Mais uma descoberta no baú de um artigo meu no "Jornal de Angola" em tempos difíceis!!
Jornal de Angola 26/9/1993
Um blog acima de qualquer suspeita
Mais uma descoberta no baú de um artigo meu no "Jornal de Angola" em tempos difíceis!!
Jornal de Angola 26/9/1993
50 ANOS JÁ CÁ CANTAM!
"Depois dos ganhos e perdas dos
dois lados, uma ordem nova substitui a ordem antiga, até que outra venha por
seu lado substituir aquela. Muitas vezes, certamente, nos perguntámos como se
processou essa espécie de rendição dos deuses, que hesitações, que angústias a
precederam ou dela resultaram, que movimentos de alma ela fez nascer"
Marguerite Yourcenar, " O tempo,
esse grande escultor".
Ao comemorar o 25 de Abril de 1974,
só me apeteceu dizer: 50 anos de liberdade ninguém me tira!
“Gostei da festa pá”, citando uma
estrofe do Tanto Mar do Chico Buarque! De tudo gostei sem me entusiasmar por aí
além, já que à medida que a idade cresce em progressão aritmética diminui o
entusiasmo em progressão geométrica.
Gostei de ver a enorme adesão às
comemorações do 25 de Abril de 1974, o que revela que as pessoas se reveem nos
princípios de uma das datas mais importantes da história contemporânea de
Portugal.
Fiquei satisfeito por ver que numa
região onde gentes de Abril foram tão maltratadas ao tempo, tem hoje a
felicidade de verem que os valores que defendiam há quase 50 anos, saudados por
quase todos.
Recordo de há décadas, a
intransigência dos caciques locais e uma parte do clero perseguirem as pessoas
que defendiam os valores de Abril. Em muitos concelhos do distrito da Guarda
defender o 25 de Abril de 1974 era uma heresia e a ameaça física e a
ostracização social eram comuns. Fui testemunha e vítima de algumas atitudes de
gente que não hesitava em rotular e perseguir pessoas para que se perpetuasse
no terreno os ignóbeis tempos de um fascismo serôdio.
Gostei de saber que o clero trauteia
a “Grândola Vila Morena” em publico, quando há pouco menos de 50 anos proibia
que as músicas de José Afonso passassem na Rádio Renascença, emissora católica
portuguesa. Na diocese da Guarda em 1976 numa igreja cedida a um coro para que
se entoassem canções da tradição popular portuguesa, o pároco decide acabar o evento
porque o coro cantou o “Canta camarada canta”, que afinal é tão só uma musica
do cancioneiro da Beira Baixa, e nada tem a ver com comunistas!
Hoje já estaria mais à vontade para
colar cartazes, do que no tempo em que vi numa janela um tipo “respeitável”
numa vila deste distrito com uma espingarda a dizer que já “vos f…os cornos
comunistas filhos da p…”!
Fico contente pelo muito que se
alterou, mas triste quando vejo que o discurso de hoje, mesmo de alguns que
andam de cravo na lapela é de um exercício
que alimenta a xenofobia e instiga o ódio contra gente que procura
Portugal para viver e trabalhar, e que sem eles muitos serviços se arriscam a
parar.
Lamentável num País que tem cinco
milhões de emigrantes espalhados pelo mundo. O racismo sempre foi formatado pela mentalidade colonial herdada do
Estado Novo, mas exacerbarem os ódios racistas, e começarem a aceitar-se como
vulgares as agressões é aviltante para com os valores de Abril e para os
fundamentos de uma sociedade solidária!
Numa recolha do século XIII no Koans
Zen para meditação comum: “dois monges discutiam sobre uma bandeira. Um dizia:
“A bandeira move-se”. O Outro dizia: “O vento move-se”. Um terceiro patriarca
passou por ali por acaso. E disse-lhes: Não a bandeira, nem o vento, é a mente
que se move”.
Fernando
Pereira
5/5/2024
O voto útil
Como se diz em gíria, este artigo
vai ser escrito a dois andamentos: um porque ainda não sei o resultado das
eleições, e outro porque quando souber já não alterarei uma vírgula ao que
escrevi.
Em
qualquer período eleitoral vem-me sempre à memória a máxima de Hegel, “nós
aprendemos com a história o que não aprendemos com a história”. Na realidade a cada ato eleitoral que vamos
tendo, e felizmente já ando nisto há quase cinquenta anos, os intervenientes
são diferentes, mas os lugares comuns são a cada ano piormente iguais.
