27 de setembro de 2008

Domingo de Luanda em 1985




Narcisista como sou...o 1º cartão de sócio da Académica de Coimbra


BI azul de cidadão da RPA em Portugal


Iº Seminário Nacional da Informação em Angola



Cartão de livre de transito do locatário deste blog, nesse seminário!

Documentagem angolana e afins...



Bilhete de Identidade dos tempos da RPA




Cartão de bens industriais dos tempos da opção socialista do País.





O meu cartão de identidade de coordenação dos 2ºs Jogos da àfrica Central em Luanda 1981

26 de setembro de 2008

Nido e Bem Criado/Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 25/9/08



De quando em vez vou escrevendo de coisas que fazem parte do nosso quotidiano, e que de uma forma ou doutra, nunca nos são indiferentes de todo, mas só lhe damos verdadeira atenção quando sentimos a sua falta.
Uma lata cilíndrica, com cores de amarelo, branco ,verde e vermelho, faz parte do meu quotidiano desde que me conheço, e é presença continuada nos lares de Angola há muitas gerações, ainda que por vezes indesejavelmente descontinuada, mas isso é outra conversa!
Tudo isto se resume a quatro palavras apenas, que sendo poucas, são as maiores que qualquer mãe pode ter: uma lata de leite Nido!
Em termos de história, o leite Nido surge em Angola, já depois da publicação do Acto Colonial em 1930, e a partir daí foi sempre presença, algumas vezes mais efectiva que outras, na dieta alimentar das crianças que viviam no País, o que não foi exactamente o mesmo que serem angolanas.
A sua presença foi concomitante com a 2ª Guerra Mundial, com o início da luta armada, com o ocaso do colonialismo, com o advento da independência, com a institucionalização do socialismo utópico e da sua continuação até à fase primeira, e também nunca ultrapassada, de socialismo científico, o pluripartidarismo, as sucessivas guerras, a economia de mercado e o liberalismo económico, sempre a par com as sucessivas bandeiras, esperando que a sumir-se, aconteça muito antes, da vermelha, amarela e preta do nosso eterno contentamento.
Leite gordo em pó, o Nido vai calando as bocas e aconchegando as barrigas, tão desesperadas de outras esperadas. Mas o Nido vai fazendo jus à sobriedade da sua apresentação, e garantidamente é um produto de excelência, no quotidiano dos lares de Angola.
Como muitos da sua espécie, são alguns dos poucos símbolos positivos de uma globalização, a que Álvaro Cunhal, antigo secretário-geral do partido comunista português, terá dito que sempre existiu, mas era conhecida como “imperialismo”, isto numa derivação pouco aleitada sobre o tema em epígrafe.
Voltando ao leite Nido, que para além das reconhecidas propriedades calóricas, proteicas e vitamínicas, faz-me regressar aos meus tempos de miúdo em que “à sorrelfa” comia colheradas de leite em pó, e que invariavelmente davam uma gastroenterite de proporções assinaláveis, provavelmente porque misturava figo de cacto e manga quente da mangueira do quintal.
Algo que timoratamente foi fazendo parte do quotidiano de Luanda, e um pouco do País todo, foi o facto da lata de leite Nido, ser já há vários anos uma autentica peça de design de mobiliário urbano, muito antes do aparecimento da “Moviflor” e a antecipar a instalação de um IKEA na nossa cidade capital.
Não há rabo que se preze, que não tenha no seu currículo um sentar numa lata de leite Nido, ou num banco suportado por duas ou três latas encimado por uma tábua. Nunca foi o banco do poder, mas durante anos foi o mobiliário de muita escola, e ainda hoje se vai perpetuando. No mercado, na rua, à porta de casa, onde há alguém com algo para vender vemos sempre a “Nidinha”, ora para fazer um vinco nas nádegas mais descobertas, ora para servir de suporte à kitanda, ou à bacia de plástico onde estão os bens colocados no mercado real, suporte simultâneo da economia doméstica e abastecimento regular à população de alguns produtos essenciais.
Apesar de nunca ter apreciado muito as sonoridades extraídas, na lata do Nido iniciaram-se alguns artistas de djambé, e eventualmente alguns bateristas, o que só reforça o carácter pedagógico da marca que a Nestlé pariu.
Reforço a minha convicção que o leite Nido conseguiu coabitar entre o publico, o privado e o alternativo, pois por vezes podia acontecer, não com a frequência desejada a coabitação do produto nos Nzambas públicos de boa e má memória, na mercearia e no mercado paralelo.
Porque preciso de rematar este texto só me apraz dizer: Há lata para tudo!

Fernando Pereira 22/09/08

19 de setembro de 2008

Martin Luther King/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda/ 20-9-09





Martin Luther King

Foi no passado dia 4 de Abril que fez quarenta anos, em Memphis, estado do Tennessee, que Marthin Luther King foi cobardemente assassinado, num cenário de grande efervescência racial, nos EUA, principalmente nas cidades do Sul, onde o segregacionismo racial era vincadíssimo, apesar de se ter passado um século da abolição da escravatura, e cento e oitenta anos da ratificação da constituição americana.
Em 28 de Agosto de 1963, o reverendo Luther King, prémio Nobel da paz em 1964, faz um dos discursos mais importantes da história contemporânea da luta pelos direitos humanos, em Washington, perante uma multidão estimada em duzentas mil pessoas, e em que as suas palavras de “Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais” , foram uma bandeira, na difícil e permanente luta para a erradicação do racismo no mundo.
Em Memphis, cidade emblemática da cultura americana, já que foi nela que viveu e morreu Elvis Presley, e que com New Orleans e Nashville fazem o triangulo maior do jazz, do rock e do blues, a realidade é que, nesse dia 4 de Abril de 1968, os sectores mais abjectos da sociedade racista e falsamente moralista dos EUA, perpetraram um crime que ainda acicatou mais os tumultos raciais, em estados como o Alabama, o Nebraska e o Mississípi. Este incidente somado às provocações e desmandos do Ku-Klux-Klan e seus acólitos, com a complacência das autoridades e até com alguma cumplicidade de alguma magistratura, acabou por dar alguma “legitimidade” a seguidores radicais de Malcom X (assassinado em 1965, como já tinha sido seu pai, quando ele tinha apenas seis anos), e a outros grupos que acusavam Luther King de brandura, pela sua busca de soluções através do diálogo e da paciência.
Uma das maiores manifestações de denuncia das disparidades raciais que eram sujeitos os negros nos EUA, surgiram pelos atletas da sua equipa olímpica nos Jogos Olímpicos do México, disputados na Cidade do México de 12 a 27 de Outubro de 1968, os primeiros na América Latina e numa altitude a 2500m do nível do mar.
Para além de Dick Fosbury e a sua inovador técnica do salto em altura, dos resultados surpreendentes na velocidade e no salto em comprimento, com recordes a permanecerem imbatíveis 30 anos, principalmente o de Jim Hinnes nos 100m, e o de Bob Beamon no comprimento, a imagem forte dos jogos, foi sem duvida a saudação do “Black Power” no podium de Tommy Smith e John Carlos, que empunharam a luva negra ao som do hino dos EUA. Muitos outros atletas negros dos EUA se solidarizaram com a luta de Luther King e outros combatentes dos direitos humanos, o que levou o Comité Olímpico Americano a tirar medalhas a alguns atletas e a criar uma campanha conseguida para estigmatizar outros, sendo que alguns, não aguentaram a tortura psicológica que foram vítimas e viram as suas vidas desfeitas pela droga e pelo álcool.
O ano de 1968 foi um ano particularmente importante no século passado, pois foi um ano que assistiu ao recrudescimento da guerra do Vietname e a uma contestação em crescendo nos EUA e um pouco por todo o mundo, a Revolução Cultural na China na sua plenitude, a Primavera de Praga e o seu inerente colapso motivado pela invasão da Checoslováquia pelas tropas de Moscovo, o que levou à maior cisão no movimento comunista internacional e não ignorando as revoltas estudantis, que em jeito de efeito dominó irromperam pelo mundo.

