11 de outubro de 2008

Fotos de Angola nos anos 80

Kinfangondo,bandeiras que estavam no lugar da heróica batalha!

Chicala, pôr do sol, foto de FP da Fortaleza (1985)

Forte de Massangano (1982)

10 de outubro de 2008

O incontornável Dr. Videira/ Novo Jornal/ Ágora / Luanda/ 10-10-08



O Incontornável Dr. Videira


Um determinado indivíduo estava na barra do tribunal acusado de ter chamado "filho da p...", com todas as letras que nós conhecemos, a um outro que então se queixava. O advogado de acusação, o Dr. Videira, pedia punição severa, como era seu hábito. O outro causídico, na pele de advogado de defesa, dizia que, afinal, "filho da p..." não era ofensa... que era assim a modos que... uma palavra que se dizia, que entrava no vocabulário normal... que era só uma expressão que já era vernácula, normal...O bom do Dr. Videira ia ouvindo... ouvindo... e... nada, não mexia um músculo da cara. Até que o Juiz, admirado com a passividade, o interrogou mesmo. - Será que a acusação não tem nada a dizer? E o Dr. Videira, com o ar de bonacheirão que sempre teve... foi dizendo:- Claro que não, meritíssimo. Depois da brilhante defesa que o "filho da p..." do meu colega fez... que é que eu posso dizer? E o outro: - Senhor Dr. Juiz... Senhor Dr. Juiz...o meu colega Videira está a ofender-me. - Ah, sim?! Agora já é ofensa ?
Esta história é verdadeira, e apenas uma das muitas que fizeram do causídico António Videira, uma das personagens mais marcantes da sociedade luandense do século XX.
Licenciado em Coimbra em 1912, embarcou para Luanda dois anos depois para em 1916, fundar “O Jornal de Angola”, que nada tem a ver com o que conhecemos actualmente, e que seria um jornal politica e culturalmente activo, na sociedade luandense muito fechada, excessivamente marcada pela intriga, e muito pouco permissiva a alterações culturais que pudessem alterar o status quo prevalecente.
Rapidamente destituído de director pelo Centro Democrático de Angola, a sua resignação já tem algo de premonitório, no que virá a ser a sua intervenção cívica e política na sociedade luandense até à sua morte em 1955: “Sou gaúche em todas as coisas. Anunciei um jornal político, e quase só acusei correlegionários; prometi pugnar pelo desenvolvimento desta província, e lançam-me a responsabilidade de o ter entravado, delineei um critério mais justo para mais justa apreciação de brancos e pretos, europeus e indígenas, civilizadores e civilizandos, e a política local caça votos, acusando-me de pretofobo..."
António Videira morava numa vivenda na ladeira que desemboca no Cine Tropical, na zona das Ingombotas, e segundo as descrições, era frequente vê-lo com o seu fato completo de linho branco, num carro descapotável, acompanhado com um macaquinho de estimação, que utilizava para as suas diatribes, principalmente contra o servilismo político e a hipocrisia de uns tantos conservadores, que naturalmente não achavam grande piada a um homem, que sempre afirmou os seus princípios de democrata, e de combatente pelo debate de ideias.
Recuando um pouco, ao seu escrito de resignação do Jornal de Angola: “Não posso mais. Cedo. O meio é um charco; e, de tanto mexer na lama, sinto-me agoniado." "Fujo. Perseguido? -Não. Estafado e enojado. Desgostoso comigo mesmo pela falta de persistência que inutiliza a minha acção e deliberadamente convencido de que é impossível, já agora, salvar-se este país da falência moral para que caminha. (...), vemos que António Videira acreditava em valores que a sociedade angolana não ousava sequer querer conhecer.
O meu falecido amigo Felisberto Lemos, ofereceu-me um dos seus livros, “Angola – 10 Bilhetes Postais Ilustrados”, excelente obra sobre a fauna e a natureza de Angola, com desenhos de Neves de Sousa, e que é uma estimável relíquia, para os poucos que ainda o possuem.
Deste homem que se descrevia ,"Cidadão português, domiciliado em Luanda, de jure no gozo dos seus direitos civis e políticos, livre de culpa, bacharel em Direito", há centenas de histórias que passaram a lenda, e não deixa de ser curioso que há algumas que ainda hoje se mantém com devido realce na história jurídica portuguesa.
Entre várias, há um recurso para o Supremo Tribunal em Lisboa, relativa a uma acção em que o juiz terá dito ao Dr. Videira, para não vir ao tribunal “dar música”. Com base nisso o ilustre advogado, resolveu enviar no início da exposição, a pauta musical com a abertura do Anel do Nibelungo, ópera de Richard Wagner, ficando o juiz furibundo, ameaçando-o de um processo de desrespeito pelo tribunal, mas o bom senso do colectivo acabou por saudar o bom humor do Dr. António Videira.
Pode mesmo dizer-se que em histórias, esta Videira deu mesmo muita uva.

