NADA NOS SALVA DESTA
PORRA TRISTE
Fui buscar este título longo a um
desalentado Jorge de Sena, quando falava do País, no seu exílio californiano. Acho
que infelizmente temos que começar a fazer coro com ele porque o futuro não é
fiável.
Existem pessoas que sabem tudo.
Infelizmente é tudo que sabem. São os especialistas. Sabem quase tudo de
praticamente nada.
Esta introdução tem a ver com o muito
que o mundo está a ter ao nível da
“tudologia” comunicacional no quotidiano da cada vez mais depauperada
comunicação social, entregue ao patobravismo arrivista dos grupos económicos, e
ao crescente domínio das redes sociais, tuteladas por pessoas sem escrúpulos e
que se julgam capazes de implantar projectos políticos e modelos económicos que
nada tem de inovadores, porque redundam sempre na existência da segregação
social e económica entre cidadãos.
Sente-se que o ar começa a ser
irrespirável,e eis-nos indiferentes quando assistimos à banalização do horror
nas imagens que vemos entre umas garfadas, dois copos e umas gargalhadas,
achando que tudo aquilo é coisa que só acontece aos outros.
Conseguimos ser tu cá tu lá com o Putin,
Trump, Musk, Maduro, Netanyahu e outros, da mesma forma que dizemos no café, ou
no emprego que a vizinha do andar de cima comprou uns sapatos novos porque os
saltos que se ouvem são diferentes.
“Nada é mais desastroso do que
iniciar-se uma experiência social com gente imprópria”, diz uma personagem do
“Também o cisne morre” de Aldous Huxley.
Hoje estamos perante esse contexto, e
quando nos encontramos para conversar com os nossos pares e ímpares o que de
facto conseguimos é trazer para o diálogo pouco mais que os monólogos que nos
oferecem a “rádio, tvdisco e a cassete pirata”, desculpem as redes sociais!
Estamos literalmente prisioneiros da falta de graça que a maior parte das
coisas tem e as desgraças que se vão avolumando à nossa volta sem que
consigamos dar conta quão enleados estamos.
Nelson Rodrigues (1912-1980), um
excecional jornalista, escritor, dramaturgo, politicamente alinhado com a
direita, sem apoiar a ditadura brasileira, disse que “O ser humano é cego aos
próprios defeitos. Jamais um vilão se proclama vilão. Nem o idiota se diz
idiota”.
Hoje era para escrever outra coisa, mas
como os tempos são penumbrosos resolvi partilhar este magnífico texto do
historiador e economista italiano Carlo Cipolla, que condensa em cinco leis a
sua teoria da estupidez:
“1. Sempre se subestima o número de estúpidos em circulação.
2. A probabilidade de que uma pessoa seja estúpida é independente de sua
educação, riqueza, inteligência, etc.; ou seja, a estupidez se distribui
igualmente em todos os segmentos da população.
3. O estúpido causa dano a outras pessoas e a si mesmo, sem obter nenhum
benefício.
4. Eles são imprevisíveis. As pessoas NÃO estúpidas sempre subestimam o
poder danoso dos estúpidos.
5. Os estúpidos são mais perigosos que os bandidos e os malvados. Não há
nada mais perigoso que um estúpido com poder.”
Quando o governo ou o regime social que
produz a estupidez coletiva entra em colapso ou em crise, as pessoas podem se
libertar dela e da dor que começa a surgir pela contradição entre seus
pensamentos e seus atos (Bonhoeffer)
Sigo Mark Twain numa velha máxima
“Sempre que você se encontrar do lado da maioria é hora de parar e refletir”, e
tenho-o feito no meu quotidiano na politica, no desporto, na vivencia cultural
e até social.
Tempos maus, muito maus! Pelo menos desejo a quem me lê um bom ano 2025!
Fernando Pereira
13/01/2025