Uma das
situações que sinceramente mais me irrita, e não é de agora, é o continuado
apelo ao voto útil por parte dos “leaders” dos partidos da alternância em
Portugal, o PS e o PSD, que perpetuam um sistema de representatividade
completamente desadequado da realidade do País de há décadas.
O “Voto
é a arma do povo”, foi o primeiro slogan para as eleições democráticas de 25 de
Abril de 1975, que elegeram a Assembleia Constituinte, que elaborou o texto
constitucional que legitimou o Estado democrático. Ao tempo votámos com
entusiasmo, e a obra final que se perpetua é boa, apesar de constantes
atropelos por parte de algumas forças que prefeririam uma “democracia
musculada” ao invés da democracia participada.
O voto
do cidadão tem que ser sempre útil, e urge que as pessoas sintam utilidade no
ato mais nobre da sua vida coletiva. Se a legislação prevalecente faz com que
mais de 700.000 votos dos cidadãos sejam para ser atirados para o “caixote do
lixo da história”, isso é outra coisa. Votar em consciência em determinados
territórios em Portugal, ou melhor na maioria dos concelhos do País é quase um
perder tempo, porque os escolhidos são sempre os mesmos partidos. Urge
modificar isso, e seria objetivamente excelente para combater efetivamente a
abstenção nos territórios de baixa densidade. Copiar o modelo alemão, e outros
na Europa, e fazer um círculo de compensação, o que daria maior visibilidade a
outros partidos, e não “aos que são mais do mesmo”. A experiência dos Açores é
um modelo replicável para o resto do País e assim os votos das pessoas que não
alinham com os partidos do poder deixam de ser “clandestinos”.
Quando
há quase 50 anos se fez a legislação eleitoral para o parlamento, ou para as
autarquias a dispersão populacional do País não era tão evidente e a
disparidade entre as regiões não sofriam de tanta assimetria. Hoje importa
alterar o estado das coisas para se poder acelerar modelos de desenvolvimento
nacionais e locais mais consentâneos com um futuro mais moderno.
Uma das
alterações fundamentais a fazer é no quadro das autarquias locais, onde a
presença dos presidentes de junta que não são eleitos pelos cidadãos que elegem
metade dos deputados municipais é um disparate consentido. Eu percebo a lógica
da criação das Assembleias Municipais, e que foi objetivamente o de dar voz e
alguma dignidade aos presidentes de junta de freguesia. A realidade é que a
A.M. hoje tem tudo menos dignidade democrática. Um candidato a deputado
municipal com um milhar de votos é preterido por um presidente de junta de
freguesia eleito por 120 votos, por exemplo. Urge acabar com este anacronismo,
que favorece o caciquismo, em que o representante de uma junta de freguesia,
dotada de autonomia financeira e administrativa, vai votar o orçamento e plano
de outra estrutura à qual não há ligação nenhuma em termos orgânicos.
O
modelo de copiar o figurino da Assembleia da Republica para a Assembleia
Municipal seria o desejável, em que o Presidente da Camara fosse o cabeça de
lista da estrutura política mais votada, e escolheria os seus vereadores sem se
cingir à lista que levou a votos. À AM seriam dados poderes maiores, incluindo
a possibilidade de destituir o executivo. As juntas de freguesia seriam agrupadas
numa estrutura do tipo Conselho Municipal, com poderes reforçado e que ficassem
entre o órgão de consulta e a obrigatoriedade de serem aceites certas
recomendações.
Julgo
que é um bom tema para debate, e aqui estão algumas imperfeiçoes da minha parte.
Gonçalo
Manuel Tavares foi recuperar um poema de Brecht: “Pois não seria mais fácil que
o governo dissolvesse o povo e elegesse outro”.
Já
gora, a única coisa útil em eleições é o voto!
Fernando Pereira
10/3/2024
"Felizmente, há luar"
Nelson Rodrigues é provavelmente
um dos nomes maiores da escrita brasileira do século XX. Truculento quanto
baste, polémico quase sempre, de direita assumido e democrata de corpo inteiro
deixou reflexões numa obra que foi recentemente reeditada em Portugal e que
merece leitura atenta.
