NOVEMBRO SEMPRE
“O que faz uma nação grande não é
tanto os seus grandes homens, mas a estrutura dos seus inumeráveis medíocres”
Ortega e Gasset
Felizes fomos, os que pudemos
assistir ao nascimento da Republica Popular de Angola a 11 de Novembro de 1975.
A
maioria dos angolanos de hoje já não viveram esse dia, e para muitos essa data
é algo que já terá sido atirado para as calendas gregas do nosso imaginário
coletivo.
A
sociedade da informação, que hoje faz aparecer factos a uma velocidade vertiginosa,
é a mesma que enterra quase ao mesmo ritmo tudo que se foi passado num lapso de
tempo relativamente curto.
Por
tudo isto a extrema direita e tudo que lhe está associado como a xenofobia, o
racismo, a intolerância ideológica, e a construção de mitos em torno de fátuas
figuras, tem vindo a crescer a um ritmo avassalador demasiado por todo o mundo.
O fascínio pelos caudilhos que personificam este novo modelo de domínio
político é evidente, e as religiões através das suas múltiplas versões tem dado
um contributo ideológico de tomo para a edificação do novo status de poder
institucional.
Os
culpados de toda esta situação, que começa a fazer pairar enorme preocupação,
não se circunscreve às igrejas, à comunicação social manipulada ou à
participação cada vez maior dos grandes grupos económicos na política.
As razões de tudo isto deve-se
também aos que nas democracias “se deixam embalar em sossego”! A falta de
respostas à insegurança crescente nas metrópoles, a falta de emprego, o
“amiguismo” no aparelho de estado, a fraudulenta utilização do património
público, uma justiça timorata no julgamento de todos por igual, e alguma
desresponsabilização por parte dos governantes perante má gestão da coisa
pública, são o pasto perfeito para que de uma forma paciente comecem a surgir
os focos de revolta, aproveitados na perfeição por gente que mais cedo que
tarde vai impor a sua “ordem e progresso”, para não termos que “nadar” muito.
“Os que condenam o passado estão
condenados a repeti-lo” (George Santayana) e o que vamos assistindo nestes 43
anos da “dipanda” é que cada vez vemos mais gente a repetir em vários locais
que no “tempo do colono é que era bom”! O medo pensa demais, e às vezes é
completamente inútil tentar demonstrar a quem viveu esses tempos que o colonialismo
era aviltante para qualquer cidadão angolano.
Com o argumento de que “hoje é
que se rouba”, “são uma cambada de corruptos”, “no tempo do colono não havia
fome”, “antigamente havia ordem e disciplina” e por aí fora vamos assistindo a
uma nostalgia de um tempo que a maioria não viveu, e que as circunstancias do
País dizimado pela guerra, com famílias divididas não conseguiu mostrar quão
duro foram os tempos coloniais para a grande maioria da população angolana.
Documentos como o certificado de
residência, cartão de trabalho, caderneta do indígena, cartão do assimilado, e
por aí fora foram mecanismos para legalmente separarem os angolanos que tinham
direito a bilhete de identidade, uma minoria, e os que não tinham.
Confesso que gosto pouco de andar
aqui com lembranças de coisas tristes, e que nesta fase já terão pouco
interesse estarem a ser desenterradas, mas tudo que vai acontecendo são sinais
preocupantes do que poderá acontecer no futuro, pois Angola importa tanto de
outras latitudes que não será descabido pensar, que poderá importar sistemas políticos
autocráticos travestidos de democracia plena.
Como diria José Gomes Ferreira,
“Tenho saudades de não poder inventar o futuro”.
Nada me entristece quando
comemoro um dos dias mais felizes da minha vida, que foi esse longínquo, mas
presente 11 de Novembro de 1975! Também terá de ser mais um dia de festa para
os angolanos, porque a liberdade tem que ser um espaço coletivo!
Dizem alguns amigos que vem da
luta de libertação: “Não foi isto que combinámos”! Percebo a sua deceção, mas
também terão combinado a coisa num tempo de esperança e raras vezes a esperança
se materializa! Como dizia o saudoso Millor Fernandes, “Há duas coisas que
ninguém perdoa: as nossas vitórias e os nossos fracassos”.
Convém lembrar que o recentemente
falecido Gerald Bender, um dos que mais de perto acompanhou Angola nos últimos
cinquenta anos teve uma fase que foi premonitória e que de certa forma
condicionou o passado e espera-se que não seja presente no futuro: “MPLA never lost an opportuniy do lose an opportunity” (trad: O
MPLA nunca perdeu uma oportunidade de perder uma oportunidade)
Porque ainda vamos a tempo de
tudo e de combinar coisas novas e devolver as estrelas ao povo, partilho com
muitos a mesma alegria de todos os anos neste sempre bom comemorar o Novembro
da esperança.
Fernando Pereira
8/11/2018
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