Fernando Pereira 4/10/08


Segue um desenho de Roberto Silva (Província de Angola - Natal 1936)

8 de outubro de 2008

Re/re/re fotografias dos Jogos da África Central


Esta foto é de um amigo que já faleceu. Um bom árbitro de basquetebol de Angola. Kaluei, aqui fica a saudade. Os jogos da África Central foram também brilhantes porque estiveste lá!


A pira "olímpica" já acesa

ReRe fotos dos Jogos da África Central

Se quiserem mais peçam!!!Talvez tenham sorte em ter alguma que interesse!

Re ainda fotos dos Jogos da África Central / Luanda 1981


Mais um pormenor do festival de abertura!

Prova de ciclismo nas ruas de Luanda

Bernardo Manuel vencedor no meio-fundo!

Ainda fotos dos jogos da África Central /1981/ Luanda


Bandeiras dos países presentes!

Transporte da bandeira dos Jogos

Entrega da bandeira a Evaristo Domingos Kimba, comissário provincial de Luanda.
Vê-se também na foto Rui Mingas (SEEFD), Presidente dos jogos e Helder Moura (Dédé) Secretário Geral.
O de fato verde, era Ministro dos Desportos da Republica Centro Africana, aliás a esta hora do dia já o tinha sido, pois o seu governo tinha sido derrubado por um golpe de estado, precisamente ao mesmo tempo que decorria esta cerimónia!

Mais Fotos dos Jogos da África Central / Luanda 81


Presidente da Republica, José Eduardo dos Santos declara abertos os Jogos

Um belíssimo pormenor da abertura dos Jogos



Selecção de Andebol masculina da RPAngola presente nos jogos!