Fernando Pereira
14 /09/08

13 de setembro de 2008

CHOVE EM SANTIAGO / ÁGORA /NOVO JORNAL/ LUANDA 12/9/08





CHOVE EM SANTIAGO

"Eu não vejo porque nós temos de esperar e olhar um país tornar-se comunista, devido a irresponsabilidade de seu povo". Henry Kissinger, laureado com o Prémio Nobel da paz em 1973, dizia a justificar a “operação Condor”, nome da sinistra movimentação de conluio entre as ditaduras da América latina e os EUA governado por Nixon, e que levou à queda de Salvador Allende no Chile.
Neste 11 de Setembro de 2008, comemoram-se trinta e cinco anos do golpe de Pinochet, e comemoram-se sete anos sobre um atentado que ainda hoje deixa no ar uma série de especulações, e daí aguardar por ulteriores dados, para provavelmente arriscar a ter uma opinião mais fundamentada.
Porque em 11 de Setembro de 1973, o golpe foi instigado, preparado e prontamente reconhecido como inevitável pelos EUA, que eram o “eixo bom” contra o “eixo do mal” do tal “povo irresponsável”, foi este mesmo “eixo do bem”, vítima vinte e quase trinta anos depois, de um ataque soes do “eixo do mal”.
Esta lógica é perturbante, quando alterada a geopolítica do mundo, o “eixo do bem”, é sempre o mesmo, e o “eixo do mal” todos os que estão em desacordo, ou que afrontem os desígnios e interesses dos que como E.Wilson dizia: “O que é bom para a General Motors é bom para os EUA”, por exemplo.
Porque acho que se há 11 de Setembro que efectivamente me marca, é indiscutivelmente o de 1973, porque não foi apenas a tenacidade de um grande militante de causas que desapareceu, Salvador Allende, mas acima de tudo a traição a um povo inteiro, que se engajou num projecto colectivo de transformar o Chile numa democracia política e económica plena.
Allende (1908-1973) era um médico, que perdeu as eleições em 1964, e que em 1970, foi o primeiro presidente marxista a ser eleito em toda a América, depois de ter tido um percurso político como ministro e deputado. A vitória da Frente de Unidade Popular é de 36%, e cedo começam os boicotes, tendentes a impedir que projectos de grandes reformas, como a agrária, e as nacionalizações de grandes grupos mineiros pertença de companhias estado-unidenses, pudessem ser levadas a cabo.
A firmeza democrática de Salvador Allende, possibilitou que a imprensa, maioritariamente controlada pela direita afecta ao “internacionalismo monetário”, fizesse a sua campanha de desgaste, com a ajuda de uma igreja católica, que foi no golpe de Pinochet decapitada de alguns críticos, que embora não gostando de Allende, não conseguiram pactuar com o terror instalado.
Quando a frase “ Chove em Santiago” (título de um filme de Helvio Soto de 1975) foi ouvida, todos sabiam que o golpe de estado que pairava no ar estava em desenvolvimento. No palácio de “La Moneda”, Allende e uns fiéis entrincheiraram-se, resistiram até onde foi possível (muito bem retratado num magnífico filme de Patrício Guzman, “ A Batalha do Chile”) e onde foram difundidas as suas ultimas palavras: "Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. (...) E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.".
Cumpriu-se este ano o centenário do nascimento de Salvador Allende, como se cumpre trinta e cinco do seu assassinato, curiosamente no mesmo dia em que com pompa e circunstancia se inaugurava em Nova Iorque o World Trade Center, que num outro 11 de Setembro (2001) haveria de colapsar, perante um atentado de contornos ainda pouco esclarecidos.
Porque Angola foi lugar de acolhimento de muitos chilenos, que conseguiram fugir à bestialidade de Pinochet e seus algozes de confiança, é-me particularmente grato fazer esta referencia a “um homem a quem as alamedas da história estarão sempre abertas”, como bem diz o notável escritor chileno, também um refugiado, Luís Sepúlveda, que recomendo a leitura da sua excelente obra.
Nesse Chile onde se assassinou a esmo, em 22 de Setembro de 1973, morre também Pablo Neruda, um poeta que não aguentou o sangramento da sua terra.
Nunca esta frase de Brecht foi tão assertiva: “Quando o povo não serve, muda-se o povo”

4 de setembro de 2008

NATAL É QUANDO UM HOMEM QUISER!/ Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 5/09/08


NATAL É QUANDO UM HOMEM QUISER!

