Au revoir Silvye!
“E setembro chegou/ vamo-nos separar/o
Verão terminou/diremos au revoir/ela vai pra Paris e eu vou ficar/ Vou ficar
infeliz e Sylvie vou lembrar.”
Esta canção surgiu nos anos sessenta
pela voz imorredoira do saudoso “Duo Ouro Negro”, e rapidamente entrou pelos
ouvidos dos cidadãos desses tempos, que a cantavam com grande entusiasmo. Tinha
um estribilho simples e que não causava engulhos às zelosas autoridades de
então.
Lembrei-me desta canção porque Setembro
chegou e acabou o Verão, com a rentrée política dos partidos, com os lideres e
o resto da malta com um bronzeado interessante a falarem do futuro de todos, do
dos outros, tudo em abono do seu próprio.
Julho e Agosto foram sempre meses de
ciclismo de estrada, com entusiasmo no acompanhamento das voltas, as festas, as
romarias e os pasme-se, os incêndios!
Há muitas décadas, das muitas que começo
a ter, que vou assistindo aos incêndios, uns com maior intensidade, outros com
menos, mas sempre tema recorrente na agenda dos políticos nesta altura do ano.
Ao longo das décadas o incêndio tem
sempre culpados; Antes do 25 de Abril eram os terroristas, depois de 1974
passaram a ser os comunistas, que queriam o País queimado, depois os
madeireiros, entretanto a culpa passou a recair nos pastores, anos depois nas
celuloses, e entre outros culpados de menor expressão, o aquecimento global.
Não pretendo ser mais um especialista em
fogos, que muitas vezes são os mesmos que discutem na imprensa pandemias,
guerra na Ucrânia, SNS, e a partir deste último fim de semana mortes de reis,
valetes e damas!
Durante uns dias o interior de que
ninguém fala durante o ano inteiro e que o País real só sabe que é um
território vasto para lá de Vila Franca de Xira é notícia porque está a arder.
Aí aparecem as soluções de sempre para
que tudo normalmente fique na mesma, e muitos debitam opiniões no mínimo
ridículas para quem vive o quotidiano destas regiões o ano inteiro. A culpa é
do eucalipto, dizem algumas mentes brilhantes, mesmo quando os fogos deflagram
e desenvolvem-se onde não há uma única árvore dessas. A culpa é do pinheiro que
é resinoso, mesmo que haja poucas espécies. O que é preciso é plantar
azinheiras, carvalhos, sequoias ou mesmo liquidâmbar ou magnólias. Muita desta
gente não sabe a diferença entre um freixo, um plátano, uma olaia, um choupo ou
jacarandá. Mas as televisões dão-lhe voz e falam com uma autoridade tamanha,
que só o desconhecimento total do entrevistador lhe permite o desfilar
continuado de dislates.
No terreno uns pobres jornalistas, mal
pagos e com o editor a exigir-lhes num quase “bulling” informativo, que
insistam nas perguntas mais idiotas, num cenário de fumo, vento, desorientação
perfeitamente justificada por parte das pessoas. Um verdadeiro serviço de
calamidade pública é exatamente o que esta situação na informação merece ser
referenciado.
Os bombeiros, gente de grande
voluntarismo, e por vezes algum excesso de aventureirismo acabam por ser a
parte mais fragilizada de tudo isto. A maior parte do equipamento disponível é
para fogos urbanos aliada à deficiente preparação do quadro de pessoal que se
reforça no Verão, acaba por resultar algumas vezes na incompreensão por parte
dos que vão vendo os seus bens em perigo. Todos opinam, tratam-nos mal, mas na
hora da aflição chamam-nos. Se um bombeiro porventura soubesse quanto ganha um
militar numa missão no Kosovo ou no Mali por conta da ONU talvez pensasse duas
vezes antes de responder com prontidão à sirene. Mas é da vida!
Acho que não são necessários relatórios,
nem visitas de grupos de ministros ou secretários de estado porque tudo vai ser
sempre igual, e cada Verão que temos vai arder o que ardeu há cinco anos, pois
já há material combustível “recuperado” para o “espetáculo” incêndio, e por
incúria ou crime a coisa repete-se. Nada a fazer!
Talvez seja eu que não percebo nada de
fogos e sou irrealista, mas só vos digo que para o ano há mais!
Fernando Pereira
12/09/2022
1 comentário:
Excelente texto, Fernando, não podia ser mais realista
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