Apego à memória
“Aprendemos com a história que
não aprendemos com a história” foi uma frase legada por Hegel que se adapta bem
aos tempos conturbados que vivemos.
Nunca
fui apoiante do Bloco de Esquerda embora tenha muitos amigos e ex-companheiros
percurso por lá. Há um conjunto de propostas do BE que subescrevo sem
hesitação, embora globalmente não concorde com a sua prática política
quotidiana.
A
presença da Mariana Mortágua e dos outros ativistas portugueses merecem o meu
aplauso, porque foram fazer o que não fui capaz, para denunciar o sionismo nazi
dos governantes israelitas, que não podem ser confundidos com os israelitas,
nem com os judeus, vítimas também deste verdeiro crime de guerra continuado. O
Hamas é uma organização terrorista, inicialmente financiada pelo governo de
Israel para dividir a OLP e a Autoridade palestiniana. Depois como acontece
amiúde deixa de haver controle por parte dos “pais fundadores”!
Fico
entusiasmado com as manifestações e com a presença massiva da juventude, o que
faz acreditar que afinal temos gente para o futuro e futuro com esta gente.
Sempre defendi que qualquer manifestação de juventude, por mais discutível que
seja o mote é sempre um espaço de vitalidade, de uma geração que não se
conforma com o que lhe dão. É a razão da idade em oposição à instaladíssima
idade da razão. Quando vemos esta gente, recuamos umas décadas em que fizemos o
mesmo e apelando a propostas que mais tarde nós próprios admitimos serem
absurdas. Mas no cinzentismo onde nos encontramos, esta gente dá-nos esperança,
que afinal os tristes somos mesmo nós e a geração que nos governa.
Não
esqueçamos que Gandhi, Mandela, Ho-Chi-Min, Amílcar Cabral, Agostinho Neto,
Eduardo Mondlane e tantos que foram terroristas num determinado contexto da
história. O que se revelou depois é que estavam do lado certo. Neste caso houve
alguém que lembrou a epopeia do “Lusitânia Expresso”, onde até ia o General
Ramalho Eanes e que simbolicamente queriam apenas mostrar ao mundo a forma como
os dirigentes indonésios tratavam os timorenses. Na altura as críticas vieram
dos mesmos sectores de hoje, embora com outros intervenientes, e a verdade é
que Timor é hoje um País independente e chora os milhares de mortos
assassinados por Suharto.
Das
autárquicas que se aproximam, julgo que não me engano que fica tudo mais ou
menos na mesma, embora ache que nas autarquias onde tem que inevitavelmente
haver mudanças por estarem autarcas condicionados ao fim do mandato, poderão
haver algumas mudanças de partidos políticos nas cadeiras das presidências de
Camaras e juntas! O Chega irá ter uma
relevante expressão, e talvez não seja mau de todo começarem a olhar para esse
partido sem a altivez de que aquilo é um bando de maltrapilhas, tentando
colá-lo ao pior e fechando-os numa bolha que vai crescendo cada vez mais à
medida que se promove a sua marginalização continuada. O Ventura sabe ao que vem, tem alguma
comunicação social a promovê-lo e outra parte a tentar menorizá-lo de forma às
vezes muito pouco inteligente, diga-se de passagem.
O Chega
é o resultado primeiro de ocupar um vazio ideológico que havia no espaço
político português, e a organização reiterada e copiada da proliferação das
igrejas evangélicas que enxameiam o País.
Julgo
que não vai ser muito significativa a sua expressão autárquica, mas a sua
implantação é um facto, e Ventura e seus títeres tem que ser chamados às
decisões, para quando as coisas correrem naturalmente mal, não atirem a
responsabilidade para cima dos outros, ficando com a vantagem de terem estado
de fora dos problemas e da sua resolução.
Mais vale haver saudosistas da
ditadura em democracia que haver saudosistas da democracia na ditadura.
Fernando Pereira
5/10/2025