Peguei nesta frase imorredoira do Ary dos Santos, porque a Ágora vai oferecer aos ministros do Gurn, em fim de GURNevação, uma prenda pelo empenho, desempenho e desempenhamento das finanças, nestes quase 16 anos de vigência, vivencia e convivência.
1º Ministro-Fernando Piedade dos Santos, Nandó, vai receber “Tropa de Elite”, filme de José Padilha (2007).O livro vai ser “Samarcanda” do libanês Amin Malouf/ Ministro da Administração do Território, Fontes Pereira, vai ter direito a “Este País não é para velhos” dos irmãos Cohen (2008), e o livro “AS Benevolentes” de Jonathan Littel./ Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro, Aguinaldo Jaime, “A riqueza e a pobreza das Nações” de David Lands, e de 1948, “Ladrões de Bicicletas” de Vittorio de Sicca, que para mim é um dos meus filmes preferidos! /Para o titular das Relações Exteriores,Bernardo Miranda, “Da Sedução” de Bertolt Brecht, e o filme é “Tudo Bons Rapazes” de Martin Scorsese (1990)/. Ao Ministros das Finanças, José Pedro de Morais, “Morte e vida de Severina” de João Cabral Melo Neto, e “A Cor do Dinheiro” de Martin Scorsese (1986)/ Para a ministra do Planeamento Ana Dias Lourenço, “ A Quimera do Ouro” do incontronável Charlie Chaplin (1925), e o “Eva Luna” de Isabel Allende/ Para Kundy Paihama, ministro da Defesa, o “Há lodo no cais”, filme de Ellia Kazan (1954), “ A Noite e o Riso” de Nuno Bragança, um livro notabilérrimo!/Roberto Leal Monteiro (Ngongo),ministro do Interior, o livro “Coimbra 1969” de Celso Cruzeiro, e o filme “ A Melhor Juventude”(2003) de Marco Tullio Giordana/Para Desidério Costa, ministro dos Petróleos, o “Gigante” protagonizado pelo James Dean de 1956, realizado por George Stevens. O livro pode ser o já antigo “ Desafio Mundial” de Jean-Jacques Servan-Schreiber/ Para Joaquim David, ministro da Industria, “ O aviador “ de Martin Scorsese (2004), e a “Miséria do Capital” de Michel Husson./ Manuel Aragão, ministro da Justiça vai receber “Os Intocáveis” de Brian de Palma (1987) e o livro será “Os Intérpetres” de Wole Soyinka /Ao Manuel Rabelais, ministro da Comunicação Social, recebe “Notícia de um sequestro” do Gabriel Garcia Marques, e o filme que oferecemos é o “Citizen Kane”, essa obra-prima de Orson Welles (1941)/Ao ministro das Obras Publicas, Higino Carneiro,o filme “Good Bye Lenin!” de Wolfgang Becker (2003) e o “Livro do riso e do esquecimento” do Milan Kundera./A Marcus Barrica, ministro da Juventude e Desportos, o filme “Charriots of fire”, traduzido para português por “Momentos de Glória”de Hugh Hudson (1981) e também a obra de Desmond Morris “A Tribo do Futebol”/ Para o ministro da Educação, Burity da Silva, o filme é o “Clube dos Poetas Mortos”, de Peter Weir de 1989, e o “Ensaio sobre a Cegueira” do José Saramago/ A Boaventura Cardoso, nosso ministro da Cultura, o “1900” de Bertolucci e “Dom Quixote de La Mancha” de Cervantes”/Ao ministro da Agricultura; Afonso Canga, “As povoações históricas de Angola” do Fernando Batalha, e o filme é do Spilberg, “ The Color Purple (1985)”/Para o Ministro dos Transportes, Augusto Tomás, o filme “Nas Asas do Desejo” de Wim Wenders (1987) e o livro “Numa segunda-feira de certeza” de Nadine Gordimer/Para Salomão Xirimbibi, ministro das Pescas, o Livro de Hergé “ O Segredo do Licorne”, e o filme “ A Revolta na Bounty” de Frank Loiyd de 1935/Para o titular da Saúde, Ruben Sicato, o livro de Hemingway, “Por quem os sinos dobram” e o filme “ Sexo e Corn Flakes” de Alan Parker de 1994/ Para Joaquim Muafuama, ministro do Comércio, “Hotel Ruanda” de Terry George (2004), e “Roque Santeiro- Entre a ficção e a realidade” de Carlos Lopes/ Para Pitra Neto, ministro da Administração Publica, Emprego e Segurança Social, o filme “ O Sal da Terra”(1953) de Herbert Biberman e o livro de Arturo Peres-Reverte, “A Rainha do Sul”/Para o ministro da Geologia e Minas, Manuel Africano, “ 007-Os diamantes são eternos” (1971) e o livro “O Rapaz da Mina” de Peter Abrahams /A ministra da Família recebe o filme de Visconti “Rocco e seus irmãos”(1960) e o livro “O Monte cinco” de Paulo Coelho/Licínio Ribeiro, ministro dos Correios e Telecomunicações o óbvio será “ O carteiro toca sempre duas vezes” de Bob Rafelso, filme de 1981, e o livro escolhido é o “Todos os Nomes” do José Saramago/ Para João Kussumua, ministro da Assistência e Reinserção Social, o filme é “O Charme discreto da burguesia” de Luis Bunuel (1972), e o livro é o “ A Casa do Rio” de Manuel Rui/ Para o ministro dos Antigos Combatentes, Pedro Van-Dunem, o filme de Clint Eastwood “Flags of Our Fathers”(2006) e o livro “ A Condição Humana” de André Malraux. /Para Botelho de Vasconcelos, ministro da Energia e Águas, o livro escolhido é “Choque do Futuro” de Alvin Toffler e o filme é de 1979 “ O Sindroma da China”./Para o ministro do Ambiente Diakupuna José , o livro é “ A um Deus desconhecido” de Steinbeck e o filme “ O Monte Abraão” do Manuel de Oliveira. Para finalizar e para o ministro José Ngandagina, ministro da Ciência e Tecnologia, “ Os Tempos Modernos” de Charlie Chaplin e “ As sete estradinhas de Catete” de Paulo Bandeira Faria.
Quero esclarecer que nesta escolha,os livros e filmes tem apenas que ver com o conjunto da actividade política dos titulares dos cargos, ou por vezes o seu continuado desaparecimento dos media.
É uma avaliação naturalmente subjectiva, e sem propósitos acessórios, que não fosse o de possibilitar um artigo diferente em dia de eleições, e que fará que alguns dos presenteados fiquem em novo governo, mas outros irão para outras actividades, e levam esta oferta.
A quem não gostar cumpre-me lembrar que uma oferta nunca se deve rejeitar em circunstancia alguma, como é timbre nas relações entre pessoas que se respeitam.
Fernando Pereira
1/9/08

