12 de outubro de 2025

Apego à memória / O Interior / Guarda 8/10/2025

 

                    



Apego à memória

“Aprendemos com a história que não aprendemos com a história” foi uma frase legada por Hegel que se adapta bem aos tempos conturbados que vivemos.

                Nunca fui apoiante do Bloco de Esquerda embora tenha muitos amigos e ex-companheiros percurso por lá. Há um conjunto de propostas do BE que subescrevo sem hesitação, embora globalmente não concorde com a sua prática política quotidiana.

                A presença da Mariana Mortágua e dos outros ativistas portugueses merecem o meu aplauso, porque foram fazer o que não fui capaz, para denunciar o sionismo nazi dos governantes israelitas, que não podem ser confundidos com os israelitas, nem com os judeus, vítimas também deste verdeiro crime de guerra continuado. O Hamas é uma organização terrorista, inicialmente financiada pelo governo de Israel para dividir a OLP e a Autoridade palestiniana. Depois como acontece amiúde deixa de haver controle por parte dos “pais fundadores”!

                Fico entusiasmado com as manifestações e com a presença massiva da juventude, o que faz acreditar que afinal temos gente para o futuro e futuro com esta gente. Sempre defendi que qualquer manifestação de juventude, por mais discutível que seja o mote é sempre um espaço de vitalidade, de uma geração que não se conforma com o que lhe dão. É a razão da idade em oposição à instaladíssima idade da razão. Quando vemos esta gente, recuamos umas décadas em que fizemos o mesmo e apelando a propostas que mais tarde nós próprios admitimos serem absurdas. Mas no cinzentismo onde nos encontramos, esta gente dá-nos esperança, que afinal os tristes somos mesmo nós e a geração que nos governa.

                Não esqueçamos que Gandhi, Mandela, Ho-Chi-Min, Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e tantos que foram terroristas num determinado contexto da história. O que se revelou depois é que estavam do lado certo. Neste caso houve alguém que lembrou a epopeia do “Lusitânia Expresso”, onde até ia o General Ramalho Eanes e que simbolicamente queriam apenas mostrar ao mundo a forma como os dirigentes indonésios tratavam os timorenses. Na altura as críticas vieram dos mesmos sectores de hoje, embora com outros intervenientes, e a verdade é que Timor é hoje um País independente e chora os milhares de mortos assassinados por Suharto.

                Das autárquicas que se aproximam, julgo que não me engano que fica tudo mais ou menos na mesma, embora ache que nas autarquias onde tem que inevitavelmente haver mudanças por estarem autarcas condicionados ao fim do mandato, poderão haver algumas mudanças de partidos políticos nas cadeiras das presidências de Camaras e juntas!  O Chega irá ter uma relevante expressão, e talvez não seja mau de todo começarem a olhar para esse partido sem a altivez de que aquilo é um bando de maltrapilhas, tentando colá-lo ao pior e fechando-os numa bolha que vai crescendo cada vez mais à medida que se promove a sua marginalização continuada.  O Ventura sabe ao que vem, tem alguma comunicação social a promovê-lo e outra parte a tentar menorizá-lo de forma às vezes muito pouco inteligente, diga-se de passagem.

                O Chega é o resultado primeiro de ocupar um vazio ideológico que havia no espaço político português, e a organização reiterada e copiada da proliferação das igrejas evangélicas que enxameiam o País.

                Julgo que não vai ser muito significativa a sua expressão autárquica, mas a sua implantação é um facto, e Ventura e seus títeres tem que ser chamados às decisões, para quando as coisas correrem naturalmente mal, não atirem a responsabilidade para cima dos outros, ficando com a vantagem de terem estado de fora dos problemas e da sua resolução.

Mais vale haver saudosistas da ditadura em democracia que haver saudosistas da democracia na ditadura.

 

Fernando Pereira

5/10/2025

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