27 de agosto de 2010

É preciso acreditar/ Ágora/ Novo Jornal / Luanda 28-8-2010



Quotidianamente na comunicação social angolana, o enfoque é sobre situações bizarras, nepotismo exacerbado, desmandos de mandos públicos ou atitudes que promovam nemésicas situações.
Eu próprio me sinto muitas vezes tentado, a falar do que é quase óbvio na sociedade angolana actual, transformar algo em notícia e ser relevada. Raras vezes, falamos do que de Angola tem de extraordinariamente bom, e que nos faz acreditar no País, como o fomos fazendo ao longo de três décadas e meia. Simone de Beauvoir, dizia apropriadamente sobre uma situação semelhante: “ É horrível assistir à agonia de uma esperança”!
Isto tudo vem a propósito de uma notícia que me “encheu as medidas” esta semana, e que tem a ver com a redução dos casos de tuberculose para metade do ano transacto, o que é motivo de grande orgulho para todo o angolano, já que merece uma referência destacada por parte da OMS. Os nossos “profetas da desgraça”, olham com desconfiança para os números, mas eu estou-me pouco importando, quero acreditar que é verdade, porque Angola tem muita gente de grande valor, que não anda pelo jet-set, pelas festas pejadas de opíparos sabores, circunstanciais paixões e odores desinspirados.
Ao longo do tempo, houve investimentos na saúde das populações de Angola e os esforços nalguns casos foram assinaláveis, embora também haja o reverso da medalha.
Aqui há uns tempos ao ler o livro de Miguel Pinto Pereira, editado em Portugal pela “Sopa das Letras”, com o título “O ano em que devia morrer”, mostra quão inequívoco foi o investimento de Angola no recrutamento de médicos, enfermeiros e paramédicos no dealbar da independência, e acima de tudo quais os esforços que foram feitos para combater a poliomielite entre as crianças. É um depoimento insuspeito, de um médico cubano, que descobre a sua “Litlle Havana” no Lobito, pois começa e acaba o livro num sistemático ataque à Cuba que emerge com Fidel de Castro. Acho que poucos angolanos se deram conta desse esforço, mas é importante realçá-lo, principalmente em tempos em que tudo é mais fácil, e certas coisas facilitadas, o que também não é muito bom!
Gosto muito de notícias destas, como gosto de ver esforços na construção de escolas, bolsas de estudo no exterior e um apoio maior às famílias para que o sucesso do País no futuro, seja fruto do investimento que tem sido feito, embora por vezes de forma descontinuada, por razões conhecidas.
Em 1979, o ano foi dedicado à Formação de Quadros em todo o País. O então partido único MPLA-PT, decidiu que o governo, apesar da guerra, devia levar a educação de forma generalizada a todo o País e toda a população.
Seguindo o critério, alicerçado no método de Paulo Freire (1921-1997), educador brasileiro da célebre “Pedagogia do Oprimido”(1970) e “Educação como prática da liberdade” (1967), de que quem sabia mais, mesmo que fosse pouco mais, devia ensinar quem não sabia nada, conseguiu-se levar a alfabetização aos mais recônditos lugares de Angola, o que valeu ao País um prémio da UNESCO pelo combate pela elevação cultural dos cidadãos, no fim dos anos 70.
Nesse ano de 1979, quando o dólar era eternamente cotado a 29, 622 Kz, acordou-se com Portugal o envio de 2446 professores para o II e III nível do ensino de base, a ordenados que variavam entre os 45.000Kz e os 60.000Kz,direito a transporte, uma viagem anual paga, casa mobilada e equipada, e transferência de 50% do ordenado em dólares, para além de loja especial (quem não se lembra da Padaria Lima, transformada em loja do cooperante?). Não falo aqui dos acordos para professores universitários, mas em breve fá-lo-ei, porque estou suficientemente documentado para o fazer.
Vale pois a pena recordar, que Angola não é propriamente um espaço frequentado pelos irmãos Dalton do Lucky Luke, essa imorredoira BD do Morris e Goscinnye.
Já agora não esqueçamos Augé (2001): “ A memória e o esquecimento são solidários, ambas necessárias ao pleno emprego do tempo”!

Fernando Pereira
24/08/2010

20 de agosto de 2010

O Colonialismo nunca existiu!/Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 21-8-2010



“Sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia”
Eça de Queiroz


Saiu recentemente um livro do jornalista e escritor cabo-verdiano José Vicente Lopes, nascido na cidade do Mindelo em 1959, Tarrafal- Chão Bom, Memórias e Verdades (II Volumes). Editado pelo Instituto de Investigação e do Património Culturais, (2010).
Li o livro, e na realidade estamos perante mais uma tentativa, ainda que dissimulada de branquear o fascismo e o colonialismo.
Em dois volumes, e apesar de ter ficado com a convicção que é um trabalho valoroso, na busca de alguma seriedade, acaba por centrar grande parte do leitmotiv do sua pesquisa, no relatório das visitas da Cruz Vermelha Internacional ao tenebroso Tarrafal, símbolo maior da repressão do colonial-fascismo português desde a década de 30 do século XX.
Contraria milhares de depoimentos escritos e gravados ao longo de mais de trinta e cinco anos, e no caso de Angola contraria os minuciosos trabalhos de Dalila Cabrita Mateus, “Memórias do Colonialismo e da Guerra” ASA (11-2006), ou a PIDE- DGS na Guerra Colonial 1961-74, edições Terra Mar (5-2004). Mendes de Carvalho, em várias obras e depoimentos, centenas de outros em boletins da MUNAF, e outros que conheço, e por lá passaram muito mal não mereciam esta afronta.
O Tarrafal era para uns observadores suíços, que não falaram com os prisioneiros um ressort de luxo! Enfim… Comparados com prisões africanas era um paraíso! Desculpem mas já agora cumpre-me perguntar ao autor deste panegírico de prisões, se alguém perguntou que delitos tinham os tais” beneficiados com prisão em local paradisíaco”,e o que é que objectivamente tinham feito! O único crime que cometeram foi o de delito de opinião, e por apoiar a independência dos seus países sob tutela do colonialismo português.
Começo a ficar um pouco farto desta “lavagem “ do que foi o colonialismo, de que nem Portugal nem as colónias tinham culpa.
O José Vicente Lopes parece não ser suficientemente crescido, para perceber que a uma missão da CVI, ou outra estrutura internacional que fosse a uma prisão com as autoridades coloniais, era muito fácil sair ludibriada, e nem precisavam de lhe enviar umas meretrizes aos quartos do hotel, para que a infidelidade no relatório fosse tão grande.
O José Vicente Lopes, pegue no “Alvorada em Abril” do Otelo Saraiva de Carvalho, e veja como ele explica como é que os jornalistas estrangeiros, e os observadores da ONU, foram a Madina do Boé, em plena Guiné Bissau, sem nunca saírem dum périplo de 40km ao redor de Bissau!
José Vicente Lopes, olhe que anjos há nos altares, e a maior parte das vezes estão cheios de pó e teias de aranha!
Não há prisões boas para prisioneiros de consciência. A gente que “Tarrafalou”, foi gente que queria que a sua terra tivesse um percurso coerente, com a história contemporânea, e Adriano Moreira e todos directores do Tarrafal, mais não foram gente que não merece a menor comiseração, por muito bons chefes de família que fossem, e talvez mesmo benfiquistas e tementes a Deus.
Penso poder dizer-vos que estão perante um livro a evitar!
Recebi um convite para o lançamento do livro de Leonor Figueiredo, com o título de “ Sita Vales – Revolucionária, Comunista até à morte”.
Conheci Sita Vales, e lembro-a como uma mulher notável, inteligência brilhante, combativa, algo sectária, determinada como poucos, e sempre lamentei o seu precoce desaparecimento, para além da forma hedionda como ocorreu. Nada, mas rigorosamente nada, vale mais que a vida de uma pessoa, e embora divergente nalgumas posições, o seu desaparecimento ainda faz sangrar o coração dos angolanos, e ainda hoje me lembro dela, com um lindo sorriso de esperança numa Angola sonhada para ser diferente. Era muito bonita a Sita!
Não vou ao lançamento, porque acho que a Sita Vales merecia melhor biógrafa, que a autora de uma estulta obra: “ Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, e porque mereceria melhor editora que a “Aletheia”, uma editora do tipo “Perspectivas e Realidades” com saias!
Que me desculpem, mas o Colonialismo existiu e as marcas ficaram, e desapetece-me um dia ir visitar o Crown Plazza Tarrafall!