“A
opinião deixou de ser um acto pessoal, uma posição solitária, um gesto de
orgulho e desafio. É o jornal, é o rádio, é a televisão, é o anúncio, é o
partido que pensa por nós. Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter
jamais ousado um raciocínio próprio. Há toda uma massa de frases feitas, de
sentimentos feitos, de ódios feitos.” Estas palavras de Nelson Rodrigues
tornaram-se um eco comum numa sociedade que seria “tendencialmente de
liberdade”.
Vivem-se
momentos nebulosos no quotidiano do país, embora não queira afirmar que se
chegou ao estado em que o imorredoiro João César Monteiro dizia: «A primeira
condição para se ser ministro da Cultura, neste país, é distinguir uma vaca de
um boi.»
Quando
se esperava serenidade no governo do País, o António Costa e o Marcelo Rebelo
de Sousa fizeram o que normalmente se diz juntar a fome com a vontade de comer.
Um porque queria o protagonismo e os rodriguinhos que sempre foram o quotidiano
do seu percurso pessoal e político, e o outro porque estava farto de não se
conseguir ver livre da teia que montou, e que poderia ser um obstáculo
perigosos para a sua mais que evidente vontade de candidatar a Belém.
Esta
demissão inesperada deixou os putativos candidatos a primeiro-ministro numa
situação e desorientação, pois as contas estavam a ser feitas a um ritmo lento.
Sairiam das eleições europeias as lideranças de pesos pesados, embora se saiba
que na prática a governação de alguma gente desta tenha mais resultados pesados
do que o peso que levavam.
O
combate político que se avizinha, que não é bem isso, será consequência de uma
luta nos aparelhos partidários e não de propostas concretas num País que não é
tão mau como a maioria dos portugueses o pinta, nem tão bom quanto os
governantes e responsáveis nos querem fazer crer.
Hoje
como ontem o Bloco Central de interesses continuará no seu afã de domesticar a
democracia, depois do Partido Socialista ter esvaziado uma esquerda que talvez
lhe venha a fazer falta quando chegar a hora das contas. O PSD no seu desnorte
quotidiano continua a fazer a figura de um elefante fechado numa loja de louça,
vendo uma extrema-direita trauliteira e nalguns casos niilista, repetindo um
discurso de moscambilhas com uma histeria que vai de encontro ao que as pessoas
querem ouvir, com grande apoio de uma comunicação social ávida de situações de
crime de faca e alguidar transportadas para o politiqueiro quotidiano.
Estamos
mal, estaremos pior, mas é da vida. Tenho pena que nos 50 do 25 as coisas
estejam assim, mas “pelo sonho é que vamos”, como dizia Sebastião da Gama.
Porque
estamos numa época festiva, não quero deixar de vos desejar Boas Festas, e
deixar esta do João César Monteiro em “Uma semana noutra cidade”: São 10 da
noite. Estou a escrever no Monte Carlo, onde só há homens. Precisava de apanhar
o Fernando para lhe cravar umas aguardentes. É meu desejo estar completamente
grosso por volta da meia-noite e com o espírito propenso à obscenidade. Se
arranjasse 100 paus ia às putas. Deve ser fabuloso ir às putas na noite de
Natal. Duvido é que haja alguém que esteja para me aturar a bebedeira por 100
paus.
"Não estamos em Itália, não há grappa alla ruta, não há comoções nocturnas
da Zé, não há nada. Nem sequer o direito ao vómito. Não há nada, mas ainda há
vida. Ainda estrebucho, minha senhora. Ainda digo merda e embarco no tudo ou
nada do amor. Ainda me jogo inteiro no real e no possível, no confronto entre o
que sou e o que podia ser. Ainda simpatizo (ao longe é certo) com as lutas
históricas do proletariado de todo o Mundo.”
Fernando Pereira
11/12/2023
Entre os muitos que ilustraram o
11 de Novembro de 1975 e os tempos seguintes foi o fotógrafo brasileiro
Sebastião Salgado.
É um
dos mais prestigiados fotógrafos de sempre, e disse de forma desassombrada que
“espero que a pessoa que entre nas minhas exposições não seja a mesma ao sair”.
Talvez
fazer uma exposição do que a lente de Sebastião Salgado focou nesses tempos
fosse um excelente contributo para que a grande maioria dos angolanos, afinal
já nascidos depois da almejada independência, vissem uma realidade de que se
terão limitado a ouvir falar, na lógica de “quem conta um conto acrescenta-lhe
um ponto”!