4 de outubro de 2008

MEMÓRIAS DE ADRIANO/ NOVO JORNAL/ ÁGORA/ LUANDA





MEMÓRIAS DE ADRIANO

O livro de Marguerite Yourcenar, “Memórias de Adriano”, foi provavelmente dos mais fascinantes livros que li na minha vida, e curiosamente um dos poucos que mereceram que o tivesse relido.
Não é propriamente sobre o livro de Yourcenar que irei escrever, mas que é adequado adaptá-lo ao contexto da análise de vida de Adriano João Sebastião, não se me oferece qualquer dúvida.
Acho que é da mais elementar justiça, falar do livro “Dos campos de algodão aos dias de hoje”, uma saga histórica que os fautores da historiografia angolana nunca poderão esquecer de referenciar.
O livro, edição do autor, saiu do prelo em 1993, teve uma circulação limitada, alguma pobreza na apresentação gráfica, com folhas mal coladas à lombada, mas em tudo o resto com uma sobriedade descritiva, sem outra pretensão que não seja a de deixar um testemunho vivido, e em muitos casos sobrevivido, a gerações de angolanos que felizmente não viveram as agruras da segregação colonial.
O livro é prefaciado pelo escritor Raul David, já falecido há alguns anos, em todo é um percurso de determinação, sofrimento, coragem e desprendimento de uma pessoa que escolheu o caminho mais difícil, mas também o mais correcto.
Este documento humano, de uma enorme importância no contexto da luta de libertação, desde a década de 30 a 60, é feito numa linguagem muito simples, sem rancores, e com uma carga de ternura só própria de uma pessoa de grande carácter e de profunda dedicação a causas da libertação, da justiça e da independência do País.
Nas quase 150 páginas do livro, Adriano Sebastião fala das movimentações políticas em que participou, nas cadeias onde esteve, nas circunstancias em que foi preso, no sofrimento dos seus companheiros de cárcere, nas dissidências oportunistas de uns quantos, em suma num período muito fecundo de um movimento popular de libertação de Angola, ainda sem MPLA.
No meio de toda esta descrição, de uma vivencia continuada de luta, Adriano Sebastião nunca deixa de fazer referencia a seus pais, às dificuldades que passou, desde que aos oito anos teve o seu primeiro trabalho, o ter que arranjar a estrada, até à sua vida de casado, onde fruto das circunstancias políticas, tinha que ter dolorosas separações da sua esposa e suas filhas, personagens constantes ao longo da obra, onde não consegue esconder uma embevecida ternura.
O que é ainda revelador de grande estatura moral deste “Senador” angolano, é a sua frontalidade ao criticar atitudes de outros, que quando passaram a ocupar lugares de relevo no aparelho doe Estado, esqueceram completamente solidariedades e cumplicidades passadas, alijando amigos, para treparem rapidamente os patamares que os levassem ao poder (ex. Pag. 111 o.c.).
A minha relação com Adriano João Sebastião, coincidiu com o período em que exerceu o cargo de primeiro embaixador da Republica Popular de Angola em Portugal, para onde foi nomeado por Agostinho Neto em Abril de 1978, na sequencia do encontro de Bissau entre os presidentes de Angola e Portugal, Agostinho Neto e Ramalho Eanes respectivamente, que quebraram um degelo nas relações entre os dois Países.
Ocasionalmente era chamado pelo embaixador Adriano Sebastião, para uma ou outra tarefa, nomeadamente na área da educação, o que posso adiantar é que para além da S. finíssima educação, da sua bonomia, a imagem que mantenho é a de um homem probo, dedicado à causa publica, à sua família, aos seus amigos e acima de tudo refém dos seus valores.
Os seus tempos de embaixador não foram particularmente fáceis, pois as circunstancias que rodeavam as relações entre Angola e Portugal eram de permanente conflitualidade, ao nível da imprensa, de lobbies vários e até no contexto institucional. Tentou gerir tudo isso sem a jactância que outros imprimiam, assumindo uma actuação discretíssima.
Em Luanda também ia havendo movimentações, no sentido de dificultar a sua acção, e pressionar dessa forma a sua rápida substituição, mas não alterou a forma de estar no seu posto, mantendo incólume o prestígio e ajudando muita gente com o saber acumulado.
Gente como Adriano Sebastião são referencias de um passado que a história de Angola escreverá com realce.

Fernando Pereira
26/09/08

27 de setembro de 2008

Anuncios coloniais



Domingo de Luanda em 1985




Domingo de Luanda em 1985




Narcisista como sou...o 1º cartão de sócio da Académica de Coimbra


BI azul de cidadão da RPA em Portugal


Iº Seminário Nacional da Informação em Angola



Cartão de livre de transito do locatário deste blog, nesse seminário!

Documentagem angolana e afins...



Bilhete de Identidade dos tempos da RPA




Cartão de bens industriais dos tempos da opção socialista do País.





O meu cartão de identidade de coordenação dos 2ºs Jogos da àfrica Central em Luanda 1981

