11 de janeiro de 2019

A manipular a gente não se entende! / o Interior / 10/1/2019





A manipular a gente não se entende

A 15 de Fevereiro de 1898, o couraçado USS Maine, da Marinha norte-americana, explodiu no porto de Havana(Cuba). Morreram 266 soldados. Hoje não se consegue perceber porque é que o Maine se afundou, mas pelo menos já se sabe que não foi colocada por uma mina colocada por um terrorista espanhol ! Ao tempo a opinião publica americana convenceu-se que a explosão tinha sido de facto provocada pelo espanhol.
                William Randolph Hearst, que inspirou Orson Wells no “Citizen Kane”, era um dos pioneiros do jornalismo cor-de-rosa ou sensacionalista, enviou umas semanas antes o seu desenhador mais famoso, para que mostrasse as “barbaridades “que ali se cometiam. A situação na ilha era tão normal que, quando chegou, o desenhador Frederic Remington enviou um telegrama a Hearst: “Está tudo calmo. Não há guerra. Quero regressar.” A resposta do magnata é famosa: “Forneça as ilustrações, que eu trato da guerra”.
                Hearst construiu através de uma imprensa pouco rigorosa e venal um império da comunicação social, um dos grandes conglomerados privados dos EUA, apesar da vida não lhe ter corrido bem depois do crash de 1929 e ter-se esquecido de uma verdade que ele vivificou: “ A opinião publica pode ser manipulada, desde que se lhe diga aquilo que ela quer ouvir”. Daí para a frente entrou em declínio apesar da família Hearst ainda hoje possuir nos EUA 15 diários, 38 semanários, perto de 200 revistas, 28 canais de TV, editoras e uma forte presença em sites e domínios da internet.
                O recente episódio protagonizado na TVI com a presença de uns protos nazis num programa de um dos canais mais manipuladores da comunicação social portuguesa já tem alguma coisa de extraordinário, que é o facto do apresentador Goucha, e o diretor de programas Azevedo aparecerem  tipo “virgens ofendidas”, a indignarem-se contra os que repudiaram a presença dessa gentalha, quase que dizendo que todos os que não querem ver fascistas na TV, onde me incluo, são castradores da liberdade de informação.
                Não é rigorosamente nada disso. O que está em causa é que essa gente, que já começa a sentir que há cada vez menos pessoas a indignarem-se por eles andarem por aí quando estiverem no poder tiram a liberdade de imprensa, a liberdade de opinião e impõem de forma coerciva a sua forma de usar e pensar. Eles são racistas, xenófobos, misóginos, violentos para além de defenderem políticas anti-imigrantes, algo que galvaniza muitos sectores da sociedade, apesar da verve cristã!
                As TVs privadas começam  vezes demais a perder o bom senso, e a forma continuada como fazem a manipulação da justiça por exemplo, é um dos atropelos a um estado democrático que se vai fragilizando, nos seus alicerces fundamentais.
                Os políticos que nos governam, e os que nos representam apresentam demasiadas fragilidades, o que assume alguma perigosidade num futuro próximo.
                Não basta a um político possuir certezas, é preciso mostrar que as tem ou fingir que as tem. O Poder não deve desculpar-se sob pena de se suicidar. A humildade nunca foi um método de governação e muito menos uma virtude política.
                Bom Ano de 2019!

Fernando Pereira
6/1/2019


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