Fernando Pereira
20/8/2010

14 de agosto de 2010

Subterraneos da Liberdade/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 14-8-2010



Fiquei muito agradado, quando constatei que a editora D. Quixote, reeditou os “Subterrâneos da Liberdade”, trilogia escrita por Jorge Amado (1912-2001) em 1954, e que se assume como denúncia, e a consequente luta do povo brasileiro, contra a ditadura fascista de Getulio Vargas.
Um conjunto de três livros, “Os Ásperos Tempos”,” A Agonia da Noite” e “ A Luz do Tunel”, exalta-se a vivacidade com que se descreve a luta e a organização do PC Brasileiro, a prisão e a tortura que sofrem os oponentes ao “Estado Novo” de Vargas e a construção da esperança num Brasil livre e mais equalitário.
Um romance que irradia optimismo, mesmo naqueles sombrios anos em que as ditaduras proliferavam na América Latina, e encerra uma força, que faz dela uma obra de referencia para todos que a leram, e que a releram, como foi o meu caso.
As personagens deste entusiasmante romance, são pessoas que todos sabemos quem são, desde o próprio Jorge Amado a Oscar Niemeyer, Lúcio da Costa e Luis Carlos Prestes, Ary Fontoura, Olavo Bilak, entre alguns outros.
Inegavelmente, é uma obra com uma carga ideológica marcada por matizes de certa forma desusadas no quadro político contemporâneo, mas não deixa de ser um documento arrebatador de um quadro de luta de uma geração, que através deste romance construiu e multiplicou muitas das suas vontades, engajando-se claramente nas lutas que irromperam pelo mundo, em prol da liberdade e da solidariedade.
Poucos da geração que precede a minha, não deixaram de o ler, e pedir-se que o releiam, ou entusiasmem outros a lê-lo, não será excessivo pedir, pois não deixa de ser corajoso por parte da editora, reeditar este romance, depois de trinta anos em pousio, no que concerne a edição.
Por falar em autores daquilo que Pepetela chamou a “geração da utopia”, seria da mais elementar justiça, que de vez em quando nos fossemos lembrando de pessoas, que parafraseando Agostinho Neto, “ as minhas mãos colocaram pedras nos alicerces do mundo/ mereço o meu bocado de chão”.
Há anos li de António Faria, um trabalho editado pela Colibri, sobre a Casa dos Estudantes do Império, espaço de intervenção política determinante, para a mobilização de pessoas e vontades na luta de libertação colonial.
Acompanhei algumas intervenções do cineasta e realizador de televisão António Faria, sobre outro “esquecido” da Angola libertada, Inocêncio da Câmara Pires, e talvez por isso acabei por comprar o seu romance de 1987, “A Emenda e o Soneto”, editado pelas Publicações Europa-América.
O romance, que hoje só já é possível encontrar num ou noutro alfarrabista, ou livrarias que adquiram fundos de edição, é todo um percurso de famílias que se estabelecem em Angola no dealbar da década de cinquenta, com as dúvidas e contradições inerentes a um colonialismo a que as pessoas não se afeiçoavam, mas dificilmente rejeitavam. A história já assume contornos diferentes quando os filhos são obrigados a vir estudar para Portugal, e aí as fronteiras ideológicas são bem mais definidas, e as imanentes roturas potenciam dramas irrecuperáveis na artificialmente sólida estrutura familiar.
Um romance interessante, com os condimentos simultâneos de um romance histórico e autobiográfico, a merecer que se perca (ganhando com isso) tempo, a procurá-lo em parte incerta.
Esta gente também fez Angola, e talvez ainda esteja disponível para fazer, a outro ritmo naturalmente, que as pernas já pesam!

Fernando Pereira
11/08/2010

7 de agosto de 2010

Fósforo-Ferrero/ Ágora / Novo Jornal / Luanda 7-07-2010





Não sei se as pessoas se lembram de um placebo, dos anos sessenta, que se chamava Fósforo-ferrero, e que tinha concorrência de uma coisa idêntica chamada Fosfo-glutiron?
Ali pelo final de Março, era habitual na farmácia Maculusso, onde minha mãe foi farmacêutica muitos anos, aparecerem as mães dos alunos a comprarem a dose certa destes “medicamentos”, para tomarem duas vezes por dia até aos exames em Junho.
Resolviam o problema se os alunos estudassem, se tivessem boas cunhas, mas não resolvia aos que definitivamente não abriam os livros, ou o faziam para colocar lá dentro o “Major Alvega”, “o Seis Balas”, “o Colt”, ou outras maravilhas que a Agencia Portuguesa de Revistas do Mário Aguiar distribuía, por Portugal e Colónias. Não havia sobras destas revistas, porque a Cilinha Supico Pinto, do Movimento Nacional Feminino (chegaram a ser conhecidas assim as Renaults 4 L, pela sua característica “manette” de velocidade) arrebanhava tudo para os tropas lerem. Era no mínimo ridículo, pois 67% da tropa portuguesa nos três palcos de guerra, apenas sabia assinar o seu nome.
Esta introdução longa q.b., é um pouco para exigir que a memória regresse a Angola, rapidamente e esforçada, porque o que vamos vendo é o desaparecimento das lembraduras, dos que ainda estão vivos para deixar histórias, factos, documentos e vivencias para o futuro trabalhar no que foi a vida colectiva de um País, nos seus anos de debute no contexto interno e internacional.
Numa das recentes crónicas neste espaço, defendi que Norton de Matos, devia continuar no lugar onde está, com buraquinho de bala e tudo, por razões já aduzidas. Já defendo que Pedro Alexandrino da Cunha volte para a peanha que está em frente aos Correios na baixa, independentemente de ter sido a primeira estátua em África, paga na totalidade, pelo conjunto de comerciantes da cidade de Luanda, por subscrição pública para um homem que foi governador de Angola entre 1845-48. A respeito desse governante, escreve o mestre do ISCS/UTL Doutor Antonio da Silva Rego, em sua História do Império Português:"...homem verdadeiramente providencial para a ocasião. A sua energia e iniciativa não tiveram dificuldade em convencer os portugueses de Angola que era necessário procurar na agricultura, comércio e indústria legítimo substituto para os duvidosos proventos da escravatura."
Em 1889 erigia-se a estátua de Pedro Alexandrino da Cunha, uma obra simples, naturalmente sem os tiques neo-clássicos da estatuária do Estado Novo, que não difere muito das estátuas do modelo típico dos arquitectos do país do “Grande Líder”, profusamente distribuídas pelo nosso País. Desculpar-me-ão o devaneio humorístico, mas todas as estátuas da Luanda actuais, parecem a de um base de basquetebol a indicar a jogada aos seus colegas! Era bom que a repusessem no local, pois nada teve a ver com autoridades coloniais, e recebeu encómios da sociedade crioula da Luanda colonial, ainda sem as “Ritices” e “Actos Coloniais” a perpetrarem segregações, que se perpetuaram até Novembro de 1975.
É absolutamente necessário explicar aos vindouros, como se fez um País, sem atavios que procurem adornar realidades, que não seja aproximada da versão angolana de Lewis Carrol(1832-1898) de “Alice no País das Maravilhas”.
O poeta irlandês Seamus Heaney quando soube que tinha ganho o prémio Nobel da literatura (curiosamente, a Irlanda tem três prémios Nobel da literatura!) felicíssimo, ligou à mulher: “Querida, ganhei o Nobel! o Nobel!”, ao que ela responde: “Parabéns, já têm uma boa desculpa para te ires enfrascar com os teus amigos”. O pobre do Seamus, “mas querida é o Nobel…”, e ela imperturbável:” Pois, pois, a tua sorte é que a Academia Sueca não te conhece como eu te conheço!”
Não tem nada a ver com o artigo, mas esta história é verdadeira, e às vezes o que se escreve não é!
Fernando Pereira
1/8/2010

30 de julho de 2010

Portanto /Opinião / Novo Jornal/ Luanda/ 31-7-2010




Portanto, estou agradavelmente surpreendido, pela homenagem que o Pepetela e o Ruy Mingas vão ser justamente homenageados na Chá de Caxinde.
Como começo a ser um articulista com alguns leitores, acho que como o Pepetela, tenho o pleno direito de começar um artigo com o “Portanto”, mesmo que isso não esteja contemplado nas regras gramaticais do português escorreito.
Homenagear dois cidadãos impolutos, intelectuais eméritos, antigos dignitários do estado Angolano, combatentes pela liberdade, e embaixadores mores da cultura angolana, é só um acto de justiça tardia.
Homens da “geração da utopia”, ajudaram a trilhar o dealbar de uma Republica Popular de Angola, que foi o princípio do fim de uma nova luta, protagonistas de uma expressão colectiva, construída a golpes de vontade.
Pepetela com a verve, Ruy Mingas com a música e a voz, foram em todos os momentos, bons e maus, a expressão do que pensava e sentia a gente certa.
Pepetela é hoje o mais renomado escritor angolano no contexto da contemporaneidade internacional, e um dos mais prodigiosos da escrita de língua portuguesa. O seu percurso prima pela descrição, quase a pedir desculpa por ter publicado um livro, o que vai de encontro à sua personalidade de assumida simplicidade, que o acompanha desde a sua meninice na Benguela onde nasceu há quase setenta anos, segundo relatos de companheiros ao longo de um rico trajecto de vida na busca e defesa da liberdade para o seu País. Ao invés de outros, que tudo fazem para serem conhecidos, e daí que talvez leiam os seus livros, com Pepetela acontece exactamente o contrário, algo como, leiam os meus livros e deixem-me no meu canto.
Tenho mais dificuldade em falar do Ruy Mingas, porque sou suspeito, já que sou seu amigo, e sei que é uma amizade recíproca.
Lembro-me de ter estudado em Lisboa no fim dos anos 60, e nas disputas entre mim, um dos raros angolanos no vetusto Liceu Camões, e os portugueses, nas provas de atletismo, assumíamos o que hoje se chama de “nick name”, e o meu era invariavelmente o de Rui Mingas, quer fosse nos 100m, no dardo, nos 1500m, ou no salto em altura; Só mais tarde soube que tinha sido recordista do salto em altura.
Foi com enorme emoção que o vi cantar no Zip Zip, com uma camisola de lã clara, e na altura comprei um single, que nas voltas da vida me desapareceu, que tinha a magnífica interpretação da Cantiga para Luciana, naquela voz timbrada que me habituei a ouvir de forma agradada.
Se maior contribuição não houvesse do Ruy Mingas, o hino de Angola perpetuá-lo-ia como uma figura presente na história do País, mas a sua contribuição para a edificação de uma educação física e desportos com estruturas sólidas e resultados com enorme visibilidade, dão-lhe um lugar de grande reconhecimento, pelo que tarda a justa homenagem ao grande cabouqueiro de muitas modalidades que Angola é líder africana e respeitada nos areópagos internacionais.
O seu trabalho como embaixador de Angola em Portugal, em momentos particularmente difíceis, vilipendiado até por próximos, terá que ser avaliado no futuro, de forma a aquilatar quais os obscuros desígnios, que alguns dos seus detractores usaram, de forma a armadilhar o seu trabalho, sério e coerente com os valores que o Ruy Mingas se habituou a defender, desde os tempos do anonimato.
A sua passagem pelo ministério da cultura, foi o canto do cisne da sua longa carreira no topo da administração central do Estado Angolano, e aí talvez tenha percebido, que era chegado o momento de outras realizações.
Ruy Mingas, com o meu compadre e amigo Paulo Murias, edificaram a Universidade Lusíada de Angola, projecto de suprema relevância na formação de quadros dos novos tempos de Angola.
Aos setenta anos, o Ruy Mingas tem razões de sobra para estar em paz consigo, já que nunca se violentou, nem tampouco procurou fazer mal a quem que fosse.
A homenagem que fazem a estes dois vultos da cultura angolana, tem uma enorme expressão, apesar da singeleza da realização. Talvez mesmo ambos assim o desejem, e mesmo a maior parte dos amigos prefere que assim seja!
Portanto…
Fernando Pereira
26/07/2010