Foi uma enorme honra tê-lo no dealbar do País, em momentos irrepetíveis
do tempo em que se banalizava a morte com canções do tipo "Eu vou morrer
em Angola - com arma de guerra na mão - granada será meu caixão - enterro será
na patrulha.", e outras como “Vitória ou Morte-Venceremos”, “Estamos em
guerra e cada cidadão tem que sentir-se necessariamente um soldado”, ou as
frases que se foram sucedendo nos tempos da fase imberbe da então Republica
Popular de Angola: “O Povo é o MPLA, o MPLA é o Povo”, “A Luta Continua”, “ A
Vitória é Certa”, “Abaixo o Imperialismo”, “Abaixo o Tribalismo”, Abaixo o
Regionalismo”, Abaixo o Neocolonialismo”, “Honra ao povo Angolano”, ”Glória
Eterna aos nossos Heróis”,” Nós faremos de Angola a Pátria dos Trabalhadores e
a Revolução continuará a sua marcha triunfal ao lado dos povos que seguem o
mesmo caminho”, “Café de Angola, um gosto de liberdade”, “Os diamantes de
Angola são os mais brilhantes / estão ao serviço do povo na reconstrução
nacional”, “Sonangol/ Nosso petróleo onde é preciso”, “Vamos Purificar o
Partido para melhor recebermos os novos membros”…
“A OPA prepara-se para a defesa intransigente da pátria angolana contra os
ataques do imperialismo internacional e seus sequazes”, “Tudo pelo Povo”,” ODP-
Organização de Defesa Popular”, “Que importa que o inimigo acorde cedo, se as
FAPLA não dormem” “FAPLA, o braço armado do povo angolano”, “Angola é e será
por vontade própria trincheira firme da revolução em África”, “O que é
determinante para a unidade é a ideologia e não a geografia”, “Na edificação de
uma sociedade socialista a agricultura é a base, a indústria o factor
decisivo”, “Viva o Poder Popular”, “Somos independentes, seremos socialistas”,”
Antes Morrermos Todos que Deixar Passar o Inimigo”, “Estudar é um Dever
Revolucionário”, “Fieis ao Marxismo-Leninismo, estamos a construir uma Angola
socialista”, “ O Socialismo científico é o grande objectivo estratégico da
revolução angolana” “A Educação e cultura ao serviço do povo”, “Saude para
todos no ano 2000”…
“Por um Partido sólido, unido, disciplinado, avante com o movimento de
rectificação”, “Avante com o poder popular”, “O mais importante é resolver os
problemas do Povo”,” Mais quadros, melhor produção, melhor solução dos
problemas do povo”, ”De Cabinda ao Cunene, um só povo uma só nação”, “Abaixo os
Fantoches Lacaios do Imperialismo”, “Viva o Internacionalismo Proletário”, ”Ao
inimigo nem um palmo da nossa terra”…
Para além disso houve publicações
e cartazes que ilustravam esses tempos de bate e debate, nem sempre marcado
pela tolerância à diferença.
Porque é importante lembrar
alguns cartazes que marcaram esses anos fico-me por aqui saudando mais uma vez
uma das datas mais bonitas que assisti na minha vida de cidadão, a independência
de Angola a 11 de Novembro de 1975.
Gosto muito deste exemplo de uma
das melhores escritoras de língua portuguesa, Agustina Bessa-Luís in O Sermão
do Fogo "antes do meio século, meus amigos, ninguém tem história. A
história duma mulher galante, dum político, dum artista ou até dum homem comum
é, acima de tudo, a história da sua consciência, movida não só por circunstâncias,
mas também pela sua realidade como ente de memória, como testemunha. Aos quinze
anos tem-se um futuro, aos vinte e cinco um problema, aos quarenta uma
experiência; mas antes de meio século não se tem verdadeiramente uma
história.". Este exemplo para as pessoas
é bem mais adequado aos tempos para um País.
Vamos renovar Novembro tanta vez até conseguirmos o onze do onze sonhado.
Fernando Pereira 1/11/2023
“O
Novembro que Abril não merecia”
O título
deste artigo é de um livro recente do pinhelense António Avelãs Nunes,
professor catedrático da faculdade de direito da Universidade de Coimbra, homem
de grande probidade intelectual e cívica, resistente antifascista, perseguido e
preso pela PIDE que viu cerceado o seu percurso académico. Um livro
encomendável, porque não existe no restrito meio livreiro, e recomendável pela
excelência da reflexão, e da clareza da irrefutabilidade dos factos.
