11 de janeiro de 2013

OS ADESIVOS / O INTERIOR / 10-1-2013





Raul Brandão (1867-1930),jornalista mediano, militar por obrigação e um talentoso e esquecido escritor português, conta que, durante o derradeiro ministério da monarquia portuguesa, João Chagas, um dos proeminentes da revolução que então se urdia lhe falara assim: « (…) . – Que me importa a província! Que me importa mesmo o Porto! A república fazemo-la depois pelo telégrafo»
O caudilho tinha toda a razão: triunfando a revolução em Lisboa, a República seria telegrafada para a província, para as ilhas e para as colónias.
Ainda hoje é cada vez mais assim e a realidade com que nos confrontamos é que poderemos daqui por uns anos estabelecer um cordão sanitário à volta de um território com cada vez menos gente, mais abandonado nas suas culturas tradicionais e sobretudo um adeus a um mundo rural que só poderemos ver no canal História ou num qualquer jogo de tipos esquisitos a atravessarem zonas inabitadas numa qualquer game box comprada numa FNAC numa cidade que se veja.
Sou do tempo em que FNAC era mesmo só ar condicionado e deu emprego a tanta gente num projeto coletivo que não fora a ganancia de uns poucos podia ser um modelo para muito do sector produtivo do País, num tempo em que os governos de Soares e Cavaco o começavam a desmantelar a soldo dos interesses dos “eurocratas”.
Mas já que veio à liça o 5 de Outubro de 1910 lembro que uma das palavras que rapidamente entrou para o léxico foi o “adesivo”.
O “adesivo” era nem mais nem menos que o politiqueiro, empresário, ou até clérigo que dava no dia 4 de Outubro vivas à monarquia, desfraldava a repressiva bandeira azul e branca, hoje clubisticamente falando um símbolo da liberdade, e no dia 6 de Outubro de 1910 eram os mais entusiastas da bandeira verde-rubra, e dos proeminentes seios da estátua da Republica.
Mudou o léxico, a palavra adesivo passou a designar outras coisas, substituída no tempo do fascismo pelo penetralho em oposição ao reviralho, que eram os do contra, e hoje é termo adaptado ao chato.
A verdade é que como observador pouco atento das realidades locais e nacionais vejo um cada vez maior entusiasmo adesivista nas vitórias dos que ambicionam alguma coisa e que podem dar algumas migalhas aos pombos que arribam às vezes sabe-se lá de onde.
Já que falei em eleições ou conclaves, e se não falei infere-se, tenho que me sentir incomodado quando o pessoal da Guarda se mobiliza com o lugar do Sancho, não o Pança que esse virá em Outubro, e despreocupa-se com realidades tão evidentes como a falta de desenvolvimento, a falta de linhas férreas, a falta de emprego e a desmoralização continuada das pessoas desmotivadas para um futuro coletivo que se desejou diferente.
Está na hora de voltarem os “Adesivos”, pelo menos que consigam ser hipoalérgicos.
Fernando Pereira 7/1/2013

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