Generais Cerveja/ Ágora/ Novo Jornal / Luanda 31-7-2010



Casualmente tropecei, é o termo mais adequado, no meio de um conjunto de revistas e jornais do fim dos anos cinquenta ao dealbar dos anos sessenta.
Disponho-me a gastar horas, a folhear uma panóplia de títulos ilustrativos, como se via o mundo há cinquenta anos.
Entre algumas revistas, demorei-me a ler a descrição de Raymond Cartier (nada tem a ver com perfumes, jóias e outro pechisbequismo da moda) no Paris-Match de 23 de Julho de 1960, sobre a independência do Congo, com um título adequado à linha editorial chauvinista desta revista: “Au Congo la chasse aux blancs”. Ilustrado com dois militares congoleses armados a perseguir um talvez colono belga.
Há mais intervenções dos correspondentes do Paris-Match nesses meses do antes e após o 30 de Junho de 1960, independência da Republica do Congo, num contexto onde avultou a frase mais marcante da história africana das independências:“Nous ne sommes plus vos singes” (“Nós não somos mais vossos macacos”), disse o primeiro-ministro do Congo, Patrice Lumumba, ao rei Baudoin, da Bélgica, no dia da independência do país, 30 de junho de 1960.
Baudoin, nesse dia, proferira um dos mais arrogantes discursos já ouvidos de um colonizador. Na então Leopoldville (hoje, Kinshasa), o rei belga fizera uma elegia à “genialidade” de seu tio-avô, Leopoldo II – que em 1885, por cima até do Estado belga, tornara o Congo uma fazenda pessoal, com sua população como escravos.
O discurso de Lumumba foi um dos mais irrecorríveis libelos já pronunciados contra a escravidão, o racismo e o colonialismo: " A independência do Congo, hoje proclamado , de acordo com a Bélgica, um país amigo com o qual lidamos em uma posição de igualdade, foi conquistado por uma luta diária , uma ardente e idealista luta, uma luta na qual não faltaram as nossas forças, nossas dificuldades , nosso sofrimento (...) e nosso sangue , e estamos orgulhosos disso. Foi uma luta justa e nobre, a luta necessária para acabar com a escravidão humilhante que nos foi imposta pela força. ".
Ideologicamente tenho pequena uma costela de Lumumbista, ainda que tardiamente descoberto, e mais cedo que tarde, irei colocar aqui todos os documentos que provam o envolvimento da CIA no seu vil assassinato, agora que a administração americana resolveu abrir os documentos confidenciais e reservados à consulta publica e ao conhecimento dos cidadãos. Um exemplo a seguir noutras paragens e apeadeiros!
Por vezes, qual rato dos papeis, pego em determinado material vem-me à lembrança muitas vivencias, quer de pormenores, difusos na poeira dos tempos, quer o recordar conversas dos mais velhos que escutávamos nos tempos em que não havia TV, disco, cassete pirata, cd, dvd, internet e outras modernidades.
Apesar de ter nascido em Luanda, na Casa de Saúde, hoje “ Maternidade Augusto Ngangula”, os meus primeiros anos foram vividos no Songo, uma simpática terra do mato, perto do Uíge.
Era muito miúdo, mas lembro-me de ver gente branca, que falava uma língua despercebida por mim, a passar lá na nossa bwala e a contar coisas, que deviam ser graves, pois a minha mãe impôs-me um horário de recolher inabitual, mesmo nas faldas da serra da Kinanga. A minha mãe era farmacêutica, e dominava bem o francês, pois era a língua da moda, nos seus anos de estudo na distante Coimbra, onde se licenciou, e foi a tradutora oficial de uns quantos casais belgas, com filhos de uma alvura de pele que me surpreendeu. Procuravam chegar rápido a Luanda para irem para a Europa, onde só se confrontassem com negros, no “Tintin em África”, o Hergé mais racista de toda a BD conhecida! Estavam em transe, e qualquer menção a preto deixava-os num estado de indisfarçável preocupação e não iludiam alguma taquicardia; Tiveram sorte em nossa casa, os mosquiteiros eram de uma alvura impecável!
Passados uns poucos anos, e já a viver em Luanda, menos acriançado, lembro-me de ver o Bob Denard, com a cabeça entrapada, numa mesa do “Arcádia”, com um conjunto de sequazes, todos eles com pequenos ferimentos e algumas muletas. Falavam alto, línguas esquisitas, aviavam muitos finos e demasiada sobranceria para com os locais, tendo em conta as características da sua mal afamada profissão.
Na Portugália, na Palladium, no Amazonas, em qualquer lugar onde houvesse cerveja a preceito, era ouve-los (mistura de ver e ouvir) nas suas fardas garbosas, com as ligaduras a cobrir-lhe qualquer ferimento, a darem entrevistas ao “Notícia”, e outros órgãos da imprensa local, nunca escondendo o envolvimento do Portugal colonialista com os secessionistas do Katanga, e as alianças espúrias com Tchombé, que morreu na Argélia em 1967.
Conheci um dos que foi evacuado de Bukavu, um belga Jean Schrame, lumpen na sua terra, coronel graduado em Kishangani, depois da saída de Mike Hoare “o Louco”, e que vem para a retaguarda do “Baleizão” aviar “kanhangulos” de Cuca, já que a outra guerra tinha sido perdida. Não o conheci aí, foi-me apresentado anos depois, numa festa de amigos em Oliveira de Frades, uma vila beirã, onde o “guerreiro Schrame” lutava para aumentar a produção de ovos e galinhas num aviário nas faldas da Serra do Caramulo, ultimo esconderijo conhecido do “soldado da fortuna”!
Ao tema, havemos de voltar, como bem disse o poeta!
Fernando Pereira
26/07/2010