Há já uns
tempos que vão aparecendo referências a comemorar o 25 de Novembro de 1975,
desde dar nome a ruas, até fazerem-se homenagens a alguns dos que terão estado
na tal “golpaça” , com que muitos sonharam ser um novo 28 de Maio de 1926.
O presidente
da Camara de Lisboa no seu percurso para chegar a primeiro ministro nas
próximas legislativas, depois de varrer Montenegro para debaixo da carpete,
resolve de vez em quando fazer declarações que permitam a discussão publicada,
que imediatamente passa a pública, e que façam esquecer os problemas que ele
não resolve na cidade capital.
Vamos por
partes. Na comemoração do 5 de Outubro de 1910 o Carlos Moedas, resolveu dizer
que Lisboa vai comemorar o 25 de Novembro de 1975. Já há muito que gente que
nunca percebeu muito bem o que foi o 25 do 11, que rejubilou quando ele afirmou
determinado o que iria fazer este ano, 48 anos depois. Será que 48 anos é um
número fétiche para o senhor Moedas?
O general
Ramalho Eanes, homem sério, e esse sim figura proeminente no 25 de Novembro tem
reafirmado que é completamente desnecessário comemorar essa data que o
importante é o 25 de Abril de 1974, essa sim a data de todas as comemorações. O
25-11-1975 foi mais uma igual ao 28 de Setembro de 1974, 11 de Março de 1975,
sem relevância maior no essencial do espírito de Abril.
No Público
de 26 de Novembro de 2000, Adelino Gomes perguntava: Quem desencadeou o 25 de
Novembro? Quem deu ordem aos páras para ocuparem quatro bases aéreas? Otelo traiu
os seus homens ou evitou a Guerra Civil? O PCP de que lado(s) esteve? Até onde
chegavam as ligações aos MDLP? Quantos grupos funcionaram dentro do Grupo dos
Nove? Qual foi a mais decisiva: a Região Militar do Norte (MN) ou a Região
Militar de Lisboa (RML)?; o Posto Avançado da Amadora, comandado pelo então
tenente-coronel Ramalho Eanes, ou o Posto de Comando Principal, montado em
Belém, e onde ficaram o Presidente Costa Gomes e o comandante da RML e Conselheiro
da Revolução, Vasco Lourenço? Quantos 25 de Novembro houve naquele dia? O 25 de
Novembro existiu?
Talvez
esta comemoração seja boa para homenagear o General Costa Gomes, que como
Presidente da República, que fruto de paciência, ponderação e habilidade, que
muitos chamavam de indecisão, evitou que a guerra civil se iniciasse com as
nefastas consequências. Era um tempo em que o Presidente da República não
falava de tamanhos de decotes, subia a coqueiros ou andava montado em
tartarugas gigantes. Um homem que foi quase defenestrado da história política
portuguesa, e que na realidade foi decisivo quando foi necessário sê-lo. Talvez
o Moedas queira homenagear o Almirante Rosa Coutinho e Almada Contreiras, entre
outros valorosos homens de Abril que foram ao Alfeite evitar a saída dos
fuzileiros, para evitar uma escalada de violência de contornos ainda hoje
impossíveis de imaginar. Será bom homenagear o Major Melo Antunes, que no dia
seguinte ao 25 de Novembro de 1975 veio à RTP serenar as pessoas e dizer que a
democracia constrói-se com todos. Talvez seja altura de fazer uma evocação aos
capitães de Abril de 1974 que já
faleceram e homenagear os que estão entre nós. E que se evite que a comemoração
do 25 de Novembro de 1975 seja o revanchismo, não contra os poucos perdedores
nesse dia, mas contra muitos dos vencedores dessa data tão pouco explicada!
Na
“Casa do Moedas” a 5 de Outubro de 2023 pedia-se um pouco mais a um Presidente
da Camara de Lisboa que ainda deve andar com sabores trocados depois de tanto anel cardinalício beijado numas
Jornadas Mundiais da Juventude, de que não temos contas nem resultados! O
habitual!
Albert
Camus no Mito de Sísifo: “Um homem é mais homem pelas coisas que cala do que
pelas coisas que diz”!
Fernando Pereira
8/10/2023