrevistados.
A partir desta obra,ML partiu para outras obras do tipo “Encontro com escritores” englobando autores de Moçambique e Cabo Verde, trabalhos feitos entre 1991 e 1998.Atrevo-me a dizer que Michel Laban com este trabalho ombreia com o “Reino de Caliban” de Manuel Ferreira e “A Noite grávida dos punhais” de Mário Pinto de Andrade, que são as “selectas literárias” de dimensão maior da poesia africana de expressão oficial portuguesa.
Para além da direcção do departamento de literaturas africanas de expressão portuguesa na universidade de Paris III, Laban era tradutor de muito escritor lusófono, entre eles José Cardoso Pires, Germano de Almeida, Pepetela, Luis Bernardo Howana, Graciliano Ramos, para além do já citado Luandino.
A melhor homenagem que lhe pode ser feita nesta hora de desenlace, é esperar que se veja continuado o seu trabalho.

Fernando Pereira 1/12/08

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