23 de julho de 2010

Calígula em Angola / Ágora / Novo Jornal / Luanda 24-07-2010





Francisco da Cunha Leal (1888-1970) escreveu um verdadeiro libelo acusatório, publicado em 1924, contra o general Norton de Matos, verberando a sua política nas suas passagens sucessivas pelo cargo de governador de Angola (1912-1915) e Alto-comissário (1921-1923), “Calígula em Angola”.
Não vou entrar em pormenores sobre essa disputa, que animou o Chiado, então o centro cosmopolita, social e politiqueiro de Lisboa desde as lutas dos Republicanismo português em 1895, até ao seu estertor em 28 de Maio de 1926.
Efectivamente foi um inusitado combate político, a relembrar nalguns casos um célebre duelo de espada entre Egas Moniz e o mesmo Norton de Matos, em 1912, por causa do afamado caso do Caminho de Ferro de Ambaca, motivo também da demissão do então ministro das colónias Freitas Ribeiro em 1912. Este foi um dos últimos duelos de espada de gume afiado, de defesa da honra na Lisboa política!
Tudo isto vem a propósito, de uma discussão acalorada que tive com uns amigos, com quem me vou encontrando para partilhar assuntos passados, quiçá preocupações presentes, sobre a história e realidade de Angola.
Nessa “tertúlia” despoletou-se a discussão para a probabilidade de se recuperar para um lugar de relevo a estátua de Norton de Matos, colocada no Huambo com todas as outras estátuas apeadas, aquando da restauração da soberania da Republica Popular de Angola na cidade no ido Fevereiro de 1976.
Como já não somos miúdos, muitos de nós ainda se lembravam de ouvir tecer loas em nossas casas ao Norton de Matos, e também alguns de nós nos lembrámos, quanto o general foi pernicioso para os angolanos, sobretudo para o asfixiamento de uma burguesia local, a que a monarquia português, apesar de tudo, se tinha habituado a respeitar, ainda que com inerente sobranceria.
O cerne da discussão era a justeza da colocação da estátua do fundador da cidade em 8 de Agosto de 1912, num lugar de destaque da cidade. Eu assumi-me claramente contra esse desiderato, pois Norton de Matos não foi mais que um Cecil Rhodes (1853-1902) português, com as limitações inerentes à pequena expressão do Portugal no contexto colonial de então. Norton de Matos era um racista, e a sua política assentou sempre nesse primado.
O seu projecto de desenvolvimento económico de Angola, tinha um objectivo claro: A construção de um grande país de brancos, que iriam impor os seus valores, a sua cultura, o seu modelo económico, em que os angolanos seriam os seus “servos da gleba”, e que pudesse ser o território o epicentro do mundo português.
Promoveu o desenvolvimento de vias de comunicação, com a construção de uma rede eficiente de estradas, fez algum esforço ao nível do equipamento, apoiou uma ténue industrialização, fomentou o comércio interno, e desencadeou um esforço de potenciar o desenvolvimento agrícola da colónia, através do trabalho forçado dos seus habitantes locais.
Aparentemente um programa perfeito, embora sem avaliar os custos de um projecto destes, o que levou ao desaparecimento do BNU enquanto banco emissor em Angola, e a proliferação das “Ritas”, um dinheiro tipo senhas, de notas de 50 centavos, emitidas pela “Republica Portuguesa - Angola”, que nada valiam, e que só compravam uma bebida quando empacotadas como um tijolo; Uma moeda tipo dólar do Zimbabwé actual, ou o Novo Kwanza em meados dos anos 90. As “Ritas”, assim chamadas, era aa designação popular das notas, pela associação com o nome da filha do general.
Um verdadeiro desastre a sua passagem por Angola, testemunha de Alves dos Reis, noutro muito badalado episódio de moeda, neste caso emissão de moeda falsa em que Angola é mais uma vez o centro da “vigarice”!
Assumo que violento a memória do meu pai, que foi membro da candidatura de Norton de Matos à presidência da Republica Portuguesa em 1948, na Catumbela, e seu intransigente defensor, mas paciência, nalgumas coisas tivemos que estar em desacordo, e ele sempre soube que nunca partilhei o seu entusiasmo pelo general, grão-mestre da maçonaria em 1929.
Talvez não seja bom opinar sobre o assunto, porque normalmente as coisas saem quase sempre, ao contrário do que gostaria: deixem estar a estátua onde está, com buraquinho e tudo…
Fernando Pereira
20/7/2010

16 de julho de 2010

Gamanço/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda / 16- 07 - 2010



Vamos dissecar hoje o verdadeiro significado da palavra “Gamar”, que tem mil e um significados, mas na realidade o objectivo final é sempre o mesmo, dependendo apenas do valor do objecto.
Comemoraram-se há bem poucos anos os 500 anos da viagem de Vasco da Gama à India!
Para que conste, o tal de Gama, Vasco de seu nome, tinha uma estátua, em frente à Academia de Musica, no 4 de Fevereiro ,antecipando o estilo decadente da estatuária norte-coreana, que hoje invade a nossa cidade capital.
O moço descobriu o caminho por mar! Foi um feito, mesmo sabendo toda a gente que o caminho por terra era muito mais curto! De facto a viagem de Gama, não podia ter tido um personagem com apelido mais apelativo, para aquilo que as potencias coloniais iriam fazer nos 500 anos seguintes: GAMAR.
D. João II, um dos reis mais inteligentes que Portugal teve, escolheu bem o perfil do navegador, incluindo o seu nome, para os desígnios futuros das suas campanhas pelo Oriente. Desculpem o homofóbico da linguagem, quiçá algum desbragamento, mas não posso deixar de pensar que alguns dos marinheiros da campanha do Gama foram aliciados porque iam ao reino do Cochim, mas a meio do caminho conseguiram ser demovidos a muito custo por irem a Calecut, coisa que a maioria da marinharia estava habituada, pois as longas permanências no mar obrigava-os a outras opções, diferentes das de em terra firme (cuidado que isto é uma cacofonia).
O Gama, levou como sub-capitão outro Gama, Paulo de seu nome, para no caso de vacatura do primeiro, o Gamanço se perpetuasse.Paulo acabou por se finar antes do regresso a Portugal.
Lá foram as três naus e o Bérrio, a caminho das especiarias e dos afrodisíacos, para terras para lá do Preste-João.
Chegaram lá com muito estrondo, cheios de salamaleques e ofertas, para logo na viagem de circum-retorno congeminarem logo como haveriam de lixar os poderosos senhores de Calecut e Cochim, e inerentemente o seu séquito de mulheres, essas bem mais apelativas (bem mais as de Cochim que Calecut).
Começou então em Gama, o verdadeiro Gamar, e foi uma tarefa bem concebida, pois durou 500 anos. O Gama, também foi arrecadado nos Jerónimos? Não me façam acreditar nisso. O tipo morreu como Vice-Rei da Índia presume-se que com escorbuto, embora se tivesse constado nos meandros da corte que terá sido de gonorreia.
O Gama, como qualquer do seu tempo era da barbárie, porque efectivamente tinha uma provecta barba, que devia ser incomodativa nas grandes viagens e quiçá mesmo uma verdadeira estufa incubadora de piolhos.
Dessei, mas espero que me elucidem sobre se realmente, o gamão, aquele jogo esquisito parecido com as damas, tem algo a ver com o Gama?
Fernando Pereira
14/07/2010

11 de julho de 2010

A classe média ou a média da classe? / Ágora /Novo Jornal/ Luanda 10-07-2010



A pequena classe média angolana, coincidindo com o solstício de Verão no hemisfério norte, vai em romaria em busca de outras latitudes.
O aeroporto 4 de Fevereiro é provavelmente o maior “santuário” do País, um verdadeiro lugar de idas e vindas de gentes, de sonhos, de frustrações, de reencontros, um espaço talvez adorável para muitos que partem, e curiosamente também para quem chega.
O angolano tem uma relação afectiva com o seu aeroporto, porque desempenha o único lugar possível de ligação efectiva com o mundo exterior, e a realidade é que ao longo dos anos, há muita gente que o conhece bem melhor, que as terras além Kwanza e Bengo.
O angolano da classe média alta, utilizador de tecnologias, fato e gravata para todas as ocasiões, mesmo supostamente as mais dispensáveis, com correntes de ouro reluzentes e muito agarrado às marcas, tem idiossincrasias muito peculiares que não deixam de chamar a atenção.
Os angolanos quando vão ao exterior defendem com entusiasmo o seu país, a sua gastronomia, as suas belezas naturais, até a sua desorganização e corrupção. Isto é um princípio interessante, e na realidade aumenta o ego do angolano, que tanta dificuldade tem para o alimentar, já que vão desabundando razões de orgulho. O narcisismo do angolano é um bem valioso, é importante utilizá-lo a preceito.
A verdade é que esses mesmos angolanos, em Angola, esquecem-se do seu discurso no exterior, cultivam a costumeira má-lingua, estão sistematicamente contra o poder, e o que não deixa de ser paradoxal, é o facto de haver alguns proceres da área, que entram neste esquema, falam deliciosamente dos locais de compras no exterior, nos cabarets frequentados e nos pratos, vinhos e etílicas bebidas deglutidas.
Por exemplo em Lisboa, para um angolano não há nada melhor no mundo que um kalulu de peixe, ou uma muambada. Em Luanda os mesmos protagonistas, acham que nada no mundo é melhor que o bacalhau com grão, com cebola e salsa, um leitão à Bairrada ou uns pezinhos de porco de coentrada.
Isto não tem nada de extraordinário, a não ser quando ocasionalmente se quer transformar a sociedade num teclado de piano, onde se tenta alterar a posição das teclas. A realidade é incontornavelmente por razões de insegurança, e cada vez menos se justifica atitudes deste tipo na sociedade liberal angolana. O teclado de um piano é bom se tiver uns bons executantes, inaudível se for um incompetente a tocá-lo; Nem o afinador consegue fazer nada com maus executantes!
Angola tem que começar a conviver melhor com a sua diáspora, e acabar definitivamente com estigmas em relação a quem procura nova vida, e novas oportunidades noutros lugares. È um direito que qualquer cidadão livre tem, que é viver onde quer, se o puder fazer.
Foi uma” herança” dos tempos de guerrilha, e significava um abandono de uma causa, em que qualquer angolano se deveria engajar. Muitos angolanos não resistiram e desistiram de lutar, porque a realidade era dura, e hoje percebem-se os argumentos de um lado ou de outro.
Angola tem muita gente profissionalmente competente e de enorme afirmação profissional em múltiplas áreas da ciência, desporto, artes, conhecimento, e que estão no exterior e que se sentem angolanos, mas que não querem, e nalguns casos nem sequer podem, por razões de natureza profissional, voltar a viver em Angola.
São diferentes estes angolanos por isso? A única coisa que pedem é que o País lhes dê a nacionalidade, já que notoriedade alguns tem que sobra e muitos desses em áreas que poucas pessoas em Angola se dão conta que existem, e são de uma importância enorme.
Uma reflexão a caber, num debate mais amplo nestes trinta e cinco anos de independência e de vivencia colectiva da angolanidade. Um sinal de modernidade do País, bem melhor que alguns projectos em execução.
Ah, talvez não tenha nada a ver, mas lembrei-me desta poesia de Drumond de Andrade: João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

