9 de dezembro de 2021

Futuro do lado de lá ! O Interior - 9/12/2021

 




Futuro do lado de lá !        

 

“Porque não vemos as coias como eles são: vemos as coisas como somos…”

Anaïs Nin

               

Não sei se a minha geração é a mais egoísta da história, mas estará indiscutivelmente entre as maiores!

A realidade demonstra que a nossa geração é a primeira na história da humanidade que vai legar aos nossos filhos uma situação pior do que a que nós vivemos, e a ironia triste de tudo isto é que a gente que sobrevem é a mais bem preparada de todas.

Esta constatação não é minha, tem sido um dado progressivamente adquirido um pouco num contexto global, havendo as naturais exceções que confirmam a regra! Na Europa e no mundo desenvolvido, e em grande parte do espaço de subdesenvolvimento assistimos a este fenómeno que nos deveria preocupar.

Em Portugal a geração que nos precedeu viveu momentos dolorosos como a guerra colonial, o recurso à emigração forçada e à limitação da liberdade individual e coletiva. Foi essa geração que lutou e conquistou a liberdade com o 25 de Abril de 1974. Ainda beneficiou de alguns direitos que conquistou, como a gratuidade dos serviços de saúde, uma escolaridade obrigatória para os seus filhos, direito ao voto, direitos cívicos e a uma reforma melhorada, mas irrelevante. Foi uma geração de sacrifício, que proporcionou à nossa uma situação que em circunstância alguma podemos legar aos nossos filhos.

Enquanto hoje fomos tendo um emprego para a vida, a única coisa que oferecemos aos que vem a seguir é a precaridade, salários menos compensadores e falta de perspetivas de ter uma reforma proporcional à qualidade das suas aptidões, indiscutivelmente melhores do que as da nossa geração.

Posso parecer pessimista ou catastrofista, mas de facto a pressão do capitalismo, a desregulação do trabalho e a cada vez maior distanciação da geração mais nova em relação à política e aos sindicatos, deixam-me assustado perante o quadro que se depara para o futuro.

Legámos uma sociedade de muito egoísmo, de excessiva falta de solidariedade em torno de valores com o receio que nos fossem tirados por outros algumas migalhas, que teriam sido importantes na construção de uma perene consciência coletiva.

A nossa classe média passou a média de classe porque olha sempre para o seu umbigo egoísta e desatento.

A nova geração não se revê, e faz muito bem, nos estereótipos com que a minha geração se entretém. Já não ligam ao “mascarar” uma parte significativa da ideologia do jacobinismo, do integralismo, do marxismo, do republicanismo, da social democracia e de muitos fenómenos políticos passadistas. Tem novas propostas e felizmente vamos vendo essa geração em manifestações com motivações de temas em que a nossa geração não pensou, mas que são importantes num futuro num mundo global.

Muitas propostas desta geração dos nossos filhos parecem-nos pueris, mas a preparação técnica e científica dá-lhes alavancas novas para as transformarem em dinâmicas interessantes, que  já não viverei o suficiente para ver na sua plenitude.

Felizmente esta geração que nós desconstruímos não adere à extrema-direita acéfala, como cada vez se interessa menos pelo envelhecimento das propostas dos partidos convencionais e algumas ideologias a precisarem de rever chavões e marketing fora de prazo.

“O passado é já bastante. Vamos passar ao futuro” Ary dos Santos

 

Fernando Pereira

6/12/2021

 

 

 

10 de novembro de 2021

Amarcelai-vos Senhor! / O Interior / Guarda /10-11-2011

 



Amarcelai-vos Senhor!

Quando recentemente faleceu Jorge Sampaio escrevi num qualquer lugar: “Antes dele poucos, depois dele nenhum”. Os acontecimentos mais recentes demonstram bem que de facto estamos perante um PR que faz as próprias marcas para saber como as ultrapassar.  Uma forma lúdica de fazer política!

A situação a que se chegou com o chumbo do orçamento foi um verdadeiro baile de tartufos, onde alguns dançavam, outros pediam para dançar e levavam tampa e o mestre de cerimónias ia colocando alguns empecilhos no coro. 