30 de agosto de 2008

O MEU MERCEDES É MAIOR QUE O TEU/ ÁGORA/ NOVO JORNAL/lUANDA /29-8-08





O MEU MERCEDES É MAIOR QUE O TEU

Decidi apropriar-me deste título, de um livro magnífico, do poeta Nkem Nwankwo, que com Wole Soyinka, Chinus Achebe, Amos Tutuola, Ken Saro-Wiwa e Ciprian Ekwensi, constituem o conjunto dos mais conhecidos poetas da literatura nigeriana.
Aproveitei este título, porque era apelativo e muito identificado com o quadro de valores na sociedade angolana actual, para além de ser um notável romance, para chamar à atenção para um artigo que nada tem de roncos de motores.
Este livro era um dos títulos de uma excelente colecção, “Vozes de África”, editado pelo INALD, que ao nível da edição, conseguiu com a União de Escritores Angolanos colocar Angola na dianteira no continente africano no fim dos anos 70, na esteira do prémio da UNESCO atribuído ao País em 1978, pelo esforço na tentativa de erradicar o analfabetismo.
A colecção “Vozes de África”deu a conhecer ao leitor angolano, autores que anos mais tarde foram prémios Nobel, e estou a recordar Soyinka e Nadine Gordimer por exemplo, mas também outros como Diop, Béti, Gabriel Okara, Worku, Henri Lopes, Mongo Beti, entre muitos, e que foram surpresas bem agradáveis.
Nesta passagem pela edição do livro no dealbar da Angola independente, não podemos ignorar a colecção das “Vozes da América Latina”, onde lemos autores como Alejo Carpentier, o “Nobelado” Miguel Anjel Astúrias, Juan Rulfo, Augusto Roa Bastos, e a outros fiquei a conhecer e a admirar.
O INALD ainda promoveu algumas colecções de livros juvenis africanos, nomeadamente a “Colecção Grande Sol”, e também um grande enfoque aos livros infantis e infanto-juvenis, com edições excelentes e graficamente apelativas para as crianças.
A União de Escritores Angolanos, conseguiu editar praticamente tudo que havia da literatura angolana, que naturalmente tinha um espaço limitado na Angola colonial. A UEA foi um instrumento determinante no emergir de novos valores nas letras angolanas, e que hoje tem uma expressão de grande notoriedade nas letras lusófonas.
Há alguns críticos desse período, afirmando que a UEA publicava “autores menores”, mas não é despiciente a qualidade de muitos que debutaram na escrita, pelo facto de terem uma instituição que apoiava e estimulava a criação literária, algo que continua a ser feito hoje.
No conto, no romance, na biografia, na história, no ensaio, a UEA deu-nos a possibilidade de conhecermos o país, as suas múltiplas idiossincrasias, e acima de tudo de ter sido o “espólio” de tanta história que se perderia inevitavelmente, pelas sucessivas levas de valores vividos e desvividos.
Para tantos que esquecem que o trabalho do intelectual é inerente ao desenvolvimento de um país, é salutar lembrar que a UEA, o INALD e o Ministério da Educação fizeram um esforço tremendo para que as letras angolanas chegassem a todo o País, num esforço que hoje é algo esquecido pela voragem do betão, do vidro fosco e da negociata.
Talvez mesmo por essa ordem de razões, me lembrei que “O meu Mercedes é maior que o teu”!

25 de agosto de 2008

A Morte e Quase!


Desgostosamente dou-me conta de uma série de eventos, que ocorreram neste Agosto em campanha.
Morreu Dorival Caymmi, um baiano nado em 1914, que fez muito boa musica, trauteada por várias gerações. Músicas como “Que é que a baiana tem”, “Modinha para Gabriela”, imortalizarem um homem que fazia o culto do fruir a vida na sua plenitude. Grande companheiro de Jorge Amado, juntos os maiores divulgadores de uma Baia de uma garridice inigualável.
Recordo aqui um episódio de Dorival Caymmi na sua passagem por Angola em 1979, integrado numa enorme delegação de músicos brasileiros, donde saiu a imortal “Morena de Angola” do Chico Buarque. No decorrer da digressão pelo País, o governador de Benguela, ao tempo Dino Matross, ofereceu um almoço na Catumbela, numa bonita casa hoje em ruínas, no morro sobranceiro ao rio, na ex-casa de visita da administração do Cassequel. Como sempre foi normal nestas ocasiões, e perpetuamente permanecem, os angolanos convidados resolveram vestir-se com o desconfortável fato e gravata; A comitiva brasileira, também usou alguma sobriedade nas vestimentas, de forma a não melindrar os anfitriões, mas Dorival Caymmi, ao tempo já com uma provecta idade, entrou com uns calções, uma t-shirt cavada e umas chinelinhas de enfiar o dedo, e não mostrando qualquer embaraço, disse logo a todos:” Desculpem a vestimenta, mas não sabia que era uma coisa tão informal”.
Com a sua morte e a de Tom Jobim, ocorrida há anos, fica a musica brasileira mais pobre, sobrando João Gilberto, um baiano que teima em continuar a cantar encantadoramente.
Outra notícia, prende-se com o estado terminal de saúde do Paul Newman, um dos mais brilhantes e talentosos actores de Hollywood, protagonista de filmes notáveis como “Gata em telhado de zinco quente”, onde contracena com uma fulgurante Elizabeth Taylor, “Corações na Penumbra” também de Richard Brooks, e também numa adaptação notável de um texto de Tennesse Williams, “ A cortina rasgada” de Hitchcock e a “Golpada” de George Roy Hill, “ A Cor do dinheiro”, e tantos outros filmes.
Com um cancro nos pulmões, com prognóstico reservadíssimo, este octogenário (n.1925), foi nomeado para os Óscares sete vezes desde 1959, mas só recebeu a estatueta de ouro em 1986, à giza de homenagem, o que o levou a não estar presente, com um argumento curioso: “a sensação de receber esse Óscar era idêntica à de alcançar uma mulher que se perseguiu durante 80 anos”.
Paul Newman é um actor coerente, e um cidadão de causas, e nunca dissociou uma coisa da outra. O cinema quis fazer dele um sex symbol, mas ele sempre rejeitou, o que o star system da industria do cinema pretendia, num braço de ferro que lhe valeu algumas contrariedades, mas a forma assertiva da sua vida cobriu-o de respeito.
Uma vez uma amiga, numa conversa sobre Paul Newman citou uma frase, de que me deslembro o autor, que dizia exactamente isto, e que sintetizava a sua enorme vida vivida: Nunca conheci nenhuma mulher que não amasse profundamente Paul Newman e nenhum homem que não amasse superficialmente Marilyn Monroe.
Duas lições de vida que vão ficar!

Fernando Pereira
18/08/08

17 de agosto de 2008

Desenho de Vasco Vieira da Costa / Quitandeira


Publicado na Revista de Natal de 1936 da "Província de Angola"
Importa referir que foi o Vasco Vieira da Costa, o arquitecto que desenhou o mercado do Kinaxixe de boa memória!
Prestando um tributo a uma pessoa extraordinária que conheci, aqui fica este desenho de quem amou sempre muito Angola!

Anuncio do Hotel Terminus no Lobito!


Publicado pelo Jornal "O Lobito", em 1932, uns tempos depois da sua inauguração!