Fernando Pereira
4/6/2010

2 de julho de 2010

Crónica do tempo vindouro (Que há Devir)/ Novo Jornal / Luanda / 3-7-2010



Foram tantas as vezes que muitos de nós pedimos a Paulo Jorge, que deixasse as suas memórias, prometeu que em breve o faria, e morreu no sábado passado sem que nos tivesse feito a vontade!
As lembranças que Paulo Jorge iria deixar, eram fundamentais para perceber o que foi a diplomacia da fase de gestação e debutante da Republica Popular de Angola. Teria sido importante este legado, para acabar com uma miríade de histórias, algumas mal engendradas, que vão circulando sobre esses anos de particular enfoque no quotidiano político e militar da África Austral.
Com Paulo Jorge desapareceu uma parte do espólio, de um tempo em que a afirmação de valores de solidariedade, justiça social e igualitarismo faziam parte do léxico, e de alguma prática das nossas convicções pessoais e políticas.
Paulo Jorge nasce em Benguela em 1934, filho de um funcionário de uma açucareira, com ligações a candidaturas oposicionistas à ditadura de Salazar, particularmente empenhado nas comissões locais de candidatura de Norton de Matos e Humberto Delgado.
Vem para Lisboa nos anos 50 para estudar geologia, mudando entretanto para engenharia, curso que não acaba para se juntar à resistência angolana no exterior.
Foi membro dos órgãos sociais da Casa dos Estudantes do Império, alfobre de gente que conscientemente assumiu uma rotura com os valores do colonialismo português. Para além de excelente dançarino, era um sedutor e um exímio praticante de ténis de mesa, tendo sido campeão nacional universitário, para além de ter sido praticante federado ao serviço do Sporting.
Com Marcelino dos Santos, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Câmara Pires, entre muitos outros, foi um entusiasta da criação da ex-CONCP (Conferencia das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas) e um dos seus particulares dinamizadores.
Esteve no “maquis”, mas a diplomacia do MPLA e depois da R.P. Angola foram uma constante no seu percurso de político, tendo sido Ministro das Relações Exteriores durante anos quer com Agostinho Neto, quer com José Eduardo dos Santos.
Nos anos 90, é governador do Kwanza-Norte e posteriormente Benguela, onde tem uma prestação de relevo. É deputado eleito em 1992, reeleito em 2008.
Homem de grande probidade, incapaz de se apropriar do que quer que fosse, assumindo até algum quotidiano espartano na sua vida, Paulo Jorge deixa-nos o exemplo do dirigente, que abraçou uma causa por convicção e nunca para se aproveitar dos lugares para proveito próprio.
Morreu a 26 de Junho, sabendo-se que sem grandes recursos, e com ele fica o exemplo de um homem fundamental nos alicerces do País e indispensável no colocar de tijolos da edificação de uma nova geografia política na África Austral.
Obrigado Paulo Teixeira Jorge!

Fernando Pereira
30/06/2010

FarmVille a sério! / Ágora / Novo Jornal / Luanda 3-07-2010






Permito-me em primeiro lugar não falar de José Saramago, porque li quase tudo o que publicou em livro. Da sua extensa bibliografia, há obras que me fascinaram, outras quase me entusiasmaram, algumas li e fiquei indiferente, umas poucas não gostei rigorosamente nada e acidentalmente, houve duas que não consegui acabar de ler.
Porque quando Saramago foi notícia, na sua vida e na sua morte recente, fala tanta gente, que utiliza a estafada táctica: quando leio A, que não conheço, escrevendo sobre X, que também não conheço, vou ler o que A escreve sobre Y, que conheço: regra de três simples, e a opinião forma-se e talvez se enforme.
No meu caso seria atrevimento a mais opinar, pois repito, conheço quase toda a sua obra. Deixo esse lugar aos sábios, sabichões e também aos “ratos de sacristia”!
A clarividência do Fernando Pacheco na entrevista ao Jornal de Angola da edição de 14 de Junho, traz para a discussão de forma assertiva um conjunto de reflexões, sobre o que Angola pretende no mundo rural e da agricultura, enquanto base para um desenvolvimento harmonioso, numa economia sustentada.
Habituei-me a ler todas as reflexões, que o Fernando Pacheco tem vindo a fazer há uns anos a esta parte, sobre a organização do mundo rural no nosso País, e se há algo que podemos afirmar sem peias nem meias, é que tem sido coerente, em que paralelamente são feitas propostas e que são incompreensivelmente ignoradas.
Quando Fernando Pacheco levanta a questão da hiperbolização desproporcionada das metas para o período entre 2009-2012, faz-me recuar mais que trinta anos, e voltar a pegar nas “Orientações fundamentais para o desenvolvimento económico e social da Republica Popular de Angola no período 1978-1980”, que rezava em determinada altura: “Dever-se-á prestar especial atenção à produção de meios alimentares essenciais, com vista a obter o mais rapidamente possível os bens de 1973”, com objectivos, onde aparecia invariavelmente junto dos valores, uma determinada percentagem da “produção histórica”(Ex: Milho: produzir cerca de 400.000 toneladas-67% da produção histórica ou 120.000 toneladas de café, “o que corresponde a 55% da produção histórica”). Estamos a falar de um período de três anos, já que estas propostas foram aprovadas no 1º Congresso do MPLA em Dezembro de 1977.
Pegando nas “ Orientações fundamentais para o desenvolvimento económico-social 1981-1985”, documento saído do I Congresso Extraordinário do MPLA, em Dezembro de 1980, somos confrontados com uma análise mais comedida das propostas, irrealista, tendo em conta a situação prevalecente no País (Ex: No caso do “Milho: Atingir as 268.000 a 300.000 toneladas… Café: 60 a 70 mil toneladas de café comercial…”).Isto era o objectivo para um período de cinco anos!
Em 1992 o Dr. José Manuel Zenha Rela, faz sair um trabalho interessante, “Angola- Entre o presente e o futuro”, em que aborda, talvez de uma forma algo romântica, as condições para a formação do “Verdadeiro empresário agrícola angolano”, a “distribuição da terra” , “ o apoio de meios mecânicos”, “Disponibilidade dos Factores de Produção”, Assistência Técnica e Vulgarização”, “Escoamento da produção comercializável”, “Acesso ao crédito” e outros itens relacionados com o desenvolvimento agrícola de Angola, entre outros temas.
Anos depois, em 2006, saiu do mesmo autor o livro “Angola - o Futuro já começou”, revisto em Dezembro de 2008, editado pela Nzila, um levantamento exaustivo do futuro de Angola, onde as preocupações não são muito diferentes das colocadas por Fernando Pacheco ao JA. Deste livro falarei mais tarde, um “tijolo” robusto em tamanho e na qualidade, num exercício de soluções por parte de alguém que é simultaneamente um académico e um observador atento dos últimos sessenta e cinco anos de Angola.
Pelos vistos as preocupações do Fernando Pacheco sobre o desenvolvimento rural angolano são recorrentes. O petróleo, neste caso é um factor de empobrecimento do País, pois acaba com a matriz de Angola, que é a sua inata vocação de ruralidade.
Resta-me deixar o aviso para as gerações vindouras, que quando passarem os cinquenta anos verificarão, por certo, que antigas certezas são abaladas pela teimosia dos factos. Os factos são teimosos e então como eu só terão dúvidas!
“Acho que era mais barato, mais rápido e política e socialmente mais adequado se gastássemos o dinheiro que estamos a gastar em grandes projectos, a produzir cereais, para apoiar os pequenos agricultores familiares.” Excerto da entrevista do Fernando Pacheco ao Jornal de Angola.
Só faltaria mesmo, que as pessoas se comecem a dedicar ao FarmVille do Facebook, para se sentirem rurais em qualquer apartamento, numa grande cidade e num mundo virtual perto de si!

Fernando Pereira
23/06/2010
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12 de junho de 2010

O Senhor Basquetebol/Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 18-06-2010




