ENERGIA DE MAU PORTE.
Confesso que ando
significativamente apreensivo por quase tudo, principalmente porque o futuro
vai-se turvando com as mesmas nuvens que ensombraram o passado.
Não vou
“Ucranear” porque de certa forma tem sido feito até à exaustão, e só consigo
lembrar a frase simples de Juliette Greco: “A chuva ajuda todas as plantas a
crescer, mesmo as venenosas”. Lastimo que no fim de tudo isto, que não sei
quando será, e que repercussões sobrevirão, o povo ucraniano estará francamente
mal e a Ucrânia dilacerada com uma divida enorme de uma guerra posta e imposta
por interesses, que não são exatamente os seus.
A
solidariedade hoje é uma palavra que faz parte do cardápio dos média, e eles
não querem em circunstância alguma que haja assuntos mortos e rapidamente os
vemos mudar a agulha e transformar conflitos cobertos até à exaustão em guerras
esquecidas um pouco por todo o lado. Tem sido assim que nos servem o menu do
tipo agência de viagens do horror, eis-nos transportados para a Síria, Somália,
Líbia, Sérvia, Palestina, Myanmar, Congo, Tchetchénia e tanto lugar onde se
sobrevive e morre apenas, fruto de interesses obscuros, e sempre em nome da
liberdade!
Como
diz Mia Couto, “contra factos só há argumentos”.
Como
anda uma cruzada muito grande contra a exploração de lítio nas regiões onde
quase ninguém vive, e como vejo a contestação e a fundamentação da maior parte
de encarniçados defensores do ambiente e a reboque umas palavras de cátedra por
parte de autarcas, fica a pergunta: Como vamos resolver os problemas do
ambiente sem as baterias dos telemóveis, do armazenamento das centrais
fotovoltaicas, das centrais eólicas, dos carros elétricos e tantas outras
aplicações? Sabem, é que tudo isso é feito de lítio, e tem que se ir buscar
onde o há!
Eu não
sou contra a exploração de lítio, nem de qualquer outro minério que possa
trazer riqueza a zonas despovoadas e sem atividade económica sustentada. Sou a
favor desde que haja estudos de impacto ambientais sérios e independentes, e
que as entidades fiscalizem o trabalho das concessionárias de forma continuada
de forma a salvaguardar o viver dos cidadãos nos territórios onde essas
explorações irão inevitavelmente existir. A experiência não tem sido boa, daí
justificados receios das gentes, por isso tem que se adequar a legislação e a
punição de eventuais prevaricadores a uma intervenção maior por parte das
autarquias e autoridades do ambiente. Aí o lítio e outros minerais passarão a
ser uma mais-valia em territórios de baixa densidade e de parcos recursos
económicos.
Estamos
num período muito complicado, em que se fecharam as centrais a carvão e bem,
apesar de forma pouco prudente, e a fatura energética sobe porque as barragens
que iriam produzir eletricidade estão nos mínimos de segurança. Importa-se
matéria-prima fóssil a preços proibitivos que acabam por ter que ser
exageradamente altos, com reflexos no tecido produtivo do País, e poluentes o
suficiente para cada vez estarmos mais longe das metas traçadas para o controle
de emissões de carbono para a atmosfera.
Pode
parecer uma heresia, mas sou há muito defensor da energia do futuro, a nuclear.
É a energia mais limpa, mais barata e a mais segura. Há no mundo 451 em
funcionamento e há 58 em construção, para além de projetos de quase mais de
duas centenas. Até hoje houve problemas sérios em três centrais, todas por
motivos diferentes e só Chernobyl por razões de tontearia política foi a que
teve piores consequências.
Sei que muitos, dos poucos que me
leem estarão surpreendidos com estas afirmações que servirão, pelo menos, para
um debate de ontem, o futuro energético na região e a exploração dos recursos
existentes!
Temos
que nos deixar de meias verdades sobre estes e outros assuntos, porque como diz
um provérbio chinês, “meia verdade é sempre uma mentira inteira”.
Fernando Pereira
6/03/2022
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