Percebo que o PS quisesse esta solução. Tem motivos de sobra para ficar contente com o desfecho que Marcelo Nuno foi cozinhando ao longo dos tempos. De uma cajadada, alguns barões e baronetes que se insinuam no “Palácio Praia”, ao Rato, viram-se livres de dois putativos candidatos à sucessão de António Costa. Fernando Medina que por inabilidade e alguma sobranceria perdeu Lisboa e Pedro Nuno Santos que defendia um entendimento com as forças à esquerda do PS, não deixando muito contentes os defensores do bloco central dos interesses. Nem terá sido necessária a previsível derrocada da TAP  para os herdeiros do  Barão de Quintela, os Marqueses de Viana, o Visconde de Monforte e o Marquês de Praia, casado com a filha e herdeira do Visconde de Monforte, afinal tudo gente do Palácio Praia, se desfazerem no mais bem colocado militante do PS quando chegasse a hora da decisão de verem António Costa pelas costas!

Os problemas do CDS e do PSD vem mesmo a calhar, e um certo cansaço das pessoas nas propostas do BE são os condimentos que António Costa e Marcelo Nuno edificaram para uma solução feita à medida. Às vezes a coisa não sai bem e sempre ouvi dizer que “cadelas apressadas parem cães cegos”. Vamos ver se o preço da bilha de gaz, os combustíveis, o fim das moratórias, o desemprego a subir não vão atrapalhar a solução amarcelizada!! 

Deixei o PCP de propósito para o fim. Sempre dei a cara pelo PCP ao longo de muitos anos, e se pontualmente discordo de algumas posições demarco-me naturalmente delas, sem tampouco colocar em causa o essencial das propostas para Portugal. Como não sou militante, não me obrigo à disciplina partidária e por isso fui sempre muito crítico da “geringonça”, não da legitimação do governo PS, nem da aprovação do primeiro orçamento, mas sempre achei que a “bota não batia com a perdigota” a partir do 2º orçamento do governo PS, e logo aí o PCP deveria ter votado contra, já que o “PS não cumpria”, segundo as palavras do SG do PCP. Jerónimo de Sousa, se de facto prestasse contas, como é habitual entre os comunistas, teria a obrigação de explicar o que diferencia este orçamento mau, dos anteriores, péssimos que viabilizou.  

Sinto muito, e a aposta em nova gente no PCP possa ser bom para evitar os descalabros anunciados, iguais aos que se verificaram nas três últimas eleições, onde o PS foi o unico beneficiado. 

Acho que o PCP sem perder princípios deve alargar a sua atividade política a outras áreas que emergiram na sociedade, e que não lhe merecem grande atenção.  Não se pode continuar a combater pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo, e nos pleitos eleitorais ser penalizado constantemente! Algo não está a correr bem! A culpa não vem de fora, é de dentro, mas repito é um problema que só é meu enquanto candidato da CDU e simpatizante do PCP, mas limito-me a opinar!

“Quando o machado entra na floresta as árvores disseram: -O cabo é dos nossos” Provérbio turco!


Fernando Pereira

7/11/2021


14 de agosto de 2021

“Existo, logo penso!” / O Interior / Guarda /12-8-2021

 


                                                               “Existo, logo penso!”

Aí temos as eleições autárquicas, este ano sem corrermos o risco de ver caravanas, febras, coiratos, vinho mau e prometimentos a esmo em espaços públicos.  Eu que até sou candidato estou safo de um conjunto de situações a que só forçosamente teria que anuir.

                Há nestas alturas uma situação que nos concelhos pequenos assume foros de autêntico escândalo, e tem a ver com a dispensa dos empregos de todos os “listados” dos partidos, ou forças de “independentes” no período da campanha eleitoral.

                Sempre defendi que os cidadãos devem participar ativamente na atividade política quotidiana, melhor deviam ser intervenientes continuados na gestão da coisa pública. O seu cada vez maior alheamento e a desconfiança para com os políticos têm levado ao paulatino degradar da democracia, e consequentemente ao aparecimento de pessoas cada vez menos qualificadas nos órgãos de decisão nas autarquias, nos serviços gerais e desconcentrados da administração central e nos órgãos de soberania legislativo. Uma coisa é a defesa da intervenção permanente dos cidadãos, outra é a obrigatoriedade de dispensa durante quinze dias de um conjunto de pessoas que estão nas listas, e que na totalidade do País são uns milhares.