De vez em quando, em Angola vai havendo lugar para o reconhecimento do trabalho, do empenho e da criatividade de alguns dos seus cidadãos.
O Desportivo 1º de Agosto, clube onde me sagrei campeão nacional de voleibol, resolveu organizar o torneio de basquetebol “Vitorino Cunha”.
É uma homenagem, ainda que singela, ao maior cabouqueiro do basquetebol angolano, realçando a gratidão dos dirigentes para com um técnico que tudo deu ao clube e ao basquetebol angolano.
Convém fazer uma prévia declaração de interesses sobre Vitorino Cunha, assumindo que as minhas relações pessoais com ele nunca foram muito boas, porque na realidade tem um feitio particularmente complicado, opinião naturalmente subjectiva.
Vitorino Cunha, que conheço desde os tempos do CDUA, há quase quarenta anos, é indiscutivelmente o “Senhor Basquetebol Angolano”, e o responsável maior pelo facto de Angola ser há décadas, a maior potência africana da modalidade.
Técnico excelente, fui durante muitos anos a figura tutelar do basquetebol angolano, e muitos dos mais brilhantes jogadores da nossa selecção ao longo destes quase trinta e cinco como País, devem-lhe muito, principalmente a motivação e os ensinamentos ministrados na fase de formação.
Muitas vezes foi acusado de métodos pouco ortodoxos, para fazer valer as suas convicções, mas a realidade é que no essencial a razão estava do seu lado. Situações como a de ter a chave da Cidadela, para às seis da manhã treinar um jogador, para que a sua evolução técnica fosse mais rápida, ou guardar religiosamente as bolas na viatura para ter a certeza que tinha o material à hora que precisava, entre outras histórias, são reveladoras da indómita vontade de ver o basquetebol angolano no galarim das potências mundiais da modalidade.
Rui Mingas, e a sua equipa nos Desportos, numa fase crucial de definição de prioridades no desporto angolano, no dealbar de Angola enquanto País, contra “muitos ventos e marés”, assumiu de forma determinada que o basquetebol seria a modalidade de maior expressão de Angola no exterior. Os factos, que pelos vistos são teimosos, mostraram que a razão estava do seu lado, pois o futebol exigia investimentos vultuosos, e obrigava-se a discutir uma remota primazia, com um conjunto de países africanos com outras estruturas já firmadas e alianças, afirmadas, ainda que nalguns casos espúrias.
Afirmo sem qualquer prurido de espécie alguma, que se não houvesse um Vitorino Cunha, teria sido bem mais difícil implantar esta afirmação popular em torno do basquetebol em Angola.
Já que se fala de basquetebol, e porque tive o prazer de rever o Agostinho Reis, velha glória do Benfica de Luanda, na semana transacta, vem-me à memória uma história notável em que ele e o meu falecido amigo Alberto Martins foram protagonistas no ano de 1967.
Como era prática no tempo colonial, a partir do inicio dos anos sessenta, o campeonato de basquetebol era organizado alternadamente na “Metrópole”, outro em Moçambique e outro em Angola. O campeonato era disputado pela equipa vencedora de cada “provincial” e pelas duas primeiras classificadas do campeonato onde nesse ano se realizava o “nacional”.
Em 1967, o campeonato foi disputado em Angola, tendo ganho o Benfica de Luanda, num jogo disputadíssimo contra a Académica de Coimbra, na época de estreia do António Guimarães nos seniores do SLB.
O treinador da Académica de Coimbra, era o professor Alberto Martins, conhecido pelo “Teórico”, que entre várias hipocondrias, tinha um pavor enorme a espaços fechados, pelo que andar de avião era um verdadeiro suplício.
Numa entrevista à então “Emissora Oficial de Angola”, o Alberto Martins no aeroporto, quando embarcava para Portugal, e numa apreciação ao campeonato que a AAC tinha perdido, resolve dizer que tinha ficado surpreendido com o “jogador Agostinho Neto” do Benfica de Luanda, numa confusão com o Agostinho Reis. Naturalmente toda a comitiva gozou com a situação, e o “Teórico” começou a achar muito pouca piada ao deslize, o que ao tempo era uma situação a merecer cuidado.
Faltavam uns minutos para o embarque e o professor Martins já com vários ansiolíticos no corpo, é chamado pela aparelhagem sonora do aeroporto aos serviços da PIDE. Bem, os mais malandrecos da equipa começaram a “fazer um filme”, que deixou-o completamente petrificado e num estado de palidez, que quem viu jamais esqueceu, tal era o estado do “Teórico”. O saudoso Carlos Silva, o Hilário e o moçambicano José Luis Cabaço eram os que mais gozavam com a situação, que só terminou quando o professor Martins volta da PIDE, uns minutos depois, e trazia um “faceas” totalmente diferente, mas ainda a balbuciar que “era só para me entregarem os documentos que esqueci no balcão de embarque”!
As malhas que o basquetebol no Império teceu!
Fernando Pereira
6/06/2010

4 de junho de 2010

Marx- Tendência Groucho (II) / Ágora / Novo Jornal / Luanda 4-6-2010



Continuando a falar de cinemas de Luanda, lembro-me do brado que deu a inauguração do” Tivoli”, em meados dos anos 60, em que o filme era o “Dr. Jivago”, (David Lean- 1965) uma adaptação de um livro do primeiro soviético laureado com o Nobel, a pedido dos EUA em plena” guerra fria”, Boris Pasternak. Na Samba, o” Tivoli” afirmava-se como uma sala com uma excelente acústica, e era engraçado verem-se empoleirados nos muros, muita gente que provavelmente só assim podia ir vendo cinema.
O Miramar, era o que se pode chamar a “feira das vaidades” de determinado tipo de gentes da cidade no tempo colonial, e recordo-me de ter visto por lá o “Lawrence da Arábia” (David Lean-1962). Nos anos 80 vi por lá uma mostra de cinema soviético, onde pude ver algumas obras de Tarkovsky, nomeadamente os fantásticos, “Andrey Rubiev” e “Solaris”, duas obras primas do cinema soviético, numa escola de Eisenstein, e que nada tinham a ver com as estopadas que nos martelavam, com a heroicidade dos combatentes da URSS na 2º guerra.
Houve uma altura em Luanda, que esse tipo de filmes e até, pasme-se, uns westerns soviéticos, passavam no Kipaka, ao lado do Ferroviário, onde terei visto provavelmente a pior sequencia de cinema em toda a minha vida, filmes que só tinham paralelo em comer macarrão com peixe espada frito (na gíria popular, “o cinturão das FAPLAS”) que nos davam nos restaurantes da cidade, para podermos ter acesso aos pouco saudosos “búlgaros”.
No Nacional, que hoje alberga um excelente projecto cultural dirigido com enorme voluntarismo pelo Jacques Arlindo dos Santos, a “Chá de Caxinde”, e onde no sábado passado o Mário Torres foi homenageado pelos muitos amigos que conquistou, numa vida coerente de duro combate por uma Angola independente. Talvez de forma descontextualizada do artigo, não há festa, nem homenagem que consiga retribuir o que Mário Torres deu a este País, ele que nunca esperou, nem reclamou, nem recebeu prebendas de qualquer tipo, num claro desapego, só possível no elevado carácter da pessoa.
Voltando ao “Nacional”, onde ainda me tentaram incluir num grupo infantil de teatro, “Cremilda Torres”, em meados dos anos sessenta. Desconseguiram, porque realmente não tenho jeito nenhum para cantar, mas a intenção ficou! O vetusto “Nacional” é uma sala notável, e um marco na cultura de uma Luanda muito provinciana e maledicente. Estar por lá o Chá de Caxinde, é um alívio, mas todo o cuidado é pouco, para defender o imóvel da sanha assassina do camartelo em prol de novos espelhos.
O” Tropical”, onde me fartei de ver cantores, artistas e nalguns casos alguns que tentavam ser uma coisa e outra e não conseguiam ser nada, era um espaço interessante, num conceito muito pouco habitual de cinema, embora se o filme fosse longo, o torcicolo era inevitável, já que as mesas obrigavam-nos a levantar o pescoço. Cine-Teatro bonito dos anos 50, jardins com bom gosto, um local que julgo saber relativamente preservado.
No “Ngola Cine”, lembro-me de ver alguns filmes de reprise, e ter assistido a espectáculos diversos, alguns animados pelos Kiezos, com o recentemente falecido Vate Costa, a quem presto sentida homenagem. Do outro lado da Avenida o pequenino “S. João”, era um cinema de bairro, onde acho que nunca entrei, tendo contudo frequentado o cinema da unidade móvel nº 7, perto da actual Casa 70.
Fui à inauguração do “S. Paulo”, já no dealbar dos anos 70, com o “Herbie, se o meu carro falasse”, uma produção da Disney sobre o VW Carocha, inicialmente produzido em 1940 na Alemanha, e o carro mais vendido em todo o mundo suplantando o mítico Ford T. O VW Carocha, carinhosamente apelidado por “ZEDU”, foi introduzido massivamente em Angola em meados dos anos 80.
Não sei se falei de todos os cinemas mas lembro-me que frequentava o cine do Sporting Club da Maianga, do Sindicato dos Motoristas, ali ao pé das Obras Publicas, o cine dos CTTs, ao pé do Kinaxixe, e acho que fui uma vez a um cinema que a Textang tinha na Boavista, ao ar livre!
Em Viana, ao Kilamba, nem nunca fui, porque ficava fora de mão, e sobre o demolido teatro “Avenida” na Rainha Ginga, havemos de falar sobre isso noutra crónica.
Como esta crónica é feita a dois tempos, lembro que teremos começado com Marx, e já que falamos de cinema, o máximo que podemos dizer é que alguns “marxistas” convictos em determinado momento, recusaram-se a aderir ao “Marxismo- tendência Groucho”, dos notáveis irmãos Marx, que filmes como “Um criado ao seu dispor”, “Uma Noite na Ópera”, “Uma Noite em Casablanca”, e por aí fora, são momentos inolvidáveis no cinema do nosso encantamento.
(FIM)
Fernando Pereira
24-5-2010

