2 de setembro de 2009

Trinca Fortes (I)/ Ágora/ Novo Jornal / Luanda/ 29/8/09



A Lusofonia tem as suas vacas sagradas, e admitamos sem rebuço que Luís de Camões é uma delas, já que é um dos símbolos maiores da escrita em língua portuguesa!
Não vou escrever sobre Luís Vaz de Camões, da forma hermética que o discurso oficial e oficioso da Lusofonia nos habituou, mas sim do verdadeiro "Trinca Fortes", com as características inerentes ao português suave de Fernão Mendes Pinto miscigenado com o Fado Tropical de Chico Buarque.
Da linguagem da filosofia, tentou-se criar uma ciência independente: "A Semiótica"! Realmente a primeira proeminente figura da Semiótica mundial foi Luís de Camões, ombreando com o Capitão Gancho e mais recentemente com o ex- ministro da defesa Israelita Moshe Dyan. O comum destes tipos era só terem um olho, ou apropriadamente dizerem, trazer tudo debaixo de olho!
Mas falando de Luís Vaz de Camões, que tem para aí dez terras a assumirem que nasceu por lá! Lisboa (os lisboetas só ainda não assumiram que o Pinto da Costa nasceu lá, porque ainda é vivo, e inevitavelmente daqui a 500 anos irão, de certeza fazer-lhe uma estátua e colocarem uma lápide numa casa a dizer:”Aqui presumivelmente nasceu Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa, homem sério, vencedor como nenhum outro, incompreendido no seu tempo!”) Santarém, Coimbra, Constança, Porto, Linhares da Beira, outras e paradoxalmente no meio de todas Olhão, que presumo por um devaneio humorístico, pois só faltaria, terem dito, que o homem teria nascido no demolido bairro da Boavista em Luanda.
O Luís de Camões fascina-me em muitos aspectos! Começando pelo seu fim, ele personifica algum pechisbeckismo dos portugueses. Estar na miséria, e ter um escravo com nome económico, Jau, para mendigar por ele. Tinha uma tença, que revela bem que o problema das reformas é já um problema antigo, que não lhe dava para sobreviver, e vai daí arranja um escravo para cobrir alguma zona da cidade; Será que o Jau limpava as crinas dos cavalos com escovas quando paravam num sinaleiro, já que ao tempo semáforos só alimentados a carbureto ou a azeite? Esta de ter um escravo para pedir esmola é coisa grande!
Outra coisa que me fascina, é o facto de ele ter atravessado o mar da China, com os Lusíadas numa mão no meio da tempestade. Sinceramente era demais, sem um olho e só com um braço, o homem merecia uma toalha da GANT á chegada, um chá e uns scones quentinhos! Como ainda não havia a indústria da petroquímica, nem os derivados do petróleo, não se pensava sequer nos sacos de polietileno, para embrulhar o notável canto IX dos Lusíadas, que no Salvador Correia só um professor de português numa de clandestinidade ousou mencionar. Houve alguém que insistiu presumir, que todo esse episódio terá acontecido entre Tombwa e a Costa dos Esqueletos, provavelmente na foz do Cunene.
Já vem de longe, as faltas de apoio aos criadores e à cultura!
Outra coisa que me fascina é ele andar sempre metido com o olho pelas casadas, o que o obrigou a "ser olho por olho, dente por dente", prevalecendo no caso dele o “olho por olho”!
Deixo o “olho por olho” pois não faltaria muito para ser acusado de revelar alguma homofobia no que estou a escrever, fruto de leituras enviesadas que alguns fazem destes escritos.


(CONTINUA)
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