                Há muitos anos que se pede que seja alterada a legislação, para que as pessoas não tirem estas “férias”, a coberto de uma campanha que a maioria não faz. Em concelhos pequenos, muita gente acaba por entregar a justificação de que é candidato ao empregador, e parte para um período de descanso, deixando muitas vezes os problemas para os colegas, já que é difícil substituir gente por quinze dias.  Se na administração publica esta situação causa embaraço, mas poucos se importam, já na atividade privada vai sobrecarregar os trabalhadores que ficam, e aumentar o pagamento de horas extraordinárias a gente que fica desmotivada e profundamente revoltada com uma situação que ninguém criou. Urge resolver isto pois quem anda na política deve fazê-lo por convicções e voluntaria-se para participar em eleições, desprecisando deste tipo de benefícios, que repito, são aviltantes para a economia local e nacional.

                Para que conste isto não é nada contra o sistema democrático ou contra as eleições. Isto é só e apenas uma forma de melhorar algumas regras que se tem revelado injustas, e que possibilitam muito oportunismo já que há gente que só é candidata por causa desses quinze dias e nem põe os pés nas campanhas. Como em tudo paga “o justo pelo pecador”.

                Quanto às listas de “independentes” que vão surgindo, só passaram a sê-lo quando os militantes dos partidos ou as direções concelhias, distritais ou nacionais não contaram com eles para os lugares que almejavam há uns tempos. Há exceções, mas a regra tem sido esta ao longo da vida democrática do País. A democracia partidária, faz-se com partidos, porque doutra forma deixaria de o ser, e teria que ter outro quadro legislativo que salvaguardasse o envolvimento de cidadãos como independentes. Assim é uma “salada russa” onde nem se consegue saber quem financia as tais listas de “independentes”, o que pretendem de facto e acima de tudo porque desconfiam dos partidos, ou melhor terão começado a desconfiar quando começaram a ser preteridos a favor de outrem. Continuo a dizer que nada tenho contra a participação das pessoas em listas de “independentes”, mas quero é que digam claramente que vão lá por qualquer razão de ordem pessoal, afagar egos e nunca pelo “amor á terra”, porque isso é mesmo a gargalhada geral no quotidiano da política!

                O título desta crónica “gamei-a” ao saudoso Eduardo Lourenço!                                                                              

Fernando Pereira 

8/08/2021

12 de maio de 2021

MAMAR A CABRA / O Interior/ 12-5-2021

 


MAMAR A CABRA

 

                No léxico político local tem surgido novas frases, e “mamar a cabra” tem sido uma das que quotidianamente vai sendo ouvida repetidamente.

                Esta frase retirada da verve popular é ilustrativa de determinadas situações. A filiação de um elemento num partido, e a consequente atribuição de um lugar de nomeação ou uma facilitação de entrada na administração pública, publicada ou autárquica passou a obrigar o individuo a uma devoção quase canina à estrutura fulanizada que lhe permitiu “ficar bem de vida”. Acrescentar a isso a política do pequeno favor, da gestãozinha da carreira interna e outras manigâncias já tão repetidas nos anos que levamos de democracia, limitando-nos a perpetuar os hábitos da “velha senhora”, fazendo desacreditar o sistema que temos.

                A título de exemplo, no tempo do corporativismo cabia ao ministro da educação a tarefa de nomear os contínuos em todas as escolas do País, hoje os auxiliares de acção educativa, algo que permitia todo um corrupio de gentes e bens perecíveis aos governadores civis, regedores, legionários de serviço, condes e baronetes locais, para encaixar o seu filho num lugar do “Estado” que embora mal pago, era para toda a vida!

                Voltando ao termo muito em voga de “mamar a cabra “, faz-me lembrar um pouco do que é a mexicanização da vida publica portuguesa com a nuance que aqui o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que dominou politicamente o México ininterruptamente de 1929 a 2000, é representado pelo PSD e PS que distribuem o Estado à sua maneira.