30 de maio de 2010

Marx- Tendência Groucho (I) / Ágora / Novo Jornal / Luanda 28-5-2010



Em Luanda decidiu-se quase varrer Karl Marx de todo o lado!
Vamos por partes, a rua Karl Marx dos tempos do “Científico”, passou hoje a chamar-se a avenida de Portugal, embora prolongando-se para a Frederich Engels, e cruzando-se com a Av. Lenine, que tem sido servida de alguns desníveis, em forma de viadutos. A verdade insofismável, é que a lógica da toponímia dos tempos da ditadura do proletariado, sofreu um perigoso revés, ao amputar-se uma das três matrizes fundamentais do “M-L”, e ao caso o iniciador.
Em tempos houve em Luanda um Instituto Médio Karl Marx, que partilhava as instalações e o nome com Makarenko (1888-1939) um pedagogo russo, com uma obra interessantíssima sobre educação, sociedade e intervenção educacional integrada no processo produtivo. Esse instituto que funcionava nas antigas instalações da Escola Industrial, no tempo do colono, chama-se hoje Instituto Médio Industrial de Luanda, e mais uma vez do nome Marx, fica a lembrança, dos que por lá passaram como alunos e professores, onde me incluí, ainda que por pouco tempo.
A livraria Karl Marx, julgo que também terá sido erradicada, o que convenhamos não me surpreende, pois penso, já ter havido outra apetência para a leitura no nosso País, ao invés do que acontece presentemente, aguardando que seja apenas um pequeno acidente de percurso nas motivações e solicitações culturais das pessoas. Talvez este deslumbramento, pela frenética economia de mercado, com o seus adereços, trajes, linguajar e costumes diferentes, possa vir a esbater-se, e se recuperem os tempos da leitura enriquecedora.
Com esta saga destruidora do “Marxismo” na sociedade Luandense, sobra o Cine Karl Marx, que se vai mantendo, desde que o colonial “Avis” mudou de nome, uma das mais emblemáticas salas de espectáculo da cidade de Luanda, no bairro de Alvalade, onde a média burguesia colonial angolana começou a fazer as suas vivendas, algumas delas de gosto duvidoso, situação que pelos vistos se perpetua de forma generalizada nas construções que enxameiam a cidade. Atrevo-me a chamar à Luanda de hoje, a cidade “Ray-Ban”, tal a quantidade de vidros espelhados que cobrem os edifícios.
Deixando o Karl Marx, espero que nalgumas das suas concepções de sociedade, por pouco tempo, apetece-me dar uma volta pelos cinemas da cidade, marcantes no meu quotidiano evolutivo de homem.
O “Restauração”, magnífica obra de arquitectura dos irmãos Castilho, que depois teve no que era o bar o cine “Estúdio”, é hoje a Assembleia Nacional, o que muito enobrece o espaço.
Frequentei aquele cinema muita vez, principalmente nas longas férias de Verão, e recordo-me que invariavelmente lá estava todas as matines, umas quantas vezes a pagar, outras à borla, ou a senhora da bilheteira não fosse minha prima, que como se vê o favor familiar, já se herdou do tempo do colono.
O “Colonial”, ali por detrás da Missão de S. Paulo, foi sempre a imagem que descobri no “Cinema Paraíso” (Giuseppe Tornatore-1988), e de emblemático, passou a abandonado até à sua demolição, para parque de viaturas; Convenhamos que até aqui há semelhança com um dos “cem filmes que temos que ver antes de morrermos”! Mas foi pena o velho Clo-Clo ir abaixo.
O “Império”, hoje” Atlântico” é um cinema onde me recordo de ter visto “O Musica no Coração”, de Robert Wise (1965), em que a Julie Andrews, então uma jovem, punha invariavelmente a chorar o empedrado da calçada, quando teve que se assumir como substituta da mulher perdida de Von Trappen, um militar anti-nazi, com uma resma de filhos, que passavam a vida a cantar, entre relvados e flores! Um idílio perfeito. Vi lá muitos outros, mas não me era um cinema particularmente simpático. Em 1974, um grupo de cidadãos, conseguiu evitar a exibição de um tenebroso filme racista, “Morte em Entebe”, aviltante para os africanos!
(CONTINUAÇÂO)
Fernando Pereira

24 de maio de 2010

Era bom que se fossem lembrando!/ O Figueirense/ 21-5-2010


Era bom que se fossem lembrando!

Quarenta e três anos depois do assalto à dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz (17 de Maio de 1967), feito por Palma Inácio, Camilo Mortágua e outros, onde levaram a quantia de 29.274.360$00 (aproximadamente 164.020 euros), na mesma cidade, assisti a mais um assalto à inteligência desportiva do país. O programa “trio de ataque”, vem todos os anos até à Figueira, fechar a época, e a verdade é que é um programa igualzinho a todos os outros sobre desporto, uma perfeita quase inutilidade e o reduzir o futebol à estultícia generalizada.

De todos é provavelmente o menos mau, embora já tenha assistido num destes programas em que o comentador de um dos clubes resolveu colocar a equipa a jogar em 4,5,3 losango!!! Não vou dizer qual deles foi, mas garantidamente não foi o mais sóbrio de todos, o Rui Moreira!

Estamos no fim da época desportiva de modalidades de salão, ginásio, pavilhão e estádio, e temos que admitir que foi um ano atípico, com derrotados surpreendentes e com campeões que só viram a luz no fundo do túnel na última jornada do campeonato, isto falando do campeonato da 1ª divisão nacional de futebol.

Terão surgido circunstancias várias, como a vinda do Ratzinger a Portugal, as cinzas da Islândia, o ultimo ano de mandato do Lula, o não apuramento do Ginásio Figueirense para os play-off do campeonato de basquetebol, terem subido os impostos depois de repetidas vezes ter sido reafirmado que nunca seriam aumentados, não haver festival de cinema da Figueira da Foz este ano (!!!!) e o Vara não ter sido falado para a presidência do Benfica, ou do Berardo Shoping, onde é um Bem Amado forever.
Já agora, também porque o Baltazar Garzon foi suspenso, porque há crimes que foram feitos para se perpetuarem nas catacumbas, longe da memória colectiva dos povos, e os seus responsáveis poderem viver de bem consigo, “Por Dios e la Patria” (Sinais de Fogo, Jorge de Sena, provavelmente o melhor romance português do século XX).

Já que estivemos a falar de desporto, não de cultura física, mas de recreação, posso dizer que em Portugal, o FC do Porto apenas teve até hoje um presidente preso, que foi Afonso Pinto de Magalhães, por ter sido o único da grande finança que apoiou Humberto Delgado (Ver Negócios Vigiados, excelente livro de Filipe Fernandes e Luis Villalobos).

Hoje fico-me por aqui, para não me acusarem de escrever bué!
Mas ainda fui a tempo de me lembrar do “cantinho do Morais”, do Mário Simões. O João Morais morreu a semana passada. O Mário Simões, bom amigo, um figueirense, e só é pena estes devaneios, como o disco que ilustra o artigo, que coloquei violentando-me de uma forma, que só os que muito considero merecem!
Fernando Pereira

Este artigo foi publicado no blog Zas-Tras, que por sua vez foi remetido para as paginas de opinião do semanário "O Figueirense", da Figueira da Foz

21 de maio de 2010

O Infante Branco/Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 21-5-2010



Desculpem o arrojo desta crónica, mas como faço anos por estes dias, tenho o direito a este devaneio, porque como diria Chaplin, “tenho a impressão que os homens estão perdendo o dom de rir”, ou mesmo do mesmo "Através do humor nós vemos no que parece racional, o irracional; no que parece importante, o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de sobrevivência e preserva a nossa saúde mental”
Hoje resolvi introduzir este tema!
Por falar em introduzir, hoje vou falar do paquete Infante D. Henrique, essa jóia da ex- Companhia Colonial de Navegação, fundada por Bernardino Correia, um homem com muitas participações em Angola, onde viajei algumas vezes entre Lisboa e Luanda e ” versa ou vice”.
Para falar do paquete em causa, tenho de começar por falar do próprio Infante. O Henrique de Lencastre era filho do João e Filipa, que já nesse tempo era um nome da moda, e fazia parte da Ínclita Geração, e de facto era uma significativa parte da visão do que se tentava incutir na «raça» portuguesa ao longo dos séculos.
Essa tal ínclita geração tinha de tudo um pouco! Um gestor da treta que cavalgava em toda a sela, mas que se esquecia de deveres conjugais mínimos, que eram usurpados por outros cavaleiros e quiçá alguns pajens; Estou a falar do Duarte, depois um Pedro que era galfarro, e também enchia páginas da "Caras", e outras revistas mundanas ou “nundanas” do tempo, havia o Fernando, que levou na mona dos mouros em Ceuta, que virou santo, o que hoje seria fácil ao ritmo a que são feitas beatificações. Aqui uma certa semelhança com o F. C. Porto no tempo do fascismo, em que os clubes de Lisboa tudo ganhavam, com o beneplácito do regime. Roger Moore era Santo, porque atacava umas moças em filmes de alguma acção e beijoca a esmo.
Ainda havia duas infantas, que nunca entraram na dita ínclita geração, e devem ter sido sepultadas em Mouriscas do Vouga, pois não estão ao pé da “malta” na Batalha das Imperfeitas Capelas, ao pé de um infeliz, ou um conjunto de ossadas de uns infelizes, a quem em vida nunca perguntaram se porventura se importariam de ser soldado desconhecido, só para ser guardado toda a eternidade por infelizes conhecidos, com horário rígido copulado com um “faceas” esfíngico.
O quarto da Ínclita, já que eu a bem dizer ainda prefiro os quatro de Liverpool, era o Infante D. Henrique!
O Infante era um homossexual assumido, que ia passeando pelas praias da costa com cosmógrafos italianos, que iam fazendo umas cartas de marear para o achamento de novos territórios. O Henriquinho de Lencastre era um tipo mal vestido, todo de negro, tipo anúncio da Sandeman, com uma tez de quem sofria da figadeira, com um bigode de carpinteiro de uma construtora estrangeira em Angola, e com um chapéu ao estilo de Matta-Hari. Ele lá corria as praias todas, com os cosmógrafos e compassos italianos na sua peugada, e era bom e bonito, o que eles faziam nas falésias de Sagres ou na” Meia Praia ao pé de Lagos”, como 500 anos depois cantava José Afonso.
Enquanto os italianos se entretinham com as cartas de marear, o Infante ia mareando nas faldas da Serra de Monchique, à procura de padrões de aspecto fálico para colocar em todas as possessões a achar, de forma a perpetuar em "Novos Mundos ao Mundo", também a sua ousada opção sexual, que a coberto da linhagem, possibilitava que a Igreja fosse permissiva” indulgendo” um pecaminoso nobre.
E eis que Portugal penetrava, pelos vistos por penetração também na epopeia dos achamentos.
Em Luanda o largo do Infante, era em frente ao Baleizão, onde conviveram várias arquitecturas e actividades. No centro do largo removido um canteiro, onde estava uma placa, que perpetuando-se o colonialismo iria dar uma estátua do Infante, surge hoje um monumento, desinteressante arquitetónicamente, mas de grande significado na cooperação entre o povo angolano e cubano.
O conjunto de prédios ao lado do Continental, só aguardam mais umas chuvadas, para que o camartelo actue, e o Treme-Treme, passará a um anexo do que se por lá construir. A fábrica de sabão, hoje abandonada à espera do centro comercial, que dava um cheiro inconfundível à praça em tempos idos, vai-se convenientemente deteriorando. Sobra o prédio cor-de-rosa do Café Baia, estilo português-suave dos anos 50, ex-libris da marginal, mandado construir por um roceiro do Uige, Leonel Arroja, que segundo se consta tinha opções bem divergentes do Infante D. Henrique, o que lhe terá abreviado a sua vida, pois escolhia raparigas novas, e deu razão ao ditado: “Homem velho com mulher nova, uma mão a empurrar para a cova”
E eu que ia falar do paquete “Infante D. Henrique”, que tinha um pianista que presumivelmente tocava melhor que o Bill Evans, mas havia gente que discordava, sem tampouco o terem ouvido numa dessas viagens de vice-versa!
Desculpem, esta linguagem homofóbica, mas calhou!
Fernando Pereira
16/5/2010

