Essa é que é Eça
A 16 de Agosto de 1900, morre em Paris,
o jornalista, escritor, jurista e diplomata português José Maria de Eça de
Queirós (1845-1900), natural da Póvoa de Varzim. Hoje aqui deixo um pensamento
seu que é um alerta continuado:"Todos nós hoje nos desabituamos, ou antes
nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar. É com
impressões fluídas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em
Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal
escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em Literatura o
livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos
fortemente encadeou—apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do
fumo escurecedor do charuto. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é
fulminante. Com que soberana facilidade declaramos—«Este é uma besta! Aquele é
um maroto!» Para proclamar—«É um génio!» ou «É um santo!» oferecemos uma
resistência mais considerada. Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a
macia luz dum céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos
bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a
auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado
de raios. Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no
dorso dos homens e das coisas. Não há ação individual ou coletiva,
personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar
rotundamente uma opinião bojuda E a opinião tem sempre, e apenas, por base
aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance
ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um
carácter: por um carácter avaliamos um povo." Eça de Queirós, in 'A
Correspondência de Fradique Mendes'
Bem, parte do artigo está feito! Obrigado
Eça de Queiroz!
Devo andar distraído, porque de há uns
tempos a esta parte não tenho dado conta de realizações de um “movimento pelo interior”,
que há pouco mais de um ano enchia as parangonas de órgãos de comunicação
social, tendo até a inefável Fátima Campos Ferreira feito um programa em que no
final vinha a velha frase batida, “Nada será como dantes a partir de agora”.
Este movimento volatilizou-se e alguns
dos seus proeminentes membros espalharam-se por outros lugares, deixando o
mesmo vazio que encontraram quando apareceram a dar a cara por este
envolvimento quase cívico!
No caso de alguns distritos do interior
perderam-se deputados, mas também não virá daí mal ao mundo, porque de facto
não são eleitos por um círculo, mas circulam mais nos bastidores dos partidos
que os trouxeram a concorrer pelos distritos “onde já não se passa nada”!
Vamos aqui a uns exemplos comezinhos.
Num País onde se fala na instalação do 5G para uma mais rápida velocidade da
internet, eu no interior aprofundado por certa gente ainda tenho a ADSL que cai
e levanta-se, para desespero do utilizador. É precisa no mínimo alguma fibra
para aguentar isto.
Com temperaturas mais baixas que o
litoral “desenvolvido” sou obrigado a gastar mais energia, ou a encontrar
soluções alternativas de aquecimento; O preço de tudo isso é igual ao de todo o
País. Haja igualdade no frio também!
Poderia fazer aqui um rol de situações
do tipo, mas as pessoas que são ouvidas na capital sabem do que se passa, e a
cada ciclo fica tudo rigorosamente pior pela letargia dos poderes públicos, que
pouco se importam com o interior, porque não dá votos, e por isso dou-lhes
alguma razão em desimportarem-se com a malta daqui!
Já foi tempo em que me exasperava e
desesperava por ver que tudo ficava mais na mesma, hoje limito-me a olhar com
maior serenidade a inevitabilidade que rodeiam as circunstancias do local onde
vivemos!
Vamos às castanhas que é tempo delas!
Fernando Pereira
10/11/2019
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