Pelos vistos “A Cabra” é uma entidade que surge da distribuição subjectiva dos lugares e atribuição de benesses à conta do erário e património publico, quando está determinada força política no poder.

O drama de tudo isto é que quando acaba a “fidelização” obrigatória, os acólitos de determinado grupo de status ficam indignados, e lançam-se numa campanha, às vezes a raiar o insulto, com a frase batida “enquanto mamou a cabra” …

                Henry Truman, um presidente dos EUA, por quem não nutro particular simpatia, e que empobreceu no seu curto período de presidência, tinha uma frase excelente sobre a política americana: “Se quer um amigo em Washington compre um cão”. É o normal nas fidelidades políticas por lá e um pouco por todo o lado. Convém lembrar que Truman recusou-se a ter empregada paga pelo Estado na Casa Branca, pagando ele próprio os vencimentos dos seus colaboradores de lides domésticas, assim como a luz e água da sua área residencial, já que dizia que “recebia ordenado suficiente para essas despesas, que eram as mesmas que teria em casa se não fosse presidente dos EUA”.

                Como se vê neste pequeno texto não há “Cabra” sem senão, por isso cá vamos aguardando serenamente os alinhamentos, as promessas, as manigâncias, as alianças espúrias e os trânsfugas das listas a sufrágio numas eleições autárquicas que julgo que em pouco irão alterar o mapa político de um País de muitos concelhos, muitas freguesias, muitos apeadeiros de caminho de ferro e pouca descentralização!!E já agora, algumas cabras!

Fernando Pereira   

9/05/2021

10 de março de 2021

Pleonasno / O Interior/ Guarda 10 -03-2021.

 


Pleonasno

 

                Um dos meus autores de referência é Albert Camus e no seu último livro de ficção publicado, “A Queda” de 1956, desenvolvia um diálogo embebido em doses de genebra entre bares e canais concêntricos de uma Amesterdão noite dentro, entre duas pessoas que foram tentando descobrir através de desvivências quotidianas onde podia chegar o estado de degradação do humano.

 A mordacidade e o humor do relato, que é uma das características recorrentes no ficcionismo Camuseano faz-nos evidenciar a ambiguidade das relações, que se vão criando e desenvolvendo  num quotidiano de competição promotora de um individualismo em crescendo, tão do agrado do estabelecido e sacrossanto mercado!

Voltando à “Queda” recolhi este texto que assenta com grande eficácia na hermenêutica do discurso político: “ Uma pessoa das minhas relações costuma dividir os humanos em três categorias: aqueles que preferem nada ter a esconder a verem-se forçados a mentir, aqueles que preferem mentir a não ter de esconder algo e por fim os que amam ao mesmo tempo a mentira e o segredo”.

Porque estamos num período entre eleições, julgo que neste ano pandemicamente eleiçoeiro não irão haver alterações significativas no mapa distributivo dos eleitos locais, salvo nos locais onde os eleitos  estão em fim de mandato, ou um ou outro acidente de percurso, mas que não vai alterar o status prevalecente no quadro politico do País, cada vez mais forrado com o veludo das cores do Bloco Central, de dois partidos que divergem no acessório e estão em sintonia no essencial e na distribuição dos favores, afinal a lógica de um determinado contexto político, que nunca me agradou muito.

Hoje os poucos motivos de discussão acabam por se reduzir às redes sociais, onde a chafurdice e a manipulação sórdida se confundem com poucas propostas sérias e muito menos discursos coerentes. Com cafés, tascas, bares encerrados associados ao teletrabalho em ritmo acelerado e distanciamento social inibidor de participação em festas, concertos ou funerais, entre outros eventos, tudo que pode ser motivo de controvérsia ou proliferação de cabalas limita muito qualquer trabalho de candidatura e fundamentalmente dificulta o trabalho das oposições!

Estamos numa fase perigosa, que é procurar saber quem está com quem nas eleições para as autarquias, e entra-se no período em que se politizam as questões pessoais e pessoalizam-se as questões políticas, fator redutor de uma democracia que se sonhou participada e de defesa coerente de valores tão importantes como a liberdade e a cidadania plena!

