A manipular a gente não se entende
A 15 de Fevereiro de 1898, o
couraçado USS Maine, da Marinha norte-americana, explodiu no porto de
Havana(Cuba). Morreram 266 soldados. Hoje não se consegue perceber porque é que
o Maine se afundou, mas pelo menos já se sabe que não foi colocada por uma mina
colocada por um terrorista espanhol ! Ao tempo a opinião publica americana
convenceu-se que a explosão tinha sido de facto provocada pelo espanhol.
William
Randolph Hearst, que inspirou Orson Wells no “Citizen Kane”, era um dos pioneiros
do jornalismo cor-de-rosa ou sensacionalista, enviou umas semanas antes o seu
desenhador mais famoso, para que mostrasse as “barbaridades “que ali se
cometiam. A situação na ilha era tão normal que, quando chegou, o desenhador
Frederic Remington enviou um telegrama a Hearst: “Está tudo calmo. Não há
guerra. Quero regressar.” A resposta do magnata é famosa: “Forneça as
ilustrações, que eu trato da guerra”.
Hearst
construiu através de uma imprensa pouco rigorosa e venal um império da
comunicação social, um dos grandes conglomerados privados dos EUA, apesar da
vida não lhe ter corrido bem depois do crash de 1929 e ter-se esquecido de uma
verdade que ele vivificou: “ A opinião publica pode ser manipulada, desde que
se lhe diga aquilo que ela quer ouvir”. Daí para a frente entrou em declínio
apesar da família Hearst ainda hoje possuir nos EUA 15 diários, 38 semanários,
perto de 200 revistas, 28 canais de TV, editoras e uma forte presença em sites
e domínios da internet.
O
recente episódio protagonizado na TVI com a presença de uns protos nazis num
programa de um dos canais mais manipuladores da comunicação social portuguesa
já tem alguma coisa de extraordinário, que é o facto do apresentador Goucha, e
o diretor de programas Azevedo aparecerem tipo “virgens ofendidas”, a indignarem-se
contra os que repudiaram a presença dessa gentalha, quase que dizendo que todos
os que não querem ver fascistas na TV, onde me incluo, são castradores da
liberdade de informação.
Não é
rigorosamente nada disso. O que está em causa é que essa gente, que já começa a
sentir que há cada vez menos pessoas a indignarem-se por eles andarem por aí
quando estiverem no poder tiram a liberdade de imprensa, a liberdade de opinião
e impõem de forma coerciva a sua forma de usar e pensar. Eles são racistas,
xenófobos, misóginos, violentos para além de defenderem políticas
anti-imigrantes, algo que galvaniza muitos sectores da sociedade, apesar da
verve cristã!
As TVs
privadas começam vezes demais a perder o
bom senso, e a forma continuada como fazem a manipulação da justiça por exemplo,
é um dos atropelos a um estado democrático que se vai fragilizando, nos seus
alicerces fundamentais.
Os
políticos que nos governam, e os que nos representam apresentam demasiadas
fragilidades, o que assume alguma perigosidade num futuro próximo.
Não
basta a um político possuir certezas, é preciso mostrar que as tem ou fingir
que as tem. O Poder não deve desculpar-se sob pena de se suicidar. A humildade
nunca foi um método de governação e muito menos uma virtude política.
Bom Ano
de 2019!
Fernando Pereira
6/1/2019
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