16 de agosto de 2008

Vírgula (,)



Hoje vou falar a vocês sobre um assunto que tem preocupado alguns comentadores da imprensa escrita na capital de Angola porque a bem dizer só mesmo em Luanda é que há jornais e toda a gente do País reclama porque só se discute questões da imprensa e outra na cidade de Luanda onde levam a sério algumas coisas relacionadas com questões onde o papel entre o continuo e o continuado voltou outra vez à ordem do dia provavelmente por alguém bem mais ligado á noite que ao dia pois não foi o nosso continuo quiçá talvez o continuado que andou nos copos com o Joãozinho das garotas ali para os lados em que a ilha ainda não tinha a Kinanga num sítio desprofusamente iluminado onde um amigo meu dizia que havia um buraco num balcão de um bar tantas foram as noites em anos a fio que ele lá ia nos tempos do antanho enquanto o pobre do contínuo se esforçava por ir aprendendo a talvez um dia poder ser alguém mas que em circunstancia alguma pudesse ser como o continuado que depois da independência continuou mesmo a desancar em contínuos apesar de colocar primeiras páginas em livros e jornais que o fazem longe do Mukandano do China que foi republico no Kimbo dos Sobas e também longe do Kapitupitu dum tempo de outros azedumes mas que eram respeitadores pelos contínuos e que eram motivo de orgulho de todos que chegassem a directores de alguma coisa por mérito e que depois irritassem o desbocado continuado que decidiu atirar farpas para todo o lado evitando lembrar-se que muita gente cresceu com o continuo e que ele habituou a respeitar e a ser respeitado todos os que com ele colaboraram ali naquele lugar em frente à Biker onde em tempos se garfavam uns bifes entre garrafas longe dos engarrafamentos ideológicos dos que desceram da montanha 30 anos depois para descobrirem os contínuos que é quase o mesminho que muitos vieram na paz a buscar as coisas que a guerra por direito deu a alguns outros que não podem ver usurpados os seus direitos como as casinhas que ficaram fechadinhas com quase nada lá dentro e que eram saudades no Rossio e pelos vistos nalguma casa com nome de proboscídeo branquelas ali para os lados dum dos Condes da capital do Império o Redondo onde também andava o continuado a esconjurar os contínuos que na Luanda andavam numa azáfama na busca da virgula entre o predicado e o adjectivo para além de advérbios de maus modos porque a vida lhes tinha sido madrasta e toda a vida tinha de ser exactamente assim porque os iluminados queriam que assim fosse nem que se tivessem que revelar tardiamente a descoberto num jornal em que o continuo foi galgando os degraus até chegar a director geral por ter ido aprender coisas que o continuado teve de mão a beijar ou beijada nos tempos do antes de Novembro da independência quando o nosso continuado insultava muito boa gente onde também cabia alguma má que nestas coisas leva pela medida grossa e quando não gosta faz exactamente o mesmo trinta anos depois ao continuo que é director deste jornal depois de muitos anos a aguentar um jornal para hoje o continuado ir lá afiar setas contra todos num linguajar típico de locais pouco asseados de educação falada e até mesmo revelador de alguma arteriosclerose a merecer alguma consulta no centro de saúde de qualquer Boavista de qualquer cidade onde o continuado comece a ser recolhido para saber que o tempo e os espaços para a maledicência podem mesmo ficar-se pelos tempos do Ary Lopes e Glória Norton que era uma moça de carnes descaídas que dava shows ali num local onde a ilha acabava num paredão e num coqueiro no outra ponta da outra pontaria da ilha de Luanda(,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,)Aqui estão as vírgulas pelo que as ponham onde melhor vos aprouver!

Desculpem hoje não ter usado a vírgula, mas precisava de enviar um bom abraço de solidariedade ao Vítor Silva, pessoa que estimo e que sempre me convidou para participar nos projectos que liderava, sem me pedir nada em troca, já há quase trinta anos, e não merecia estes dislates, lastimavelmente publicados num jornal onde foi praticamente tudo que podia ser.
Já agora, informo que não voltarei ao tema!

Fernando Pereira

11 de agosto de 2008

Ensaboadela / Ágora / Novo Jornal / Luanda 9-8-08



Dessei porque razão o faço, mas hoje estou com um irreprimível desejo de passar uma esponja por muita coisa, porque a não o fazer corria o risco do “sapateiro ir além da chinela”.
Quando falo em esponja, sugeriu-se-me a ideia de falar do sabonete “Lifebuoy” , essa verdadeira instituição que a Lever lançou no mercado no dealbar do século XX, e que se assumiu como um dos símbolos perenes de uma globalização, que sobrevive com sucesso nos dias de hoje.
Foi o primeiro a definir-se contra qualquer tipo de CC, como se pode ver em inúmeros anúncios nas décadas de trinta e quarenta, do tempo em que quando alguém falava do Kinaxixe, era da sua lagoa e da sua enorme Mafumbeira, a título de exemplo. Convenhamos que CC nada tinha a ver com aquilo que vamos conhecendo com os inerentes contornos político-partidários, mas no caso do Lifebuoy era apenas o apelo ao fim do CC, que é nem mais nem menos que o “cheiro a corpo”.
No seu primeiro anúncio radiofónico, tinha uns verso cantado em brasileiro que dizia isto:”Quando chega o verão/ e aperta o calor, / transpira-se tanto/ que é mesmo um horror/Para então se manter/ o asseio corporal, / é preciso se usar/ um sabonete o asseio corporal, e batatal./ É mesmo o tal, não tem rival/ é um herói:/ Lifebuoy, Lifebuoy!”.Isto é coisa aí para os anos 30, nos tempos áureos da rádio.
Bem, o Lifebuoy marcou todas as gerações do século XX, e de facto no nosso País tem sido perpetuado ao longo de mutações económicas, políticas e sociais bem diferenciadas, apesar de circunstancialmente os protagonistas serem os mesmos, até mesmo na diversidade total, mas jamais na adversidade.
Como estamos a falar de sabonetes e correlativos, e de um especificamente cor de laranja, o que lhe dava algumas características muito peculiares de não-alinhamento a determinadas cores de modas, prefiro mesmo continuar a enaltecer as características do anti-CC Lifebuoy.
Este ousado sabonete que foi por mim usado no corpo e que em determinados momentos usei em tudo, desde roupa a louça ou chão, emergiu como um factor de enorme unidade, pois este sabão cor de laranja, de odor intensíssimo e inigualável, comprava-se em qualquer parte do mundo, pois a Lever não brincava em serviço e expandiu-o por todos os cantos e por alguns menores encantos.
Hoje em Angola, os indianos, não sei se já com tiques de cidadãos de potencia emergente, no quadro do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), decidiram vendê-lo também de azul e branco, o que de certa forma retira alguma “legitimidade” ao Lifebuoy, mas são os ditames do mercado a exigir novas dinâmicas, como agora é frequente dizer-se, mesmo que muitos nem nunca tenham ouvido falar em Keynes, Adam Smith e talvez em Marx (Deste alguns devem ter ouvido falar, ou a bem dizer falaram em tempos idos demais dele!!!)
Voltado ao sabonete, que passa a vida a saltar-nos da mão enquanto molhado, pelo que é conveniente ter alguns cuidados supletivos, posso afiançar que este Lifebuoy, para além do facto incomodativo de fazer arder nos olhos, é um excelente anti-séptico, e de excelente qualidade para limpar o corpo de transpiração e odores.
Talvez não seja o odor da moda, mas convenhamos que a sua embalagem exterior vai-se mantendo mais ou menos igual desde os tempos em que apareceu, em que logo foi um sucesso comercial.
Desculpem-me, eu hoje ter-vos dado esta ensaboadela, mas sinceramente preferi mesmo falar disto, pois acho que de quando em vez, temos mesmo que colocar algo, para que o resultado de passar a esponja sobre determinados conceitos de desenvolvimento tenha um resultado mais eficiente, nem que seja em benefício próprio.