Os discursos de alguns políticos estão cheios de pleonasmos, o que faz deles os asnos de serviço e responsáveis maiores pelo aviltamento que certa gente faz da democracia.

Muitas vezes ao ver tanta promiscuidade transumante na política local, lembro-me de um provérbio romano: “Qui cum canibus concumbent cum pulicibus surgent.” (Quem se deita com cães acorda com pulgas)

 

Fernando Pereira

8/03/2021

16 de janeiro de 2021

A Birbantocracia está a instalar-se? /O Interior/ 15-01-2021.

 


A Birbantocracia está a instalar-se?

 

“Infalível, também, era o Doutor, aquele cavalheiro estimável, mas de aspeto lúgubre, que todos apenas conheciam por este nome: o Doutor. Sempre vestido de preto, sempre de luvas, amarelo como uma cidra, persistia na sua mudez taciturna; porém, continuava a escutar com uma atenção intensa, a testa franzida, piscando vivamente os olhos, como num profundo trabalho cerebral. Respeitador fervente das instituições, das personalidades oficiais, ninguém sabia ainda onde ele vivia, nem de que vivia: mas precipitava-se com tanta veneração (porque era homem de sociedade) a tomar as xícaras vazias das mãos das senhoras, dizia com tanta convicção, na sua voz cavernosa, «tem V. Exª carradas de razão»; que era geralmente considerado como um excelente moço.”

Este é só um delicioso detalhe, da farsa o “Conde de Abranhos” ,que Eça de Queiroz (1845-1900) fez sobre a sociedade do seu tempo.

O “Conde de Abranhos” era a personagem típica do carreirismo, “carneirismo” e bajulice no seu pior, e infelizmente acontecendo em várias latitudes e na vivência quotidiana de sociedades que não passam de ter este “status”.

O Conde de Abranhos estudou na Universidade de Coimbra, onde começou por denunciar um colega, o que lhe permitiu passar a usufruir favores dos seus superiores. Simultaneamente envolve-se com a “criada”, que fica grávida e imediatamente abandonada, e o rapaz recém-nascido completamente esquecido. Vai para Lisboa, trabalho no escritório do causídico Vaz Correia, que o guinda a redator chefe do Jornal “Bandeira Nacional”.

Percorrendo os corredores do poder, casa-se com a filha do Desembargador Amado, Virgínia de seu nome, o que lhe assegura de imediato 10 mil cruzados de renda, e fundamentalmente abre-lhe as portas de S. Bento (Assembleia Nacional de Portugal). É eleito deputado por Freixo de Espada à Cinta, onde faz discursos, vazios de conteúdo, sobre a reforma das instituições, a política colonial e o caminho-de-ferro do leste. Como os tempos não corriam a favor da sua linha política, não faz disso um problema, e passa-se com armas e bagagens para oposição que em troca o coloca como um “cinzento” Ministro da Marinha, lugar que ocupa como “estátua” durante dois anos, sem que alguém dê por ele.

Trouxe aqui o “Conde de Abranhos” porque ilustra o quotidiano do poder, dos títulos tantas vezes conseguidas à custa de coisa pouca ou coisa nenhuma, e da influência que certas criaturas tem nos corredores do mando sem que possuam qualquer tipo de competência, legitimidade académica e comprovada experiencia na gestão de qualquer coisa pública.

Fazem-se muitas vezes as cadeiras em função dos rabos de quem usa argumentos para se lá sentar, nem sempre os mais ortodoxos, e frequentemente a cadeira é feita para à medida de gente que se encostou a quem tenha força suficiente para os lá colocar. Temos que recuar ao império romano, que com toda a sua corrupção e nepotismo nas hierarquias do poder havia um cuidado muito especial para se escolherem os rabos dos cavalos que equipavam as quadrigas, por forma a não destabilizarem toda a carruagem nas lutas que se iam fazendo nos jogos, nas batalhas e no transporte de pessoas de elevada importância.

Bom Ano para todos e também para os muitos Abranhos que por aí andam!!

 

 

Fernando Pereira

10/01/2021

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