26 de setembro de 2008

Nido e Bem Criado/Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 25/9/08



De quando em vez vou escrevendo de coisas que fazem parte do nosso quotidiano, e que de uma forma ou doutra, nunca nos são indiferentes de todo, mas só lhe damos verdadeira atenção quando sentimos a sua falta.
Uma lata cilíndrica, com cores de amarelo, branco ,verde e vermelho, faz parte do meu quotidiano desde que me conheço, e é presença continuada nos lares de Angola há muitas gerações, ainda que por vezes indesejavelmente descontinuada, mas isso é outra conversa!
Tudo isto se resume a quatro palavras apenas, que sendo poucas, são as maiores que qualquer mãe pode ter: uma lata de leite Nido!
Em termos de história, o leite Nido surge em Angola, já depois da publicação do Acto Colonial em 1930, e a partir daí foi sempre presença, algumas vezes mais efectiva que outras, na dieta alimentar das crianças que viviam no País, o que não foi exactamente o mesmo que serem angolanas.
A sua presença foi concomitante com a 2ª Guerra Mundial, com o início da luta armada, com o ocaso do colonialismo, com o advento da independência, com a institucionalização do socialismo utópico e da sua continuação até à fase primeira, e também nunca ultrapassada, de socialismo científico, o pluripartidarismo, as sucessivas guerras, a economia de mercado e o liberalismo económico, sempre a par com as sucessivas bandeiras, esperando que a sumir-se, aconteça muito antes, da vermelha, amarela e preta do nosso eterno contentamento.
Leite gordo em pó, o Nido vai calando as bocas e aconchegando as barrigas, tão desesperadas de outras esperadas. Mas o Nido vai fazendo jus à sobriedade da sua apresentação, e garantidamente é um produto de excelência, no quotidiano dos lares de Angola.
Como muitos da sua espécie, são alguns dos poucos símbolos positivos de uma globalização, a que Álvaro Cunhal, antigo secretário-geral do partido comunista português, terá dito que sempre existiu, mas era conhecida como “imperialismo”, isto numa derivação pouco aleitada sobre o tema em epígrafe.
Voltando ao leite Nido, que para além das reconhecidas propriedades calóricas, proteicas e vitamínicas, faz-me regressar aos meus tempos de miúdo em que “à sorrelfa” comia colheradas de leite em pó, e que invariavelmente davam uma gastroenterite de proporções assinaláveis, provavelmente porque misturava figo de cacto e manga quente da mangueira do quintal.
Algo que timoratamente foi fazendo parte do quotidiano de Luanda, e um pouco do País todo, foi o facto da lata de leite Nido, ser já há vários anos uma autentica peça de design de mobiliário urbano, muito antes do aparecimento da “Moviflor” e a antecipar a instalação de um IKEA na nossa cidade capital.
Não há rabo que se preze, que não tenha no seu currículo um sentar numa lata de leite Nido, ou num banco suportado por duas ou três latas encimado por uma tábua. Nunca foi o banco do poder, mas durante anos foi o mobiliário de muita escola, e ainda hoje se vai perpetuando. No mercado, na rua, à porta de casa, onde há alguém com algo para vender vemos sempre a “Nidinha”, ora para fazer um vinco nas nádegas mais descobertas, ora para servir de suporte à kitanda, ou à bacia de plástico onde estão os bens colocados no mercado real, suporte simultâneo da economia doméstica e abastecimento regular à população de alguns produtos essenciais.
Apesar de nunca ter apreciado muito as sonoridades extraídas, na lata do Nido iniciaram-se alguns artistas de djambé, e eventualmente alguns bateristas, o que só reforça o carácter pedagógico da marca que a Nestlé pariu.
Reforço a minha convicção que o leite Nido conseguiu coabitar entre o publico, o privado e o alternativo, pois por vezes podia acontecer, não com a frequência desejada a coabitação do produto nos Nzambas públicos de boa e má memória, na mercearia e no mercado paralelo.
Porque preciso de rematar este texto só me apraz dizer: Há lata para tudo!