Fernando Pereira 1/08/08

2 de agosto de 2008

Viva o povo brasileiro /Ágora/ Novo Jornal/ 1/8/08




Aproveitadamente, utilizo este título para homenagear João Ubaldo Ribeiro, que merecidamente, recebeu o prémio Camões, e apenas posso dizer que “Viva o Povo Brasileiro”, é um dos poucos livros que todos devíamos ler, antes de ir para o repouso, que muitos julgam etéreo.
Desvou perder muito tempo a falar do João Ubaldo Ribeiro, porque a partir do momento em que é premiado, toda a gente tenta vasculhar, para saber quem é o escritor.
Para que conste, devorei muitas crónicas suas em jornais, digo-o sem pruridos, plagiei uma parte do seu livro sobre futebol, que era uma colectânea de artigos feitos para a Globo. Sinceramente, não gostei de ler o seu livro mais controverso, “A casa dos budas ditosos”.
Ainda sobre Ubaldo Ribeiro, vem a talhe de foice, uma resposta sua sobre o facto do “Viva o Povo Brasileiro”, ser um livro “obeso” em termos de apresentação, algo que era inabitual em si, ao que ele diz com o humor que o caracteriza, que “Um bom livro tem de se manter sozinho em pé”, e em setecentas páginas, a história do Brasil mescla-se com a nossa e com a portuguesa, duma forma alegre, numa síntese perfeita:” O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos só existem histórias”.
Já que o assunto, é um circunstancial devaneio sobre as letras brasileiras, não gostava de deixar de mencionar o meu eleito, Graciliano Ramos, que numa resposta em 1948, definiu a escrita apenas nisto: "Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.".
Graciliano Ramos, numa determinada classe de mestres de literatura anglo-saxónicos liberais, era “um pouco o William Faulkner brasileiro”, numa xenofobia involuntária, mas a realidade, é que ambos trilharam caminhos iguais talvez sabendo pouco um do outro, e ambos foram proscritos por intolerância política nos seus países. Importa salientar que Faulkner foi nas décadas de cinquenta e sessenta, uma referencia de tomo na literatura latino-americana, o que foi excelente, embora isso seja mais evidente na escrita de expressão castelhana do que na portuguesa.
Neste deambular rápido pela escrita, não posso omitir que Jorge Amado foi referente, na minha afirmação ideológica e política, numa fase algo debutante, o que me fez ler com enorme sofreguidão a sua obra completa, e ter relido os seus “Subterrâneos da Liberdade”, obra marcadamente panfletária, e onde o arquitecto Óscar Niemeyer é uma personagem relevante. Penso que a fase final da escrita de Jorge Amado foi deprimente, e sinceramente podia-nos ter poupado, a que tivéssemos que ler Zélia Gatai, essa sim uma poeta menor, não “medíocre”, porque detestaria ser acusado de sobranceria no uso da palavra.
Tendo em conta que se falou de “um livro que se mantenha de pé sozinho”, vou recomendando a leitura de um “com obesidade mórbida”, que tem 900 páginas, mas que foi nos últimos tempos a coisa que mais sono me tirou, tal a “voracidade” com que o li: “As Benevolentes” de Jonathan Littel, que é uma descrição pungente, sem cinismos, da ascensão e queda do nazismo na Europa, descrito por um oficial nazi, que assume tudo sem que no livro se veja qualquer remorso, ou qualquer tentativa ainda que pueril de expiação, por tudo o que fez, assistiu e consentiu e acreditou (Editado em português pela D. Quixote).

Fernando Pereira
28/07/08

27 de julho de 2008

Um poema de David Mestre num postal da UNAP

Cartazes da Republica Popular de Angola (III)

Cartazes da Republica Popular de Angola (II)

Cartazes da República Popular de Angola

O.M.A.

Cartazes da Republica Popular de Angola (I)

Tempo de "Vitória é Certa"