14 de maio de 2010

A Sombra do que fomos/ Ágora / Novo Jornal / Luanda 14-5-2010



“Às minhas companheiras e companheiros que caíram, que se levantaram, curaram as feridas, conservaram o riso, registaram a alegria e continuaram a caminhar”
Luis Sepulveda in “A Sombra do que fomos”

Muitos estudiosos da literatura contemporânea da América Latina, divergem em muita coisa, mas são unânimes em colocar William Faulkner (1897-1962) como o “alter ego” do romance latino-americano.
Sou um admirador confesso de toda a literatura americana, exceptuando os entediantes Harold Robbins, e a sua versão mística na expressão portuguesa, Paulo Coelho, ou um Nicholas Sparks que escreve livros que me parecem pão de forma, de uma qualquer prateleira de supermercado, em que a diferença acaba por ser entre o ter côdea ou ter sementes de sésamo e outros ingredientes tal como o E-952,E-951,E-950, e todos os Es com que hoje nos habituámos a conviver no “caminho do futuro”.
Li num ápice o último livro do talentoso Luis Sepúlveda, “A Sombra do que fomos”, e sem ser o mais brilhante, este livro mordaz, irónico e inteligente reflecte a nostalgia dos tempos que antecederam o 11 de Setembro de 1973, os tempos de exílio, as cumplicidades e as capitulações, que não terão sido exactamente traições. O livro é apesar de tudo um reencontro de emoções, paixões e a procura de motivações descomplexadas, com um passado vivido de forma desencontrada quase quarenta anos.
Talvez fosse um livro interessante para servir de “manual de utilizador”, para encontros destes na sociedade angolana actual, para de certa forma “tirar os esqueletos dos armários”, figura muito comum na linguagem anglo-saxónica, que a língua portuguesa utiliza como “abrir arcas encouradas”, que acabasse com os clichés da moda para determinadas motivações obscuras, e resquícios de coisas menos boas para justificarem apropriação indevida de bens tangíveis, com argumentos estafados, só mobilizadores de ideologicamente ineptos.
A verdade é que Sepulveda, me fez “marinar” em muita coisa, nalgumas em que fui actor e noutras em que terei sido interessado e quiçá por vezes pouco informado espectador. Veio-me à lembrança muitas coisas, desde as que aparentemente serão mais pueris, às mais elaboradas e assumidamente com outra exigência no “maturidrómetro”, que vamos utilizando para medir a nossa vida e vivencias circunstanciais.
Lembrei-me por acaso do meu amigo Mário Simões, com quem passei muitas noites em vários locais, a ouvi-lo tocar e cantar com um profissionalismo inatacável. Não me lembrei dele por ter feito umas canções do Benfica (o Bota de Ouro) e do Belenenses (ser Belenenses), ele que era um fervoroso adepto do Sporting, autor do célebre “Cantinho do Morais” entre várias, mas lembrei-me dele porque entre os seus grandes êxitos, tocados no Tropical, ou no Páteo do Hotel Universo, havia os célebres “Lápis do Lopes”, e a “Borracha do Rocha”, que andou os últimos vinte anos de carreira sem cantar, mesmo rejeitando insistentes pedidos, afirmando que “teve a sua época”, e mais não dizia!
A propósito da “Borracha do Rocha”, ele contou-me que a seguir ao 25 de Abril de 1974, as pessoas perguntavam-lhe se aquilo não era uma “afirmação sua contra a censura, já que era uma letra ousada”, e o Mário Simões, com a honestidade intelectual que sempre o caracterizou, disse que saiu-lhe aquela letra e musica como podia ter saído outra qualquer, o que desalentou os jornalistas.
Talvez haja alguma semelhança com a canção “Os Vampiros” do José Afonso, e o refrão “Eles Comem Tudo, Eles Comem Tudo e Não deixam nada…”. Havia uns tipos que invadiam as “repúblicas” coimbrãs nos anos 50 e 60, comiam o que havia e deixavam as despensas vazias, daí a canção, que se transformou numa emblemática canção de combate, adaptada a denunciar abusos iguais em latitudes diferentes!
Há já bué de anos, numa noite quente de Luanda no apartamento do Orlando Rodrigues, ouvíamos Thelonious Monk (1917-1982) numa virtuosa interpretação, que na altura me mereceu apenas isto: “Acho o Mário Simões melhor!”. O Orlando “atirou-se ao ar”, mas hoje admito que o Monk foi o maior de todos os tempos!
O Mário Simões era meu amigo, e assim fomos até ele morrer!
Fernando Pereira
11/05/10

7 de maio de 2010

PALAVRAS CRUZADAS/ Ágora/ Novo Jornal / Luanda- 7/5/2010




«Não tem direitos por isso compra favores. Fica a dever favores. Faz favores. Para pagar os favores. Compra novos favores. Fica a dever favores. Faz novos favores. Para pagar os favores faz favores. Paga favores. Gosta assim. Não tem direitos. Prefere favores. Gosta assim. Os direitos não se vendem nem se compram e ele tem alma de traficante».
Alberto Pimenta (1973)
Este poema traz-me à memória, um conjunto de poetas, que em determinados momentos das suas vidas, resolveram não calar o inconformismo por tudo o que estaria à sua volta.
Hoje, dei uma volta a pé pela cidade de Coimbra, e quando me sentei no café Tropical, que anda em comemorações dos seus sessenta anos, lembrei-me de várias pessoas que me ajudaram a moldar ideias, a fortalecer valores e objectivamente a fazer escolhas ideológicas, e uma clara afirmação de opção de classe, algo que desapareceu quase por completo do léxico político, do comum dos cidadãos com responsabilidades políticas de mando.
Está diferente, o Café Tropical, mas não o suficientemente diferente, para olhar para os locais, onde revi sentado o Joaquim Namorado (o tal do “Aviso à Navegação”), o Orlando de Carvalho, que embora falando para si com os ouvidos dos outros, era um verdadeiro senhor, culturalmente do melhor com quem tive o privilégio de conviver, o Soveral Martins, que com o Manuel Rui Monteiro e outros “românticos” puseram de pé “A Centelha”, editora marginal, talvez inspirada no poema do Sebastião da Gama: “Pelo sonho é que vamos/ comovidos e mudos… . Era lá que encontrava Zeca Afonso nas suas vindas a Coimbra, para tentar atrasar a doença que o minava, e ainda é por lá que vou encontrando o Fernando Martinho o Henrique Faria, o Ferreira Mendes, dedicadíssimos amigos, excelentes esculápios, sempre disponíveis para tratar da sua gente de Angola, que os procura porque os conhece, ou porque conhece alguém que os conheça a eles. Parou por lá Orlando Rodrigues, Fernando Sabrosa, Óscar Monteiro, Aníbal Espírito Santo, Garcia Neto, Eurico Gonçalves, Roberto Monteiro, Luís Filipe Colaço e seu irmão, Nene Pisarro, Saraiva de Carvalho e tantos de muito boa gente que não fazendo vida de café, ajudou à mesa do café Tropical decidir muito da vida colectiva de muitos, e de cada um.
Carlos de Oliveira, João Cochofel, Fernando Assis Pacheco, José Carlos de Vasconcelos, tiveram poiso certo no Tropical antes de debandarem para outras paragens. Em determinada altura 60m2 de sala, distribuídas por oito mesas, apertadíssimas conseguiam reunir um pouco da elite intelectual de Portugal e colónias, em circunstancias que as pessoas terão pensado que nunca se chegaria a situações que vamos vivendo, sintetizada na velha frase do nosso descontentamento, e do esboroar dos sonhos: “Não foi isto que combinámos!”
Porque me apetece recordar Joaquim Namorado, que tanto me ensinou, menos Matemática, e convenhamos bem tentou, aqui fica o seu poema: “Fábula”
No tempo em que os animais falavam/ Liberdade! / Igualdade! / Fraternidade!
Fernando Pereira
2/5/2010
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