Fernando Pereira 22/09/08

19 de setembro de 2008

Martin Luther King/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 20-9-09





Martin Luther King

Foi no passado dia 4 de Abril que fez quarenta anos, em Memphis, estado do Tennessee, que Marthin Luther King foi cobardemente assassinado, num cenário de grande efervescência racial, nos EUA, principalmente nas cidades do Sul, onde o segregacionismo racial era vincadíssimo, apesar de se ter passado um século da abolição da escravatura, e cento e oitenta anos da ratificação da constituição americana.
Em 28 de Agosto de 1963, o reverendo Luther King, prémio Nobel da paz em 1964, faz um dos discursos mais importantes da história contemporânea da luta pelos direitos humanos, em Washington, perante uma multidão estimada em duzentas mil pessoas, e em que as suas palavras de “Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais” , foram uma bandeira, na difícil e permanente luta para a erradicação do racismo no mundo.
Em Memphis, cidade emblemática da cultura americana, já que foi nela que viveu e morreu Elvis Presley, e que com New Orleans e Nashville fazem o triangulo maior do jazz, do rock e do blues, a realidade é que, nesse dia 4 de Abril de 1968, os sectores mais abjectos da sociedade racista e falsamente moralista dos EUA, perpetraram um crime que ainda acicatou mais os tumultos raciais, em estados como o Alabama, o Nebraska e o Mississípi. Este incidente somado às provocações e desmandos do Ku-Klux-Klan e seus acólitos, com a complacência das autoridades e até com alguma cumplicidade de alguma magistratura, acabou por dar alguma “legitimidade” a seguidores radicais de Malcom X (assassinado em 1965, como já tinha sido seu pai, quando ele tinha apenas seis anos), e a outros grupos que acusavam Luther King de brandura, pela sua busca de soluções através do diálogo e da paciência.
Uma das maiores manifestações de denuncia das disparidades raciais que eram sujeitos os negros nos EUA, surgiram pelos atletas da sua equipa olímpica nos Jogos Olímpicos do México, disputados na Cidade do México de 12 a 27 de Outubro de 1968, os primeiros na América Latina e numa altitude a 2500m do nível do mar.
Para além de Dick Fosbury e a sua inovador técnica do salto em altura, dos resultados surpreendentes na velocidade e no salto em comprimento, com recordes a permanecerem imbatíveis 30 anos, principalmente o de Jim Hinnes nos 100m, e o de Bob Beamon no comprimento, a imagem forte dos jogos, foi sem duvida a saudação do “Black Power” no podium de Tommy Smith e John Carlos, que empunharam a luva negra ao som do hino dos EUA. Muitos outros atletas negros dos EUA se solidarizaram com a luta de Luther King e outros combatentes dos direitos humanos, o que levou o Comité Olímpico Americano a tirar medalhas a alguns atletas e a criar uma campanha conseguida para estigmatizar outros, sendo que alguns, não aguentaram a tortura psicológica que foram vítimas e viram as suas vidas desfeitas pela droga e pelo álcool.
O ano de 1968 foi um ano particularmente importante no século passado, pois foi um ano que assistiu ao recrudescimento da guerra do Vietname e a uma contestação em crescendo nos EUA e um pouco por todo o mundo, a Revolução Cultural na China na sua plenitude, a Primavera de Praga e o seu inerente colapso motivado pela invasão da Checoslováquia pelas tropas de Moscovo, o que levou à maior cisão no movimento comunista internacional e não ignorando as revoltas estudantis, que em jeito de efeito dominó irromperam pelo mundo.

