Novembro de 1975, entre palavras e cartazes!
Entre os muitos que ilustraram o
11 de Novembro de 1975 e os tempos seguintes foi o fotógrafo brasileiro
Sebastião Salgado.
É um
dos mais prestigiados fotógrafos de sempre, e disse de forma desassombrada que
“espero que a pessoa que entre nas minhas exposições não seja a mesma ao sair”.
Talvez
fazer uma exposição do que a lente de Sebastião Salgado focou nesses tempos
fosse um excelente contributo para que a grande maioria dos angolanos, afinal
já nascidos depois da almejada independência, vissem uma realidade de que se
terão limitado a ouvir falar, na lógica de “quem conta um conto acrescenta-lhe
um ponto”!
Foi uma enorme honra tê-lo no dealbar do País, em momentos irrepetíveis
do tempo em que se banalizava a morte com canções do tipo "Eu vou morrer
em Angola - com arma de guerra na mão - granada será meu caixão - enterro será
na patrulha.", e outras como “Vitória ou Morte-Venceremos”, “Estamos em
guerra e cada cidadão tem que sentir-se necessariamente um soldado”, ou as
frases que se foram sucedendo nos tempos da fase imberbe da então Republica
Popular de Angola: “O Povo é o MPLA, o MPLA é o Povo”, “A Luta Continua”, “ A
Vitória é Certa”, “Abaixo o Imperialismo”, “Abaixo o Tribalismo”, Abaixo o
Regionalismo”, Abaixo o Neocolonialismo”, “Honra ao povo Angolano”, ”Glória
Eterna aos nossos Heróis”,” Nós faremos de Angola a Pátria dos Trabalhadores e
a Revolução continuará a sua marcha triunfal ao lado dos povos que seguem o
mesmo caminho”, “Café de Angola, um gosto de liberdade”, “Os diamantes de
Angola são os mais brilhantes / estão ao serviço do povo na reconstrução
nacional”, “Sonangol/ Nosso petróleo onde é preciso”, “Vamos Purificar o
Partido para melhor recebermos os novos membros”…
“A OPA prepara-se para a defesa intransigente da pátria angolana contra os
ataques do imperialismo internacional e seus sequazes”, “Tudo pelo Povo”,” ODP-
Organização de Defesa Popular”, “Que importa que o inimigo acorde cedo, se as
FAPLA não dormem” “FAPLA, o braço armado do povo angolano”, “Angola é e será
por vontade própria trincheira firme da revolução em África”, “O que é
determinante para a unidade é a ideologia e não a geografia”, “Na edificação de
uma sociedade socialista a agricultura é a base, a indústria o factor
decisivo”, “Viva o Poder Popular”, “Somos independentes, seremos socialistas”,”
Antes Morrermos Todos que Deixar Passar o Inimigo”, “Estudar é um Dever
Revolucionário”, “Fieis ao Marxismo-Leninismo, estamos a construir uma Angola
socialista”, “ O Socialismo científico é o grande objectivo estratégico da
revolução angolana” “A Educação e cultura ao serviço do povo”, “Saude para
todos no ano 2000”…
“Por um Partido sólido, unido, disciplinado, avante com o movimento de
rectificação”, “Avante com o poder popular”, “O mais importante é resolver os
problemas do Povo”,” Mais quadros, melhor produção, melhor solução dos
problemas do povo”, ”De Cabinda ao Cunene, um só povo uma só nação”, “Abaixo os
Fantoches Lacaios do Imperialismo”, “Viva o Internacionalismo Proletário”, ”Ao
inimigo nem um palmo da nossa terra”…
Para além disso houve publicações
e cartazes que ilustravam esses tempos de bate e debate, nem sempre marcado
pela tolerância à diferença.
Porque é importante lembrar
alguns cartazes que marcaram esses anos fico-me por aqui saudando mais uma vez
uma das datas mais bonitas que assisti na minha vida de cidadão, a independência
de Angola a 11 de Novembro de 1975.
Gosto muito deste exemplo de uma
das melhores escritoras de língua portuguesa, Agustina Bessa-Luís in O Sermão
do Fogo "antes do meio século, meus amigos, ninguém tem história. A
história duma mulher galante, dum político, dum artista ou até dum homem comum
é, acima de tudo, a história da sua consciência, movida não só por circunstâncias,
mas também pela sua realidade como ente de memória, como testemunha. Aos quinze
anos tem-se um futuro, aos vinte e cinco um problema, aos quarenta uma
experiência; mas antes de meio século não se tem verdadeiramente uma
história.". Este exemplo para as pessoas
é bem mais adequado aos tempos para um País.
Vamos renovar Novembro tanta vez até conseguirmos o onze do onze sonhado.
Fernando Pereira 1/11/2023
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