26 de julho de 2008

O Nosso Decatlonista



O nosso decatlonista

Quando, a 6 de Abril de 1896 começavam na Grécia os jogos olímpicos da era moderna, o barão Pierre de Coubertin materializou um sonho, que embora embaciado, de um certo classismo aristocratizante, não deixou de se cobrir de espanto e glória, com a perenidade que já ultrapassou o centenário.
Aproveitando o ensejo de estarmos na antecâmara dos Jogos de Pequim, resolvi escrever um pouco sobre uma figura que foi o primeiro secretário geral do Comité Olímpico Angolano, e figura egrégia no contexto do desporto angolano durante décadas, como praticante, professor e dirigente. Refiro-me ao Fernando Matos Fernandes, com quem tive o privilégio de trabalhar na ex-SEEFD e na zona IV de Desenvolvimento Desportivo da Confederação Africana dos Desportos.
Recuando ao dealbar dos anos 40, vemos o Matos Fernandes como recordista português dos 110 barreiras, 400 barreiras, 400m planos, estafeta de 4x100m, 4x400, altura e no decatlo onde foi campeão por 8 vezes com 6458 pontos, uma marca impressionante para a época. Neste conjunto de disciplinas do atletismo convém salientar que entre 1940 e 1957, não havia quase espaço para a concorrência, pois o então jovem Matos Fernandes, ganhava quase tudo que havia para ganhar. Na disciplina de altura sucedeu no lugar de campeão a outro angolano, ainda vivo, o Guilherme Espírito Santo, que ainda correu e venceu, com Matos Fernandes, o campeonato português na estafeta de 4x100m no ano de 1942.
Por causa deste artigo, tentei recuperar uma caderneta de cromos dos “Ídolos do Desporto”, algo que desconsegui, onde aparecia o Matos Fernandes com a camisola pejada de medalhas, o que para mim com 8 anos era fascinante e permitia todos os sonhos.
Já na segunda metade da sua extensa e brilhante carreira, Matos Fernandes participou em 1952 nos J. O. de Helsínquia, nos 400 m barreiras, onde se ficou pelas eliminatórias e ficou em 16º na final do decatlo, com uns modestos 5604 pontos, muito longe do seu record português. O decatlo é um conjunto de dez provas de várias disciplinas do atletismo, que exige um virtuosismo e um ecletismo só disponíveis a poucos eleitos.
A estrutura física de Matos Fernandes, a sua dedicação ao treino, e outras condições de trabalho, tê-lo-iam guindado a resultados bem diferentes no atletismo internacional. Ao longo de vinte anos de carreira ao melhor nível como praticante, retira-se, e abraça a carreira de treinador, primeiro em Lisboa e depois no Benfica de Luanda.
Com o advento da independência de Angola, Matos Fernandes começa a alijar a sua componente de campo, para se dedicar ao dirigismo desportivo, no âmbito das estruturas oficiais do desporto angolano, nomeadamente no Comité Olímpico, onde trabalhou com os presidentes Augusto Lopes Teixeira (Tutu), e com o José Araújo, o popular “Ben Bareck”, ex-jogador da Académica de Coimbra, que com França (Ndalu), Chipenda e o moçambicano José Júlio, fizeram uma fuga de Portugal, com muitos outros estudantes das colónias portuguesas em 1962, para se juntarem à resistência contra o colonialismo português.
Sobre o Comité Olímpico não resisto a contar uma história curiosa; Perguntei ao Matos Fernandes onde estava um determinado documento, tudo em conversa telefónica, e ele manda-me à 3ª gaveta da sua secretária porque na primeira funcionava a “sede” do Comité Olímpico, na 2ª a “sede” da Zona 4 de Desenvolvimento Desportivo Africano e então na 3ª porque era a que pertencia ao gabinete de apoio do Secretário de Estado, de que na altura Matos Fernandes era chefe de gabinete.
Acho que o desporto angolano vai devendo um pouco a esta gente, que como o Fernando Matos Fernandes, foram cabouqueiros de uma prática desportiva que só se permitiu melhorada por esforços assim, aliado ao enorme investimento que o governo da Angola independente foi fazendo ao longo dos tempos e de excelentes resultados, diga-se em abono da verdade.
Lembro com particular saudade as suas memórias sobre o atletismo “dos anos ontem”, que para as pessoas hoje já são “dos anos antes de ontem”, pois Matos Fernandes já nos deixou há vinte anos. Foi numa dessas conversas que ele me disse que tinha sido o fundador da “filarmónica benfícólica”, que podia bem ser uma coisa do tipo claque organizada, com outros contornos também ligados ao filantropismo e ao apoio aos atletas de todas as modalidades do clube, ao nível da sua vida quotidiana, quando ainda vinha longe o profissionalismo.
Fazer esta crónica tem particular significado, já que tive oportunidade de lembrar o primeiro atleta olímpico angolano, uma pessoa de carácter, e um eterno apaixonado pela prática da cultura física.

Fernando Pereira

18 de julho de 2008

Nem cântaro, nem fonte, nem sequer Maria!/Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 18/07/08







No dia 1 de Setembro de 1935, inaugurava-se a estátua evocativa dos mortos portugueses nas “campanhas africanas” da Grande Guerra Mundial de 1914-1918, na luta contra os alemães.
Num largo poeirento, com a pompa e circunstancia adaptada ao evento, alinharam-se as autoridades, civis, militares e eclesiásticas da cidade de Luanda, um tal almirante Afonso Cerqueira, e um jovem professor de direito, que chefiava uma missão de estudantes “metropolitanos” às colónias, de seu nome Marcelo das Neves Alves Caetano, que trinta e nove anos depois seria apeado do governo de Portugal, por um golpe de estado, que derrubou a ditadura, e donde emergiram governantes que promoveram negociações, que levaram à independência as ex-colónias portuguesas.
Este evocativo, que depois da independência esteve tapado com um plástico cor de rosa, depois dinamitado em circunstancias pouco claras foi depois local de “pousio” de um carro de combate.
Foi construído com a contribuição do comércio e industria de Luanda, numa campanha que teve em Alves da Cunha o seu maior dinamizador, e foi colocado numa margem da lagoa do Kinaxixe, lugar de brincadeiras, de pescarias e também sítio de histórias de Kianda, uma personagem mítica e reverencial do imaginário angolano. Luandino Vieira, Tomaz Jorge, e outros tentaram em prosa ou em verso falar dessa figura mítica que cruza Luanda desde tempos imorredoiros: Na “ Casa velha das margens” de Arnaldo Santos, Luanda e o Kinaxixe misturam-se numa obra, que considero de excelência na escrita angolana.
No léxico colonial, recordo-me sempre daquele largo, que tinha um magnífico edifício dos Serviços de Agricultura, que foi demolido em meados dos anos 60, ser conhecido pelo Largo da Maria da Fonte, e nunca por Kinaxixe, e tampouco por largo dos Lusíadas, que era o nome do largo na toponímia colonial. Sempre despercebi quais as bastas razões, para que a minhota Maria da Fonte de Arcada fosse o nome “apopularizado” do referido largo.
Maria da Fonte, foi a líder de um grupo de sete mulheres do Minho que em meados do sec. XIX, comandaram um conjunto de sublevados contra o 1º ministro do reino de Portugal, Costa Cabral, levando ao seu recuo num vasto pacote de impostos e à consequente demissão, muito bem descrito em alguns livros na extensa obra de Camilo Castelo Branco, também ele um minhoto.
Acho uma excelente ideia perpetuarem-se em estátuas, ou de outra forma com igual dignidade, os heróis nacionais de Angola, e Nzinga Mbandi merecia este lugar, pela sua relevância na história de Angola, consubstanciada na importância que teve na luta contra os portugueses, e acima de tudo na forma como uniu reinos desavindos, em torno de um projecto comum, que era lutar contra o ocupante.
È uma opinião meramente subjectiva, mas acho que a peanha onde está a Nzinga Mbandi, é desproporcionadamente grande em relação à estátua, o que lhe retira alguma beleza e quiçá alguma importância em termos de visibilidade. Parece-me esteticamente pouco conseguido o “monumento”, mas pelos vistos os noivos que lá tiram as suas fotos não partilham da opinião..
Passados uns anos de lá ter sido colocado o carro de combate, recebi em Luanda o falecido Dr. Aníbal Costa, ao tempo presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Desportiva, que vinha a Luanda a convite do Centro de Medicina Desportiva de Luanda, e quando passou no Kinaxixe, voltou-se para mim e diz-me:”Fernando Pereira, aquele carro ali em cima está a mudar o óleo?” .Confesso, que foi a melhor observação que alguma vez ouvi, sobre o carro que fez parte do quotidiano visual dos luandenses durante quase vinte anos.