Fernando Pereira
14 /09/08

13 de setembro de 2008

CHOVE EM SANTIAGO / ÁGORA /NOVO JORNAL/ LUANDA 12/9/08





CHOVE EM SANTIAGO

"Eu não vejo porque nós temos de esperar e olhar um país tornar-se comunista, devido a irresponsabilidade de seu povo". Henry Kissinger, laureado com o Prémio Nobel da paz em 1973, dizia a justificar a “operação Condor”, nome da sinistra movimentação de conluio entre as ditaduras da América latina e os EUA governado por Nixon, e que levou à queda de Salvador Allende no Chile.
Neste 11 de Setembro de 2008, comemoram-se trinta e cinco anos do golpe de Pinochet, e comemoram-se sete anos sobre um atentado que ainda hoje deixa no ar uma série de especulações, e daí aguardar por ulteriores dados, para provavelmente arriscar a ter uma opinião mais fundamentada.
Porque em 11 de Setembro de 1973, o golpe foi instigado, preparado e prontamente reconhecido como inevitável pelos EUA, que eram o “eixo bom” contra o “eixo do mal” do tal “povo irresponsável”, foi este mesmo “eixo do bem”, vítima vinte e quase trinta anos depois, de um ataque soes do “eixo do mal”.
Esta lógica é perturbante, quando alterada a geopolítica do mundo, o “eixo do bem”, é sempre o mesmo, e o “eixo do mal” todos os que estão em desacordo, ou que afrontem os desígnios e interesses dos que como E.Wilson dizia: “O que é bom para a General Motors é bom para os EUA”, por exemplo.
Porque acho que se há 11 de Setembro que efectivamente me marca, é indiscutivelmente o de 1973, porque não foi apenas a tenacidade de um grande militante de causas que desapareceu, Salvador Allende, mas acima de tudo a traição a um povo inteiro, que se engajou num projecto colectivo de transformar o Chile numa democracia política e económica plena.
Allende (1908-1973) era um médico, que perdeu as eleições em 1964, e que em 1970, foi o primeiro presidente marxista a ser eleito em toda a América, depois de ter tido um percurso político como ministro e deputado. A vitória da Frente de Unidade Popular é de 36%, e cedo começam os boicotes, tendentes a impedir que projectos de grandes reformas, como a agrária, e as nacionalizações de grandes grupos mineiros pertença de companhias estado-unidenses, pudessem ser levadas a cabo.
A firmeza democrática de Salvador Allende, possibilitou que a imprensa, maioritariamente controlada pela direita afecta ao “internacionalismo monetário”, fizesse a sua campanha de desgaste, com a ajuda de uma igreja católica, que foi no golpe de Pinochet decapitada de alguns críticos, que embora não gostando de Allende, não conseguiram pactuar com o terror instalado.
Quando a frase “ Chove em Santiago” (título de um filme de Helvio Soto de 1975) foi ouvida, todos sabiam que o golpe de estado que pairava no ar estava em desenvolvimento. No palácio de “La Moneda”, Allende e uns fiéis entrincheiraram-se, resistiram até onde foi possível (muito bem retratado num magnífico filme de Patrício Guzman, “ A Batalha do Chile”) e onde foram difundidas as suas ultimas palavras: "Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. (...) E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.".
Cumpriu-se este ano o centenário do nascimento de Salvador Allende, como se cumpre trinta e cinco do seu assassinato, curiosamente no mesmo dia em que com pompa e circunstancia se inaugurava em Nova Iorque o World Trade Center, que num outro 11 de Setembro (2001) haveria de colapsar, perante um atentado de contornos ainda pouco esclarecidos.
Porque Angola foi lugar de acolhimento de muitos chilenos, que conseguiram fugir à bestialidade de Pinochet e seus algozes de confiança, é-me particularmente grato fazer esta referencia a “um homem a quem as alamedas da história estarão sempre abertas”, como bem diz o notável escritor chileno, também um refugiado, Luís Sepúlveda, que recomendo a leitura da sua excelente obra.
Nesse Chile onde se assassinou a esmo, em 22 de Setembro de 1973, morre também Pablo Neruda, um poeta que não aguentou o sangramento da sua terra.
Nunca esta frase de Brecht foi tão assertiva: “Quando o povo não serve, muda-se o povo”

4 de setembro de 2008

NATAL É QUANDO UM HOMEM QUISER!/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 5/09/08


NATAL É QUANDO UM HOMEM QUISER!

Peguei nesta frase imorredoira do Ary dos Santos, porque a Ágora vai oferecer aos ministros do Gurn, em fim de GURNevação, uma prenda pelo empenho, desempenho e desempenhamento das finanças, nestes quase 16 anos de vigência, vivencia e convivência.
1º Ministro-Fernando Piedade dos Santos, Nandó, vai receber “Tropa de Elite”, filme de José Padilha (2007).O livro vai ser “Samarcanda” do libanês Amin Malouf/ Ministro da Administração do Território, Fontes Pereira, vai ter direito a “Este País não é para velhos” dos irmãos Cohen (2008), e o livro “AS Benevolentes” de Jonathan Littel./ Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro, Aguinaldo Jaime, “A riqueza e a pobreza das Nações” de David Lands, e de 1948, “Ladrões de Bicicletas” de Vittorio de Sicca, que para mim é um dos meus filmes preferidos! /Para o titular das Relações Exteriores,Bernardo Miranda, “Da Sedução” de Bertolt Brecht, e o filme é “Tudo Bons Rapazes” de Martin Scorsese (1990)/. Ao Ministros das Finanças, José Pedro de Morais, “Morte e vida de Severina” de João Cabral Melo Neto, e “A Cor do Dinheiro” de Martin Scorsese (1986)/ Para a ministra do Planeamento Ana Dias Lourenço, “ A Quimera do Ouro” do incontronável Charlie Chaplin (1925), e o “Eva Luna” de Isabel Allende/ Para Kundy Paihama, ministro da Defesa, o “Há lodo no cais”, filme de Ellia Kazan (1954), “ A Noite e o Riso” de Nuno Bragança, um livro notabilérrimo!/Roberto Leal Monteiro (Ngongo),ministro do Interior, o livro “Coimbra 1969” de Celso Cruzeiro, e o filme “ A Melhor Juventude”(2003) de Marco Tullio Giordana/Para Desidério Costa, ministro dos Petróleos, o “Gigante” protagonizado pelo James Dean de 1956, realizado por George Stevens. O livro pode ser o já antigo “ Desafio Mundial” de Jean-Jacques Servan-Schreiber/ Para Joaquim David, ministro da Industria, “ O aviador “ de Martin Scorsese (2004), e a “Miséria do Capital” de Michel Husson./ Manuel Aragão, ministro da Justiça vai receber “Os Intocáveis” de Brian de Palma (1987) e o livro será “Os Intérpetres” de Wole Soyinka /Ao Manuel Rabelais, ministro da Comunicação Social, recebe “Notícia de um sequestro” do Gabriel Garcia Marques, e o filme que oferecemos é o “Citizen Kane”, essa obra-prima de Orson Welles (1941)/Ao ministro das Obras Publicas, Higino Carneiro,o filme “Good Bye Lenin!” de Wolfgang Becker (2003) e o “Livro do riso e do esquecimento” do Milan Kundera./A Marcus Barrica, ministro da Juventude e Desportos, o filme “Charriots of fire”, traduzido para português por “Momentos de Glória”de Hugh Hudson (1981) e também a obra de Desmond Morris “A Tribo do Futebol”/ Para o ministro da Educação, Burity da Silva, o filme é o “Clube dos Poetas Mortos”, de Peter Weir de 1989, e o “Ensaio sobre a Cegueira” do José Saramago/ A Boaventura Cardoso, nosso ministro da Cultura, o “1900” de Bertolucci e “Dom Quixote de La Mancha” de Cervantes”/Ao ministro da Agricultura; Afonso Canga, “As povoações históricas de Angola” do Fernando Batalha, e o filme é do Spilberg, “ The Color Purple (1985)”/Para o Ministro dos Transportes, Augusto Tomás, o filme “Nas Asas do Desejo” de Wim Wenders (1987) e o livro “Numa segunda-feira de certeza” de Nadine Gordimer/Para Salomão Xirimbibi, ministro das Pescas, o Livro de Hergé “ O Segredo do Licorne”, e o filme “ A Revolta na Bounty” de Frank Loiyd de 1935/Para o titular da Saúde, Ruben Sicato, o livro de Hemingway, “Por quem os sinos dobram” e o filme “ Sexo e Corn Flakes” de Alan Parker de 1994/ Para Joaquim Muafuama, ministro do Comércio, “Hotel Ruanda” de Terry George (2004), e “Roque Santeiro- Entre a ficção e a realidade” de Carlos Lopes/ Para Pitra Neto, ministro da Administração Publica, Emprego e Segurança Social, o filme “ O Sal da Terra”(1953) de Herbert Biberman e o livro de Arturo Peres-Reverte, “A Rainha do Sul”/Para o ministro da Geologia e Minas, Manuel Africano, “ 007-Os diamantes são eternos” (1971) e o livro “O Rapaz da Mina” de Peter Abrahams /A ministra da Família recebe o filme de Visconti “Rocco e seus irmãos”(1960) e o livro “O Monte cinco” de Paulo Coelho/Licínio Ribeiro, ministro dos Correios e Telecomunicações o óbvio será “ O carteiro toca sempre duas vezes” de Bob Rafelso, filme de 1981, e o livro escolhido é o “Todos os Nomes” do José Saramago/ Para João Kussumua, ministro da Assistência e Reinserção Social, o filme é “O Charme discreto da burguesia” de Luis Bunuel (1972), e o livro é o “ A Casa do Rio” de Manuel Rui/ Para o ministro dos Antigos Combatentes, Pedro Van-Dunem, o filme de Clint Eastwood “Flags of Our Fathers”(2006) e o livro “ A Condição Humana” de André Malraux. /Para Botelho de Vasconcelos, ministro da Energia e Águas, o livro escolhido é “Choque do Futuro” de Alvin Toffler e o filme é de 1979 “ O Sindroma da China”./Para o ministro do Ambiente Diakupuna José , o livro é “ A um Deus desconhecido” de Steinbeck e o filme “ O Monte Abraão” do Manuel de Oliveira. Para finalizar e para o ministro José Ngandagina, ministro da Ciência e Tecnologia, “ Os Tempos Modernos” de Charlie Chaplin e “ As sete estradinhas de Catete” de Paulo Bandeira Faria.
Quero esclarecer que nesta escolha,os livros e filmes tem apenas que ver com o conjunto da actividade política dos titulares dos cargos, ou por vezes o seu continuado desaparecimento dos media.
É uma avaliação naturalmente subjectiva, e sem propósitos acessórios, que não fosse o de possibilitar um artigo diferente em dia de eleições, e que fará que alguns dos presenteados fiquem em novo governo, mas outros irão para outras actividades, e levam esta oferta.
A quem não gostar cumpre-me lembrar que uma oferta nunca se deve rejeitar em circunstancia alguma, como é timbre nas relações entre pessoas que se respeitam.
Fernando Pereira
1/9/08