Fernando Pereira 6/07/08

Expo-2008/ Uma exposição pedagógica/Ágora/ Novo Jornal 18-07/08





ZARAGOZA 2008

Por motivos vários, vou algumas vezes durante o ano a Aragão, e concretamente a Zaragoza. Fui assistindo ao seu crescimento, que faz que hoje esta cidade de 900.000 habitantes, capital da Comunidade de Aragão, seja um pólo de grande dinamismo industrial, comercial e científico, tendo-se afirmado como a quarta cidade espanhola, em termos de população e de criação de riqueza.
Conheço a cidade desde 1972, e para mim não foi surpresa alguma, quando a cidade de Zaragoza se candidatou à Exposição Internacional de 2008, pois o seu crescimento, e o engajar das gentes de Aragão no seu desenvolvimento, almejavam um evento internacional que colocasse a sua cidade mais importante no mapa mundial.
Fui daqueles visitantes, que chegaram à hora marcada no convite, o que de facto contraria as normas de qualquer visita, pois nunca se deve chegar antes da hora, à hora, nem muito depois da hora. Aconteceu dar-me conta, que ainda havia alguns trabalhos a realizarem-se, nomeadamente acessos, interfaces e parques de estacionamento.
Logo no início da Expo, quem entra pelo lado norte, deparamo-nos com uma ponte-pavilhão, que é esmagadora na sua concepção, desenhada pela prestigiada arquiteta iraquiana Zaha Hadid, a primeira mulher a receber um prémio importante da arquitetura mundial, o Pritzker. Este “pavilhão poente” vai ser a marca mais importante da Expo, quando se passarem uns anos do “desmontar da tenda”.
Ao entrar no espaço da Expo, fico com a sensação que é a mais pequena das que visitei nos últimos anos, mas também a que melhor se integra com o centro urbano.
Com um tema pertinente nos tempos que correm, a água é o centro de toda a Exposição Internacional. O tema é pertinente, pois a sua crescente escassez, a sua deterioração continuada e a sua distribuição irregular levam a que paire, num cada vez maior numero de pessoas, que será o motivo próximo de guerras entre povos e países na procura da primeira de todas as matérias primas.
A Torre da Água, que não me tendo surpreendido em termos de arquitetura, deixou-me maravilhado com a apresentação do conceito “água”, pois em 45m, através de recursos multimédia com a água, fica-se com a sensação exacta que é bem mais que o líquido que continuadamente desperdiçamos. Neste pavilhão tenta-se que a água e os sentidos se misturem, não sendo fácil demonstrá-lo com palavras.
O Aquário Fluvial, que segundo diz a organização é o maior aquário de água doce do mundo, e o mais diversificado em termos de espécies, é um edifício que irá ficar e foi o mais requisitado pela garotada, que deu um colorido grande ao ainda muito vazio recinto da Expo 08. Destaco ainda o pavilhão de Espanha, pelo arrojo da arquitetura, e também com interesse o da “água partihada”, o da “sede” e o da “Oikos”.
O que ressalta destes pavilhões temáticos, é que esta exposição tem uma componente pedagógica muito acentuada, mas julgo que o seu acompanhamento tenha de ser cuidado, pois pode suceder que em determinados momentos, a vontade de mostrar e reafirmar a mensagem, pode levar à desmotivação por parte de muitos visitantes, que devem sair da exposição determinados a lutarem por um equilíbrio, que passe por um futuro sustentado de recursos hídricos partilhados por toda a população mundial.
O pavilhão de Angola, mostra logo na sua apresentação exterior, um cuidado supletivo em relação a anteriores exposições, o que dá à partida uma imagem afirmativa do País. Um excelente painel, com um brilhante trabalho de excelente expressão plástica, baseada em motivos de escultura de madeira angolana que não deixa indiferente quem passa.
No interior, somos agradavelmente surpreendidos por alguns trabalhos de compatriotas nossos ainda jovens, que porventura mereceriam outro destaque, mas obviamente é muito subjectiva esta opinião, como aliás toda esta minha apreciação da Expo 2008.
O pavilhão é dividido por algumas secções, e no primeiro temos a floresta, onde se tenta retratar o Maiombe, e onde há uma curiosa cortina de vapor, que não sendo inovadora, é no mínimo curiosa vê-la tão bem enquadrada na entrada da exposição. Nas secções seguintes, é interessante a sequencia dos modelos encontrados, de forma a tentar elucidar o visitante da forma como se divide o território de Angola, no plano da diversidade pluviométrica, de cursos de água e características dos terrenos. Da floresta, passamos à savana, à anhara, ao aproveitamento hidro-eléctrico do Gove, a foz do Cunene e o deserto. Tudo razoavelmente documentado, embora tenha ficado desiludido pelo facto de não ter um guião, ainda que pequeno do que estava à vista no pavilhão.
Ainda não estava a funcionar a parte do pavilhão reservada às actividades económicas, e a justificação dos atrasos foi a greve dos camionistas espanhóis, na semana que antecedeu a abertura da Exposição.
Houve algumas coisas que me deixaram algo desagradado, que foi o terem um crocodilo de “brincadeira”, nem se percebendo se era de plástico ou madeira, no meio de um lago, que era motivo de alguma chacota por parte das pessoas que passavam. A Welbitchia estilizada também não me pareceu uma ideia feliz, mas tolerava-se. Outra coisa que achei demonstrar pouca sensibilidade, tem a ver com os filmes apresentados pela Endiama, o que me parece algo paradoxal, pois é uma empresa que se preocupa com muitas coisas importantes para além do lucro, como por exemplo a recuperação de edifícios, apoio a núcleos museológicos e preservação da fauna e da natureza, apoiando também algumas iniciativas culturais.
O artesanato ainda estava algo desarrumado, mas devo ter em conta que visitei o pavilhão no primeiro dia da sua abertura ao publico, pelo que não deixa de ser uma atenuante de tomo.
Quanto aos colaboradores presentes, julgo que começámos a ter algum cuidado na sua selecção, pois eram cordiais, simpáticos, e procuravam ser esclarecedores nas explicações; Uma excelente surpresa, o que evidencia progressos notáveis em relação a eventos anteriores, onde assistimos a atitudes pouco edificantes por parte de pessoas que não se dão conta que nestas circunstancias deveriam estar a promover a imagem do País.
Numa análise breve acho que o pavilhão de Angola está bem, e a equipa parece-me competente. Aqui e ali pode haver uma ou outra coisa a alterar, e uma proposta que faria, seria o de dar a conhecer a quem visita o nosso pavilhão os recursos que possuímos, dando um ênfase ao facto de Angola, ser o 5º país africano em termos de recursos hídricos no conjunto da suas bacias hidrográficas. Para além disso, sugeria que fosse dado a conhecer a quem visita o pavilhão alguns esforços do governo e entidades privadas no sentido de melhorar a qualidade da água nas cidades e concomitantente como se tem feito o combate às doenças provocadas pela “má água”.
Falta apenas fazer uma referencia à animação diurna e nocturna, tendo ficado estupefacto com a apresentação ao vivo do Cirque du Soleil, que já tinha visto em documentário; Um excelente espectáculo diário.
Quanto a tudo o resto: Vão lá!
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