30 de agosto de 2008

O MEU MERCEDES É MAIOR QUE O TEU/ ÁGORA/ NOVO JORNAL/lUANDA /29-8-08





O MEU MERCEDES É MAIOR QUE O TEU

Decidi apropriar-me deste título, de um livro magnífico, do poeta Nkem Nwankwo, que com Wole Soyinka, Chinus Achebe, Amos Tutuola, Ken Saro-Wiwa e Ciprian Ekwensi, constituem o conjunto dos mais conhecidos poetas da literatura nigeriana.
Aproveitei este título, porque era apelativo e muito identificado com o quadro de valores na sociedade angolana actual, para além de ser um notável romance, para chamar à atenção para um artigo que nada tem de roncos de motores.
Este livro era um dos títulos de uma excelente colecção, “Vozes de África”, editado pelo INALD, que ao nível da edição, conseguiu com a União de Escritores Angolanos colocar Angola na dianteira no continente africano no fim dos anos 70, na esteira do prémio da UNESCO atribuído ao País em 1978, pelo esforço na tentativa de erradicar o analfabetismo.
A colecção “Vozes de África”deu a conhecer ao leitor angolano, autores que anos mais tarde foram prémios Nobel, e estou a recordar Soyinka e Nadine Gordimer por exemplo, mas também outros como Diop, Béti, Gabriel Okara, Worku, Henri Lopes, Mongo Beti, entre muitos, e que foram surpresas bem agradáveis.
Nesta passagem pela edição do livro no dealbar da Angola independente, não podemos ignorar a colecção das “Vozes da América Latina”, onde lemos autores como Alejo Carpentier, o “Nobelado” Miguel Anjel Astúrias, Juan Rulfo, Augusto Roa Bastos, e a outros fiquei a conhecer e a admirar.
O INALD ainda promoveu algumas colecções de livros juvenis africanos, nomeadamente a “Colecção Grande Sol”, e também um grande enfoque aos livros infantis e infanto-juvenis, com edições excelentes e graficamente apelativas para as crianças.
A União de Escritores Angolanos, conseguiu editar praticamente tudo que havia da literatura angolana, que naturalmente tinha um espaço limitado na Angola colonial. A UEA foi um instrumento determinante no emergir de novos valores nas letras angolanas, e que hoje tem uma expressão de grande notoriedade nas letras lusófonas.
Há alguns críticos desse período, afirmando que a UEA publicava “autores menores”, mas não é despiciente a qualidade de muitos que debutaram na escrita, pelo facto de terem uma instituição que apoiava e estimulava a criação literária, algo que continua a ser feito hoje.
No conto, no romance, na biografia, na história, no ensaio, a UEA deu-nos a possibilidade de conhecermos o país, as suas múltiplas idiossincrasias, e acima de tudo de ter sido o “espólio” de tanta história que se perderia inevitavelmente, pelas sucessivas levas de valores vividos e desvividos.
Para tantos que esquecem que o trabalho do intelectual é inerente ao desenvolvimento de um país, é salutar lembrar que a UEA, o INALD e o Ministério da Educação fizeram um esforço tremendo para que as letras angolanas chegassem a todo o País, num esforço que hoje é algo esquecido pela voragem do betão, do vidro fosco e da negociata.
Talvez mesmo por essa ordem de razões, me lembrei que “O meu Mercedes é maior que o teu”!
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